Capítulo 10

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Narrador: Peter.

- Precisamos decidir o que fazer com aquela rata polar - ouvi a minha irmã Violeta falar, o que fez com que eu parasse o tal trajeto que eu fazia para atravessar o corredor.

Estava havendo uma pequena reunião familiar na sala do trono, uma coisa bem casualmente escondida, o que atraiu rapidamente a minha atenção e passei a espionar eles pela pequena brecha deixada pela porta entreaberta.

- Decida-se logo, papai! O que fazemos com ela? - persistiu Violeta, com a sua forma violenta de ser. A forma que esbravejava fazia com que seus longos cabelos lisos, com a tonalidade semelhante ao seu nome, balançarem com o vento. 

A sua inexplicável beleza era de tirar o fôlego de qualquer um, e ela sempre teve o que queria por isso. Quem, afinal, seria capaz de dizer “não” para esse rostinho lindo?  Suas bochechas coradas pelo estresse enquanto seus lindos lábios proferiam palavras obscenas só mostram o quanto isso foi uma má escolha.

- Já disse e volto a repetir, se fosse por mim, teríamos deixado ela lá na Península Polar desde o começo. Por que e pra quê mexer com algo que tá quieto? Afinal, uma hora ou outra, nem iríamos mais nos preocupar com ela. Nas situações que a mesma vivia lá, eu daria… - Ben parou, fazendo seus pequenos cálculos incabíveis, enquanto encarava um ponto fixo no teto e franziu a testa - 3 meses de vida.

Que nojento.

- Que horror! - gritou Annie, se sentindo ofendida pelas estipulações de Ben, como se elas fossem proferidas para ela - Deveriamos, apenas, deixá-la livre desse casamento arranjado. Há outras formas de resolver a guerra com o outro reino.

- É. Tipo com mais guerra - debochou Ley, quanto comia de forma grotesca uma maçã vermelha como vinho. Com o seu comentário, Annie o encarou, olhar esse que foi recebido com um sorriso sujo, com as bochechas estufadas de um alimento já mastigado.

De novo, que nojento.

- Calem-se! - foi a vez do meu querido papai esbravejar. No grito, ele se levantou de vez do trono em que estava sentado, obrigando a todos o olharem. Atordoados, logo os meus irmãos se viraram para ele - Já foi decidido, ela irá se casar e ponto final! Mesmo que não queira, mesmo que ela lute contra, ela precisa se casar com ele! Precisa!

- Que necessidade é essa, meu pai? Poderia ter escolhido uma de suas filhas ao invés dessa pobre coitada, por que tanta marcação? Qual é a razão de tanta persistência? - quis saber Violeta e, pela primeira vez em toda a história, ela fez uma pergunta inteligente.  

- A profecia proferida a séculos atrás me impede de substituí-la. Acredite se quiser, minha querida, como seria fácil se eu, simplesmente, casasse você ou sua irmã com ele, mas as atuais circunstâncias me impedem de fazer tal ato, tendo em vista que a segurança de todos está em risco.

- A segurança de todos? Está querendo nos dizer que as nossas vidas e a de todo o reino está dependendo do casamento dessa garota com um simples herdeiro? - questionou Ben, incrédulo. E, para ser sincero, eu também estaria, se estivesse no lugar dele.

- Do que se trata essa tal profecia, meu pai? - perguntou Annie, a única ali sensata, com suas faculdades mentais em considerada ordem.

- Foi concebida a muito tempo atrás, pela bisavó de sua mãe, a senhora Mahara Sharma…

Ela tinha uma doença onde seu sangue se transformava rapidamente em água. Os médicos logo foram atrás de algum antídoto, buscaram em plantas, animais, tudo que estava ao alcance. Mas, infelizmente, nada foi achado…

Porém, em mais um dia sem esperança, um dos médicos chegou a ela com uma flor rara, de aparência perigosa, achada no reino Baile do Tormento, mas que, pelo o que os pesquisadores haviam dito, serviria para a mantê-la forte e saudável por mais tempo. Já cheia de esperanças, Mahara Sharma logo tomou uma sopa daquela flor, e logo reparou nos efeitos que ela tinha. Deu o vigor que ela precisava para voltar a correr pelos campos e viver como antes da doença.

Mas logo isso foi descoberto pelo reino Baile do Tormento que não ficou nada feliz de saber que uma flor havia sido pega de um de seus campos sem a permissão deles. E assim, uma nova guerra começou e, enquanto isso, a senhora Sharma voltava a se sentir estranha.

Mesmo fortalecida, havia mudanças pelo seu corpo, seus cabelos, antes negros, se mostravam estar grisalhos, sua pele morena logo se empalideceu e seus olhos perderam a cor, deixando nada em seu lugar, apenas um vazio profundo e estonteante. Ela percebeu que havia mudado, sentindo, também, um peso estranho em seu peito, onde antes existia um coração.

Com o tempo, um novo acordo surgiu e seu pai, o rei Sharma da época, ofereceu a mão de sua filha para o herdeiro primogênito do reino Baile do Tormento, chamado Nikolai Asimov. Nesse casamento, foi concebido a eles três filhos, todos nasceram mortos e ninguém sabia o que causava ou provocava aquilo, até que, num maldito dia qualquer, uma feiticeira bateu na porta do castelo deles, dizendo que poderia ajudar a situação. Louco para ter um herdeiro, Nikolai aceitou a proposta sem pestanejar, sem consultar os contra, apenas visando os a favor, e assim se deu a profecia:

Se apenas no nascer do Sol aquilo rasteja
E no cair da noite aquilo começa a andar
Eu digo que essa esposa mereça
Mais um estímulo pra ficar
E dar vida aquilo que transpareça
Aquilo que um dia fizeram ela ficar

Mas se essa moça não ficar
Então o mundo condenará
E assim vai ficar
Para nunca mais voltar

Depois que o rei Sharma contou essa antiga, mas presente, história, meus irmãos logo se calaram, refletindo enquanto encaravam o chão.

- Então… - Ben logo se pronunciou - Ela deve mesmo se casar para acabar com essa guerra. 

Novamente, sorri ladino. O melhor de já ter tudo planejado, é que as coisas correm como se escorregasse na manteiga derretida e, como não havia mais nada para ver ou escutar ali, voltei para o meu caminho.

Já no outro lado do castelo, no jardim podado e colorido de sempre, enxerguei de longe Marie, que estava sentada em um dos seus bancos de mármore enquanto oferecia farelos de pão que, provavelmente, eram para ela, para os passarinhos.

- Demorei muito? - perguntei quando cheguei, fazendo com que ela virasse para mim e me olhasse com aqueles olhos indecifráveis. Lindos.

- O que acha? - ela franziu a testa, deixando para lá o pão e os passarinhos, que cantavam atrás de atrair a sua atenção. Sua pergunta não esperava uma resposta, mas mesmo assim pensei em uma.

- Acho que já demoramos tempo demais aqui.

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⏰ Última atualização: Apr 30 ⏰

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