01 | Never Grow Up

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Mia Welsh

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Mia Welsh

Eu sempre tive medo de crescer. Tipo, desde pequena mesmo. Os meus aniversários sempre acabavam comigo chorando descontroladamente e incansavelmente.

Isso pode ser um pouco de culpa da minha irmã mais velha que sempre falava que iria embora quando fizesse vinte e um e, obviamente, a cada aniversário que eu fazia chegava mais perto do dia dela ir.

Dito e feito! Quando eu tinha nove anos, Lia foi embora me deixando com a mamãe e, parcialmente, com o papai. Mas, porque só parcialmente?

Simples. O meu pai é um babaca que só aparece para dar problemas e hoje, justo hoje, na véspera do meu aniversário de quinze anos, ele decidiu dar as caras de novo.

Ele e a minha mãe discutiram o dia inteiro enquanto eu fiquei tocando guitarra tentando me distrair.

Como explicar o meu amor por guitarras? Eu sou obcecada por elas, desde sempre. Eu aprendi a tocar sozinha por meio de vídeos do YouTube e muita dedicação.

A minha guitarra era meio velho e acabado, pois a mamãe comprou em uma promoção da Amazon. No fim acabou que era uma cilada e a guitarra era toda estragadinha, mas mesmo assim ela é tudo para mim.

Eu toco em todas as oportunidades que eu tenho, e geralmente sou obrigado a tocar com fone, afinal, moro em um conjunto de apartamentos pequeno no meio do Queens e meus vizinhos todos tem mais de 60 anos ou são usuários de substâncias ilícitas.

A minha irmã saiu de casa porque ela queria fugir. Fugir do apartamento n°5, fugir da nossa família, fugir da bagunça de Nova York, fugir da realidade dela durante toda a infância e adolescência. Então, ela foi morar na praia. Só que do outro lado do país.

Ela manteve contato virtual comigo, porém fazem seis anos que eu não vejo a Lia pessoalmente.

Aparentemente, a minha mãe entrou no meu quarto em algum momento e eu não percebi. Ela deve ter falado comigo e ficou irritada com a falta de respostas e por isso arrancou os fones da minha orelha com tanta brutalidade.

— Ai, mãe! Doeu — Falo massageando as minhas orelhas.

— Eu to tentando falar com você a uns cinco minutos, Mia! Por Deus.

— O que aconteceu? Por que você ta tão agitada assim?

— Você precisa sair da cidade. O seu pai se meteu em umas coisas muito erradas e ta devendo para uns caras, eles tão te ameaçando, filha.

— Como é?

Ta, a minha vida aqui no Queens pode não ser a melhor e a mais desejável, mas eu não quero simplesmente me mudar sem mais nem menos.

Ainda mais por um problema que o meu pai causou. Mas, aparentemente, a minha vida que ta em jogo.

— Você vai ir morar com a Liz. É só até tudo se ajeitar de novo, eu prometo. Vai dar tudo certo, mas agora você precisa arrumar suas coisas. O seu vôo é em algumas horas.

Como a minha mãe conseguiu simplesmente jogar esse turbilhão de informações na minha cara sem mais nem menos e ficar tranquila?? Essa mulher é inacreditável.

Eu acho que inconscientemente fiz cara de choro, porque ela me abraçou forte e sussurou umas palavras de conforto para mim.

A minha mãe tem depressão, é muito, muito difícil lidar com ela. Mas, ela ainda é a minha mãe. E eu amo ela apesar de tudo.

Esse pode ter sido um dos motivos para a Lia sempre ter sido tão desesperada por ir embora. E, sinceramente quanto mais eu pensava sobre a minha família, mais motivos eu encontrava.

Mesmo assim, família é família. E é insubstituível.

Pelo que eu percebi, o meu pai tinha ido embora depois de ter causado problema, como sempre. E a minha mãe foi obrigada a limpar a bagunça dele.

O resto da tarde foi cheio de lágrimas (minhas), risos (da minha mãe) e arrumação de malas.

Como seria uma coisa passageira, eu não empacotei a minha vida inteira, mas pelo menos metade dela.

Eu não tinha muita coisa para chamar de minha que eu considero importante, então não foi tão difícil fazer as malas.

Eu, obviamente, levaria a minha amada guitarra e para isso precisei abrir mão de uma bagagem de mão. Então tudo iria na mala de despacho.

A gente terminou de arrumar tudo lá para as cinco e meia da tarde, então eu fui me preparar para ir embora de casa.

Eu vesti uma blusa da Taylor Swift oversized e uma calça moletom. Sempre fui fã da loira, desde que me conheço como eu mesma e isso, junto ao fato de ser guitarrista, molda a minha personalidade inteirinha.

Quando deu seis e meia, mamãe me chamou para podermos ir para o aeroporto.

Olhei em volta pelo meu quarto uma última vez. Vi as marcas de tinta e giz na parede, as marcações de altura para acompanhar crescimento, as vezes que eu escrevi de estilete na parede, os milhares de pôsteres colados até no teto e até a pintura desbotada.

Como eu sentiria falta do meu cantinho.

Peguei a bolsa da minha guitarra e sai olhando para trás uma última vez. A minha mãe estava me esperando lá no carro com a bagagem então ao sair de casa uma última vez por um tempo, tranquei a porta.

O caminho até o aeroporto foi longo, não pela distância em si, mas sim pelo trânsito. O trajeto inteiro eu vi que os olhos da minha estavam completamente marejados.

Eu acho que já deu para perceber que as mulheres desse minha família choram bastante, não é?

Quando chegamos, tudo foi feito com muita pressa, estavamos atrasadas, muito atrasadas. Por causa do nosso atraso, eu não cheguei a ficar nem uma hora esperando para chegar o momento de entrar no avião e me despedir de Nova York.

A minha mãe me abraçou mais forte do que nunca antes mesmo e falou com um tom de voz que mais pareceu que ela estava tentando se convencer a acreditar nas próprias palavras.

— Vai ficar tudo bem, meu amor. Ninguém vai te machucar lá.

Ela me olhou de uma forma que estava memorizando os meus traços faciais para nunca esquecer. Isso não pode ser uma despedida para um tempo longe, não é?

— Eu te amo, mamãe

Com um último abraço e eu me despedi da minha mãe pelo que poderia ser cinco meses ou cinco anos.

E então, no avião, entre uma mulher grávida e eu idoso dormindo, assim que virou meia noite, eu comecei a chorar. Chorar muito.

A mulher ao meu lado me perguntou com um tom preocupado o que aconteceu e eu lhe respondi:

— É o meu aniversário.

ELECTRIC TOUCH, Walker ScobellOnde histórias criam vida. Descubra agora