Depois que alguém morre, pouco a pouco vamos nos esquecendo de detalhes sobre aquela pessoa. Quando percebemos, nem nos lembramos da voz de quem tanto nos marcou.
Aquela pessoa tão importante que se foi, de repente é só uma memória. De repente, é apenas uma memória distante. Importante, sempre, porém distante, com o tempo.
Mas esse esquecimento não ocorre apenas em relação aos entes queridos que partem. Isso ocorre de maneira geral, em nossa vida. Todas aquelas coisas que eram cruciais em nossa rotina, um dia deixam de ser e daqui uns anos, não nos lembraremos qual era a sensação. Daqui um tempo, nos esquecemos como era fazer tais coisas, nos esquecemos como era ter a presença daquela pessoa em nossas vidas. E se, depois de anos, quisermos retomar aqueles hábitos que remetem aos bons tempos, descobriremos que já não somos os mesmos e já não sentimos o mesmo ao fazer aquilo que um dia tanto amávamos.
E se depois de tantos anos, quisermos reinserir velhos amigos, velhos conhecidos em nossa vida, constataremos que eles já não são os mesmos de 10 anos atrás nem nossa conexão será igual. Pode até dar certo de novo, mas nunca mais será daquele jeito.
Nada nunca mais será o mesmo. Os bons tempos não irão voltar, não ressuscitaremos os bons tempos, não importa o que tentemos. Precisaremos viver este tempo, o hoje, tentando tirar o melhor do que pode nos oferecer. E teremos de encontrar aqui e agora o suficiente para uma vida satisfatória, pois o passado morreu, a medida que o hoje tornou-se ontem. Os mortos não voltam, ao menos não neste plano.
Mas, e o que acontece se o hoje não satisfaz? Se simplesmente nada mais der certo?
Bem, então, tudo o que resta são lembranças, cujos detalhes tornam-se cada vez mais distantes, diminuindo gradualmente o brilho e a magia de cada um daqueles momentos. E se tudo em que nos apegamos são as lembranças, um dia serão apenas imagens vagas, cuja essência quase perdemos.
E se tudo em que nos apegamos são as lembranças, um dia não teremos mais nada.
Se tudo em que nos apegamos são as lembranças, um dia é só o que seremos: uma lembrança para alguém que nos conheceu. Depois, nem isso.
Então, afinal o que é isso tudo sobre o que tanto divagamos? Não faço a mínima ideia. Invoco a Glória Pires e te respondo: "não sou capaz de opinar". É tudo complexo e requer reflexão. E mesmo refletindo, não há garantia de respostas. Um caminho importante é a fé, no entanto a fé também não nos oferece respostas prontas, apenas um caminho. E entre sensações, dúvidas e medos, nós continuamos aprendendo, coisas boas ou não. E mesmo se não sairmos do lugar, esse é um lugar aonde vamos. E se não nos mexermos, a falta de movimento é uma ação.
No fim é o que somos? Um pouco de tudo, um pouco de nada. É o que a vida é.
Que Deus tenha misericórdia de mim e eu possa encontrar um bom lugar, paz e descanso. Acima de tudo, que eu possa sentir -me satisfeito um dia, sobre quem eu sou e o que eu fiz de mim.
Espero que você também encontre isso.
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Palavras Não Bastam
Non-FictionTudo o que não é dito. O que sempre esteve guardado, a ponto de explodir. As palavras não bastam, no entanto hoje, estão ao meu dispor. E como um apreciador de música, dedicarei o título de cada capítulo a uma canção.