Anos antesO farfalhar das cortinas e a respiração do pequeno bebê eram os únicos sons audíveis dentro do quarto.
O espaço amplo era composto por móveis de tons claros, o que deixava todo o local mais agradável e delicado. Pequenas estrelas azuis e violetas estavam pintadas no teto do quarto.
Tudo ali transmitia paz.
O pequeno pacotinho dentro do berço, envolto em uma coberta de um azul clarinho, dormia tranquilamente. Os fios negros de seus cabelos se encontravam despenteados e bagunçados. As bochechas gorduchas e rosadas oscilavam a cada sugada que o bebê dava na chupeta lilás.
Em um canto, afastado do berço, a silhueta pequena se apoiava na parede de cor bege. Ela esperava, pacientemente, o sinal para que assim pudesse executar sua função ali. Eram raras as vezes que ela ia pessoalmente fazer aquilo. Existiam seres que trabalhavam para tomarem situações como aqueles para si. Porém, aquele caso era diferente.
As vozes baixinhas ecoavam por todo o quarto, exaltando-se com a decoração do quarto e como tudo aquilo era entediante para elas.
Ninguém mais as ouvia, apenas ela. Àquilo havia sido um dos inúmeros dons que haviam sido ofercidos a ela quando ainda era um bebê.
Do lado de fora, a lua se encontrava em seu estado mais cheio, refletindo seu brilho por toda a extensão do Rio Sidra.
"Está na hora" uma das inúmeras vozes avisou, soando arrastada e sussurada.
A mulher de cabelos escuros, deu passadas curtas e silenciosas até o berço e se curvou para tocar a testa do bebê. Os dedos gélidos fizeram-no acordar quase que instantaneamente.
Os olhos azuis varreram o espaço e quando pousaram na figura a sua frente um brilho de diversão surgiu.
Quem diria que a senhora da morte estaria divertindo uma criança.
Arrastando os dedos de maneira preguiçosa pela testa de Nyx, Aaliyah sentiu aquela vibração incomum e sobrenatural tomar posse de si. O escolhido dos deuses pareceu gostar da carícia, pois soltou a chupeta de entre os labios e abriu um sorrisso com dois dentinhos pequenos.
- Olá, querido - um sorriso repuxou os lábios da senhora - Você é tão pequeno, sabia? E mesmo assim eu consigo ver o quão poderoso você é.
O bebê deu uma gargalhada gostosa de se ouvir, se divertindo com as palavras; como se entendesse alguma delas.
"Rápido, não temos muito tempo" uma das inúmeras vozes soou, essa mais envelhecida; impaciente.
Soltando um suspiro, os dedos pálidos se molharam de sangue azul. Uma marca de uma estrela de cinco pontas envolta por uma circunferência fora desenhada na testa do bebê, e logo as palavras sussuradas começaram a soar:
- Benedico tibi, electa deorum.
Sit regnum tuum pax, sapientia et scientia in abundanti.
Benedicant tibi domini paradisi et purgatorii.
Fiduciam intrepidus ne te rusticum faciat, et exaggerata fiducia intolerabilem te faciat.
Sit dux pulchre, et data bene uti potestas.
Orbe deorum grata, parve electa.Assim que a última palavra saiu dos lábios de Aaliyah, a porta fora aberta abruptamente.
O macho alto de olhos violetas e a mulher esguia de olhos azuis encararam a figura curvada sobre o berço e se alertaram imediatamente.
Uma densa névoa escura tomou parte do chão e se expandiu para cima, como tentáculos prontos para envolver a figura ameaçadora.
A cabeça se elevou e os dois olhos prateados encararam ambos os pais do bebê. Ela sentiu, e escutou as exclamações advindas das vozes; o choque que os percorreu.
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Corte de Luz e Sombra - Duologia Bourgogne
Fiksi Penggemar"- Seus olhos são de um prateado que nunca vi. Por que são assim? Aaliyah não havia decidido se achava Lucien um feérico curioso ou estupidamente intrometido. - Porque não sou como você. - O que é então? - Sua voz soava firme, diferentemente de qu...