Capítulo 0.1

93 14 1
                                    


Aaliyah

Alguma vez você já se perguntou se existe vida fora do planeta Terra? Já se questionou como seriam esses seres caso existissem? Do que se alimentariam? Qual seriam suas aparências?

A teoria da existência de outras Terras sempre foi algo consistente em qualquer que seja o local onde existam seres racionais. O simples pensar de que existam coisas mais poderosas que possam quebrar a estrutura, metodicamente construída por anos, desespera a alma das criaturas.

Por muitos anos me questionei se a submissão dos seres aos deuses se dava pelo desespero deles por ajuda, ou pelo medo e aflito que os assomava sempre que pensavam o que poderia acontecer caso nós nos revoltássemos. A visão que todos tem de nós é que somos os criadores dos pecados. Que as criaturas postas nas terras são reflexos nossos. Que suas almas perdidas e conflituosas na verdade foram algo que foi passado por nós a eles. Que toda a dependência aos pecados coexiste por causa de nós.

Mas será mesmo que foram os deuses que criaram os pecados? Será que fomos nós a nos aproveitarmos da paz instaurada para que pudéssemos ser melhores e superiores aos outros? Nós? Será que, realmente, fomos os culpados pela necessidade de se afogar nos prazeres físicos?

Como podem nos pedir ajuda e melhorias quando ao mesmo tempo eles espalham por aí como somos os culpados por tudo que acontece?

Somos os culpados por dar a eles uma terra com tudo que é necessário para que sobrevivam? Por dar a liberdade necessária para que vivessem da maneira que quisessem sobre a imensidão territorial que lhes fora concedida?

Não pode ser possível que ninguém se esforçara ao mínimo para pensar que ao mesmo que não podemos culpá-los por nossos feitos horrendos e devastadores, não podem nos culpar pela falha personalidade deles. O maior erro do ser é tentar achar culpados pelos seus próprios feitos; talvez seja por isso que todas as terras se afogam em desespero e morte.

Poderia ficar horas e horas em desvaneios sobre essas hipocrisias cometidas pelos seres habitantes das terras feitas por nós. Claro que seria imprudência e egoísmo levar o credito por algo que ocorreu por uma série de sistemas complexos, mas, realmente, temos a maior participação nesses acontecimentos. Entretanto, não serei hipócrita com vocês, a alma imortal e infinita também comete tantos pecados que temo não existirem humanos o bastante para que esses compitam conosco. O ego de quem sabe que é forte costuma ser cheio e extremamente fortalecido, o que leva a ações mal pensadas. Tão mal pensadas que o início de uma guerra poderia, facilmente, ocorrer.

- Aaliyah - desligo minha mente dos meus próprios desvaneios e encaro o rosto pálido de minha irmã - acho que há algo de errado com ele.

Franzo o cenho pela sua colocação e sinto meu interior se contrair.

Como seria possível ter algo de errado com ele e eu não sentir nada? O garoto é meu escolhido, eu saberia se algo errado estivesse lhe ocorrendo, não saberia?

- Como você sabe?

- Não sei ao certo. - Aadrya se aproxima e isso me possibilita escutar seu coração disparado - mas sinto que algo está errado.

Levo os dedos aos meus cabelos escuros e os passo entre os fios. Aqueles que me seguem, independente do meu desejo por vossas companhias ou não, estão em silêncio. Como se a atenção deles estivessem em outro local.

- Eles estão quietos.

- Os espíritos?

- Sim, estão todos quietos.

O rosto de Aadrya, um espelho do meu próprio, se contrai e vejo sua garganta oscilar.

- Talvez devêssemos ir até lá para conferir se está tudo certo. Não fará mal algum irmos. Concordo com a cabeça.

Corte de Luz e Sombra - Duologia Bourgogne Onde histórias criam vida. Descubra agora