Capítulo 07

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A penumbra da noite era habitual para Peter, que sempre a teve em grande estima e gostava de se aventurar nela como uma criança brinca com um brinquedo. Seu lugar favorito, naturalmente, era o jardim encantado da sua família que estava ali a anos, séculos, parcialmente intocado e lindo. Sua beleza era tanta que, consequentemente, encantava qualquer um que lhe visse, e ele fazia questão de flertar com a pessoa só para que ela ali fosse e ficasse para, em seguida, sorrateiramente, se apaixonar por ela e querer tê-la para si.

Peter já era do jardim como o jardim era dele. Mas, naquela noite, ele viu que não poderia ser o único para aquele lugar, que com sua beleza conquistou a causadora de tanta dor de cabeça no castelo que antes não acontecia nada.

Marie dormia descansada na grama ao lado do chafariz, que por vez ou outra respingava água por cima daquela figura tão pequena. Para não acordá-la, Peter caminhou lentamente até ficar ao seu lado e, quando isso aconteceu, se deitou ao seu lado, de costas para o chão, encarando o céu estrelado.

- Você causou uma baita confusão, hein, querida Polar - sussurrou ele para o nada, ou até mesmo para a garota que dormia ao seu lado, sem ter como saber que ele estava ali -  Meu pai está arrancando os cabelos para não te designar para uma punição severa pelos seus atos. Também está com medo que o outro reino não aceite mais o tratado de paz idiota…

Com pesar, Peter expirou o ar que havia em seus pulmões, sem saber como se comportar ou como se sentir em meio a essa situação. Depois de tudo que o pai fez a ele e aos seus irmãos, se torna difícil ele não querer que o pai pague pelo o que fez; mas essa punição que está por vir pode afetar também o seu amado reino, que pode vir a sofrer consequências severas. Consequências essas causadas por um motivo que eles não tinham nada envolvido, o culpado é somente o rei.

- Meu pai é um ganancioso desprezível - continuou ele para o nada - Quer essa aliança só para ter o controle do outro reino. Se você se casar com o primogênito, ele terá dois reinos nas suas mãos incontroláveis.

Peter estava desabafando com o vento que ele chamava de Marie enquanto a mesma o ouvia atentamente. Ela havia começado a fingir dormir quando ouvira, também, quando alguém se aproximou e a melhor forma que achou para se livrar da bronca foi fingir estar dormindo. Ela abriu um pouco os olhos, só o suficiente para ver uma lágrima escorrer pela bochecha de Peter, que continuou com os olhos no céu.

Naquele momento, mesmo calado, ela pode entender tudo o que ele sentia. Ele amava aquele povo que lhe deu tanto amor, o amor que ele nunca havia sentido por alguém da própria família.

De súbito, Peter se levantou e, sentado na grama, prendeu o cabelo em um coque antes de encarar Marie, que fechou os olhos completamente quando o viu se mexer.

- Você é a única salvação dele. E essa é a melhor parte. Não havia pessoa pior para ele usar como suporte - o som da sua risada veio como um vendaval de emoções. Ele realmente não sabia como se sentir.

Marie sentiu ele se aproximar e a colocar em seus braços, no estilo noiva, a carregando até o seu quarto. Quando ela sentiu suas costas tocarem no colchão, abriu um pequeno sorriso, sentindo seu corpo ser abraçado por aquela nuvem.

- Pena que você é uma péssima mentirosa. Tenha uma boa noite de sono, Marie - disse Peter antes de sair pela porta aristocrática daquele estupendo quarto.

Coração de PrataOnde histórias criam vida. Descubra agora