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Elin Pallas

   Meu corpo está anestesiado, as brechas da porta já desgastada e com algum vestígio do que se era um tom de verde são iluminadas pelos faróis de um carro. O barulho de vozes masculinas e passos pesados vão aumentando a medida que chegam mais perto da varanda.

O olhar de pânico e o empurrão silencioso da minha mãe, me faz sair no transe.

-Vá embora!- Ela me manda sair de forma inaudível.- E eu te amo.

Eu não queria obedecê-la, não dessa vez, mas eu não consegui ir de encontro a sua ordem. Levantei e corri para o quarto, não deu tempo de colocar o único para de chinelas que eu tinha. Lembro-me quando mamãe o trouxe. Fiquei tão feliz, por ela ter  conseguido. Tinha algum tempo que eu não tinha um par de chinelas. Também não me importava muito. Eu não saia do sítio então não me fazia tanta falta. Porém quando mamãe chegou em casa com esse par de chinelas cor de rosa que ela conseguiu no bazar por 5 reais, meu coração explodiu de alegria, difícil conter o sorriso durante dias, o melhor presente de muito tempo.

Coloquei a minha bolsa nas costas e encostei meus ouvidos na porta até então fechada do quarto. O som de discussão e coisas quebrando me assustaram.

-Não posso ter uma crise  agora, vamos Elin, respira- fico aguardando alguma coisa acontecer, mamãe aparecer e dizer que estava tudo bem como ela sempre faz. Mais o grito e um barulho muito forte foi o que veio antes de um curto silêncio.

-Mãe!!- Grito, antes de imediato tampar a minha boca com minhas mãos trêmulas.

-Tem mais alguém no quarto dessa vagabunda.

A porta é arrombada logo em seguida, a imagem  que vejo é de um homem, alto, magro, cheio de tatuagens. Sua barba era baixa e loira, seus olhos era de um tom tão negro e maus.

Tive pouco contato com homens em toda minha vida, além do meu pai e do zelador da escola, nunca conversei com nenhum outro, mamãe disse para ficar longe deles que eles machucam e nos ferem.

Um arrepio toma conta do meu corpo, vejo o corpo de mamãe estendida no chão, o terror toma conta do meu ser novamente, como no dia que meu pai estava também estendo no chão e eu paralisada não fiz nada.

- Olha o que eu encontrei aqui, que gatinha.- O homem cospe do chão e vai chegando mais perto de mim, automaticamente dou passos para trás, "homem mau" um pisca alerta na minha cabeça fica repetindo.

- O..o que o se..senhor fez com minha mamãe?

-Quer dizer que aquela vagabunda tinha uma filha tão bonitinha e não disse nada? poxa nem precisava a gente ter atirando nela se ela tivesse dado a pirralha como troca.- Disse o do fundo,

-Meu deus vo..cês... num acredito.!!

Encosto na janela e e no pircsr de olhos  passo por ela e pulo em cima dos abustos com espinhos, sinto os espinhos furarem meus pés descalços, mais a dor no meu coração amortece qualquer outra dor que eu esteja sentido no momento.

-Sua putinha, não corra que vai ser pior. - Escuto o homem bem atrás de mim, está tão escuro que é impossível dele me ver, mais ele continua a correr em minha direção. O barulho que estou fazendo está o atraindo.
Não conseguirei ir muito longe, eles são mais rápidos e maiores que eu. Parece que quanto mais eu corro eles estão mais perto.

Adentro no bosque. Quando eu era pequena meu pai me levava para passear e me mostrava incontáveis tipos de flores, eu conhecia alguns caminhos, porém tem mais de dez anos que não entro nessa floresta não sei se conseguirei chegar em algum lugar para pedir ajuda.

Não conseguirei ir muito longe com essas pernas defeituosas, mas continuo a correr agora em um ritmo menor. Meus pés queimando e meu corpo ardendo como se estivesse em chamas. Percebo minha camisa molhada devido as lágrimas que não pararam de brotar dos meus olhos desde de quando comecei a fugir.

Paro um momento na tentava inútil de tentar me localizar, mais não enxergo absolutamente nada a um palmo a minha frente, estou perdida, assustada e com dor. Encosto em uma das árvores  que consegui encontrar tateando em meio aos arbustos. Me encosto vou começo a mentalizar o que mamãe me ensinoo.

-um..dois...três...quatro..cin..cinco ..seis...sete...respira e solta.- Escuto passos correndo e vozes.- São eles.- sussurro baixinho. Um passa bem perto de mim, sinto o cheiro forte de cigarro e cachaça como o zelador da escola. Fecho meus olhos com tanta força, e me imagino invisível, meus dentes se batem em nervosismo. Não consigo respirar, meus pulmões doem. Não posso fazer barulho se não as chances que encontrar ajuda para minha mamãe estarão perdidas.

-Os passos se afastam, até que tudo na floresta que invadiam nossa propriedade até perder de vista ficam em silêncio novamente. Silêncio não, somente os sons dos insetos e corujas e me permito  chorar até minha garganta doer e nem conseguir mais abrir os olhos de tão inchados, já agachada me deito em posição fetal.
Estava úmido e frio, meu corpo não responde mais as minhas investidas. Minhas mãos estão esfoladas pelos galhos das árvores, me corpo treme, meus ouvido doem e me encolho o máximo possível.

Eu poderia morrer agora, ficaria tudo bem, estava tudo bem.

-Um Lugar para Pallas-Onde histórias criam vida. Descubra agora