Capítulo 06

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Pressão.

Sua definição é simples se você puxar no dicionário, mas senti-la não é tão simples assim.

Um grande exemplo disso são as mãos escorregadias e suadas de Marie, um pingo de suor caindo no seu colo e um olhar perplexo apontado para o principal causador de tal estardalhaço.

O rei, por outro lado, permaneceu de pé ali, sorridente, após revelar algo tão ignorante ao ponto de fazer Peter se retorcer na cadeira de desconforto. No outro lado da mesa, outras pessoas assistiam aquele espetáculo da mesma forma que Peter. Talvez eles sejam os outros filhos do rei Richard Sharma, mas não moveram nenhum músculo que permita a fala até agora.

Em nenhum momento o rei Sharma mostrou estar arrependido ou sentir o mínimo de empatia com aquela nova versão de Marie, que não pensou duas vezes antes de se levantar, ainda com o olhar posto nele, e se virar rumo à porta de saída.

- Senhorita Durant - ela ouviu ele chamar, mas não parou nem um só segundo nem para olhar para trás - Marie Durant! - ele chamou mais uma vez, e ela reparou fúria naquela voz temerosa como um trovão. Mas, mesmo assim, não parou.

Isso só aconteceu quando os guardas se puseram à frente da porta, evitando a sua passagem. Com a testa franzida e com o seu pequeno monstrinho chamado ódio crescendo no seu interior, ela encarou ambos os guardas com um ar de soberania que ela havia acabado de descobrir.

- Saiam da minha frente - ordenou, sem vacilar nem só por uma vez a voz que, em comparação ao seu corpo agora frágil, se encontrava intacta - Agora! Andem!

- Eles não obedecem a você, senhorita - alertou o rei Sharma, que voltou com aquela voz idiotamente pomposa - Eles obedecem a mim e ao que eu quero. E, nesse momento, eu a quero aqui. Portanto, volte para o lugar de onde você não deveria ter saído.

- É isso que eu estou tentando fazer, vossa majestade - interrompeu ela, finalmente voltando o seu corpo para trás só para encarar o seu suposto inimigo - Voltar para a Península Polar, de onde eu nunca deveria ter saído. Você me trouxe aqui para o pior propósito que eu já pude presenciar - sorriu em meio a sua última fala, como se achasse aquilo tudo uma enorme piada - Suponho que você deve ter achado divertido acreditar que eu sou tão fácil assim. Achou que eu iria aceitar esse almofadinha de bom grado? Sinto muito, mas já vi guerreiros melhores.  

- Fique calada, sua imprestável!

- Deixe-a falar, vossa majestade - dessa vez, a voz que se ecoou pela sala foi a do primogênito príncipe, que decidiu se pronunciar em meio aquela bagunça - Deixe que ela coloque o que sente oralmente.

- Se quer saber o que sinto, eu falo, vossa alteza - e ela fez a sua reverência forçada, novamente - Sinto nojo disso aqui. Só de olhar na cara de vocês me dá arrepios. Agora posso ir?

- Se continuar assim, lhe colocarei na masmorra para dormir com os cadáveres - ameaçou o rei Sharma, que voltou a se sentar na cadeira com a testa latejando de irritação.

- Prefiro mil vezes lá do que aqui, com certeza. Já posso ir ou tá difícil?

A garota cruzou os braços, impenetrável. O rei, ainda irritado, para se livrar do desprazer de encarar a cara dela por todo esse jantar e evitar de lhe causar uma indigestão permitiu a sua saída. Assim que Marie cruzou a porta e se viu sozinha nos corredores, andou, ofegante, sem destino pelo palácio. Admirou os quadros que se penduravam pelas paredes, de vez em quando encontrava os guardas fazendo rondas pelo castelo, mas eles sempre passavam por ela sem lhe dirigir uma única palavra.

Não demorou muito para Marie encontrar uma parede de vidro que lhe mostrava o que havia lá fora: um jardim. Esse sendo mais privado do que ela encontrou na entrada, mas não deixava de ser lindo. A luz do luar tornava tudo ainda mais mágico e ela sentiu uma súbita vontade de ir até lá e se deliciar naquele mar de plantas e vagalumes.

Ela caminhou em direção a porta, forçou a maçaneta e abriu a entrada daquela coisa maravilhosa que se estendia à sua frente. Aquela era a sua oportunidade de respirar em meio a tanto alvoroço causado recentemente. E ela iria aproveitar cada segundo.

Coração de PrataOnde histórias criam vida. Descubra agora