Capítulo 04

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A espera era minuciosa e certamente desconcertante.

O pôr-do-sol que se estendia aos montes derramava e expandia suas cores pelos céus e terras, mesmo quando acontecia uma tempestade no estômago de cada um do palácio. “Quando eles vão chegar?” se perguntavam todos, de criados a membros da realeza, que agora se uniram como nunca haviam feito antes. Estavam desesperados por respostas as quais se tornavam mais e mais distantes de chegar.

O príncipe mais velho Ben, preocupado com a segurança dos civis, seus súditos, decidiu que seria aquele que iria recepcionar os visitantes de última hora. Logo se dirigiu para a frente das portas de entrada principal do castelo, completamente sozinho, aguardando a chegada de um dos inimigos mais aterrorizantes do Vale da Primavera.

Ele se sentia impotente e, como soldado, se via completamente em chamas. O inimigo estava prestes a entrar no seu espaço e aquilo o deixava atormentado com as possibilidades que não paravam de surgir na sua cabeça. Como se as informações não parassem de jorrar como uma cachoeira. Uma cachoeira de ideias preocupantes e sangrentas.

Aquele momento sozinho o estava deixando louco. Porém, ele não durou muito tempo.

- Ben! - chamou Peter, com seu persistente bom-humor - Está tão calado. Aposto que deve estar preocupado com o bem-estar de todos, como sempre faz - ele abriu um sorriso, buscando confortar o irmão - Mas… Tem certeza que quer recebê-los sozinho?

Peter, por mais que se esforçasse para ser presente e mostrar utilidade a família, acabava sendo sempre indesejado. Todos que deveriam o amar e respeitar o tratavam como um intruso, mesmo que ainda tolerante.

Mesmo assim, ele nunca deixou de se importar com eles. E foi isso que o levou até ali.

- Não enche, Peter - pediu Ben, já sentindo tédio. Com um suspiro cansado se aproximou do parapeito, debruçando-se sobre ele - Não é hora.

- Nunca é hora - retrucou -, mas você sabe que isso não causa nenhum efeito em mim. Sabe, também, que é perigoso ficar sozinho aqui quando se tem inimigos entrando no nosso território. Então por que ainda está aqui?

- Não lhe devo respostas - foi a resposta de Ben, buscando cortar logo aquele papo que, visivelmente, não chegaria a lugar algum - Saia e me deixe aqui.

Relutante em deixar o irmão, mesmo que ele ainda persistisse em não se abrir com ele, Peter se aproximou dele com um sorriso no rosto. Ele o admirava pelo soldado que havia se tornado e pelo príncipe que um dia vai se tornar.

- Suponho, então, que esteja preparado - disse, quebrando ainda mais o espaço que havia entre eles, colocando a mão sobre um dos ombros do irmão, que retesou com o toque - Está preparado, não é, irmão?

- JÁ DISSE PARA SAIR DAQUI! - explodiu Ben em resposta, se desvencilhando da mão amigável de Peter a segurando forte e a jogando para longe dele, como se ela fosse apenas uma folha que cairá sobre seu ombro.

Peter deixou sua maldita mão cair ao lado do seu corpo enquanto o seu irmão mais velho o olhava com fúria. Com sua postura altamente onipotente, ele se pôs de frente a Peter, que suava frio e sentia a sua garganta fechar cada vez mais.

 Agora, ele caia das nuvens em que ele pensava que estava.

Tão perto do céu, mas ainda assim tão longe de conseguir o que realmente queria.

- Você só atrapalha e incomoda - despejou Ben, sem sair muito do tom anterior - Por que acha que o rei te mandou para aquele exílio gelado, mesmo sabendo que poderia morrer, só para ir em busca aquela garota, hein?

Peter podia sentir as engrenagens da sua cabeça se juntar e funcionar em um ritmo acelerado. Antes mesmo de Ben continuar, ele já sabia a resposta.

- Porque você não faz falta! É completamente descartável - e, como se já não fosse o bastante, Ben arrancou mais uma parte do seu coração - Ninguém sabe o porquê de você ter nascido!

Coração de PrataOnde histórias criam vida. Descubra agora