pecado

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Império Russo, São Petesburgo. 1837.

Kate Bishop Pov.

O sol já se recolhia quando pus meus pés no quintal de minha casa, Yelena se despediu, com um beijo em minha testa. O céu estava em um tom dourado diferente, tudo me lembrava a russa. Mas a minha sensação de encanto passou assim que coloquei meus pés em casa, minha mãe iniciou seus berros assim que entrei:

-Está vendo o horário em que sua filha volta Derek?!

-Eleanor são cinco e meia. Kate, meu amor. Como foi na faculdade? Sua mãe me contou que saiu com Yelena.

-É por isso que ela me desrespeita! Passa a mão na cabeça dela a todo momento! Quando ela deveria estar atrás de um noivo, fica perambulando por São Petesburgo atracada com aquela astronomazinha que só sabe estragar filhas alheias! Se tornou uma vergonha para os Bishop.

-Gênia! Mamãe! Yelena é genial! Admiro muito mais mulheres como ela, as que ficam enfurnadas em casa julgando a todos como se tivessem Deus na barriga. Pensa que não sei como falou com ela?! Admiro muito mais a "astronomazinha" do que você! - Cuspi as palavras da forma mais ríspida que podia, no mesmo momento senti meu rosto arder. Foi um tapa.

-Eleanor! Eu não admito isso! Kate... Vá para o seu quarto, por favor. Eleanor volte aqui! - Eu nem notei quando meus olhos se encheram de lágrimas, subi as escadas, meu peito ardia, eu queria gritar.

Passei a tranca pela porta do quarto, me sentando na poltrona em uma tentativa falha de repreender a inquietude de minhas pernas, levando as mãos ao rosto que ainda formigava. Eu respirava fundo, tentando controlar a pressão em meu peito, morreria de angústia? E repentinamente os olhos verdes me vieram a mente...

"Morrer por ti era pouco.
Qualquer grego o fizera.
Viver é mais difícil —
É esta a minha oferta —

Morrer é nada, nem
Mais. Porém viver importa
Morte múltipla — sem
O Alívio de estar morta."

Eu morreria e viveria por ela.

As palavras fluíam de forma livre sob a tinta que usava para as escrever. A vela iluminava o quarto escuro, enxergar era pouco difícil naquela penumbra. Mas desde que voltei da Universidade, as palavras rodeavam minha cabeça como nunca. Mesmo com o estresse... As conversas com Yelena sempre instigavam o melhor de minha criatividade. Batidas na porta tiraram minha atenção do papel:

-Kate... Sei que está acordada... - A voz de meu irmão soou abafada pela madeira pesada, me levantei calmamente, girando a maçaneta para abrir a porta. Ele estava ali, de pijamas, com o cabelo bagunçado e os olhos fundos. - Oi... Soube que mamãe lhe bateu, ela e papai brigaram. Ele foi dormir no meu quarto.

-Foi apenas um tapa, não me importei tanto. Meu dia foi incrível para me deixar abalar por isso. Mas você parece ansioso, quer entrar?

-Por favor. Não falar com ninguém está me deixando de cabelos em pé... Voltou a escrever?

-Voltei. Ando inspirada, São Petesburgo me trouxe ares novos. - Deitei-me na cama pensando no verde que tanto me deixava em sensação de êxtase completo.

-São Petesburgo... Ou a astrônoma? - Ele se deitou de barriga para cima ao meu lado, esperando uma resposta com um sorriso um tanto convencido em seus lábios. - Pensa que não percebi o jeito que fica quando tagarela sobre como ela é inteligente e genial?

-Ela é magnífica... - Recostei minha cabeça no ombro do garoto, seu peito pareceu liberar uma lufada de ar junto de algo que lhe prendia. - Me sinto bem com ela.

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