Capítulo 0.3

53 7 2
                                    


- Isso é loucura, Aaliyah - Aadrya resmunga.

Os olhos cor de vinho observam a irmã com incredulidade.

- Eu sei. Mas não há outra explicação e nem outra coisa que possamos fazer.

Aaliyah queria muito que houvesse uma outra explicação, ou até mesmo outra solução, mas os espíritos passaram dias procurando respostas para o que tinha acontecido e a única coisa que fora encontrada era aquilo.

Os olhos prateados de Aaliyah brilhavam com em um tom azulado por conta do reflexo do brilho do portal aberto em sua frente. Ela e Aadrya, depois que entenderam o que estava acontecendo, foram à procura de algo que solidificasse as conclusões compartilhadas pelos espíritos. Aaliyah nunca, em toda a sua existência mortal, tinha visto um portal tão grande em terras mortais.

Uma coceira irritante se instalava embaixo da pele de Aaliyah sempre que ela idealizava o que aquilo poderia significar.

- Em que corte estamos? - Aadrya perguntou baixinho, voltando sua atenção para o portal que oscilava em todas as direções.

- Estival.

Aadrya ronronou.

- A corte do grão senhor bonitinho. Agora entendi o porquê desse lugar ser tão agradável - Aaliyah negou com a cabeça, inconformada. - O que aconteceria se atravessarmos o portal? Ele nos levaria para algum lugar?

Aaliyah olhou ao redor do buraco de minhoca e analisou a forma como a vegetação ao redor parecia fina, sensível. O portal estava tomando a energia das coisas ao redor. Se alimentando delas.

- Esse ai não levará nós, e nada que tenha matéria, para lugar nenhum.

Aadrya franziu o cenho e se agachou para pegar uma pedra. Ela se voltou para a boca do portal, o meio dele, onde parecia que um grande vazio olhava de volta para ela; e jogou a pedra com força para dentro dele. A pedra desapareceu por alguns instantes, mas segundos depois, o objeto foi cuspido em direção à Aadrya com a mesma força que ela havia utilizado para jogá-lo.

- Que merda - grunhiu, desviando do objeto.

Aaliyah desviou a atenção das plantas e lançou um olhar entediado para a irmã.

- Eu avisei.

Aadrya olhava para a pedra como se ela tivesse a ofendido.

- Desgraçadinha - sussurrou - Por que ela voltou? - Aadrya olhou para Aaliyah com os cenhos franzidos.

- Eu já te expliquei isso.

- Já?

- Como dizem nessa Terra: pelo Caldeirão. - Aaliyah resmungou.

Aadrya deu de ombros e circulou o portal.

- O que estamos procurando?

Aaliyah negou com a cabeça e se aproximou de um conjunto de flores azuis. Hortências, reconheceu. Aaliyah se agachou na frente delas e tirou uma do solo, observando as pétalas. A textura, normalmente grossa e enrugada do caule, parecia lisa e delicada demais; o movimento dos dedos de Aaliyah fez com que o caule começasse a esfarelar.

Com um movimento de mãos a flor desapareceu. Aaliyah se levantou e resmungou:

- Precisamos fechá-lo. Agora.

Aquilo chamou a atenção de Aadrya, que se aproximou para inspecionar a frente do portal novamente.

- Como?

Aaliyah negou, irritada.

- Você leu algum dos livros que mandei Cici te levar?

- Hãm... Não?

Corte de Luz e Sombra - Duologia Bourgogne Onde histórias criam vida. Descubra agora