Após a partida do meu pai, muitas coisas mudaram, inclusive minha mãe. Meus irmãos, ainda pequenos, começaram a trilhar seus próprios caminhos, munidos do escasso conhecimento que possuíam, enquanto minha mãe gradualmente perdia o controle que antes exercia sobre nós. Eu sinto que, entre todos, fui aquela que teve mais sorte, mas ainda assim, me sinto prejudicada por tudo pelo que fui exposta.
Meus irmãos passaram a frequentar mais as ruas do que a nossa própria casa, acompanhados por companhias pouco agradáveis. Nossa mãe simplesmente não demonstrava preocupação, estava tão ocupada com a sua dor que não podia ver a nossa e, de alguma forma, tivemos que encontrar maneiras de seguir adiante com nossas vidas, ainda que por caminhos imprevisíveis.
As tentativas de suicídio da minha mãe passaram a ser recorrentes, eu temia que um dia não pudéssemos salvá-la a tempo. Meu pai carregava consigo o peso da culpa e, em busca de redenção, tentava se reconciliar com minha mãe, retornando para casa. No entanto, não havia mais amor, tornando a convivência entre eles dolorosa e desafiadora.
Todos os dias eu saía de casa para trabalhar sem saber se encontraria minha mãe quando voltasse. Meus irmãos viviam em constante angústia, o medo estampado em seus olhares, e eu, como irmã mais velha, me sentia tão perdida quanto eles. Isso não foi justo conosco e, embora eu compreenda completamente as dificuldades que meus pais enfrentaram na vida, também percebo que não deveriam ter nos exposto dessa maneira. Nos tornamos adultos marcados pelo trauma, permeados pela insegurança. Alguns se entregaram às drogas e ao álcool, buscando uma fuga para a dor, enquanto outros se renderam a relacionamentos abusivos, pois foi a única forma distorcida de amor que aprenderam ao longo da vida.
As escolhas ruins de nossos pais ecoam em nossas vidas, dia após dia, moldando nossas escolhas, seja elas sobre a escolha de parceiros ou na maneira como enfrentamos os desafios do cotidiano. A infância que nossos pais nos proporcionaram exerce uma influência profunda em nossas escolhas na vida adulta.
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Você não é mais uma menina
ChickLitPara todas as mulheres que, assim como eu, foram retiradas de sua infância e obrigadas a amadurecer, enfrentando desafios e encontrando força dentro de si para seguir em frente. Que vocês possam encontrar conforto e esperança na jornada desta histór...