beija-flor

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Palácio de Inverno, São Petesburgo. 1837. 2:20 AM

Yelena Belova Pov.

Definitivamente a minha noite favorita, entre tantas junto de Katherine. Eu repousava meu corpo ofegante entre as pernas da garota, minha cabeça deitada em seu ventre. Eu poderia morar ali recebendo o carinho que ela ofertava, os dedos longos se enroscavam em meus cabelos, enquanto em minha mente, seus suspiros eram eternizados:

-Não quero voltar pra casa... - Em um fio de voz, ela tomou minha atenção, fiz seu corpo de apoio para o meu queixo, um sorriso preguiçoso enfeitou seus lábios assim que nossos olhos se penderam um no outro. - Fugir parece uma boa solução.

-Fugir, Kate Bishop? Seríamos o que? Andarilhas?

-Eu adoraria. Acho que seria uma boa navegante na verdade. - Eu gargalhei subindo levemente meu corpo para encostar nossos lábios. Me deitando ao lado da mulher que tanto me enfeitiçava. - Como sabia desse lugar?

-Do quarto? Eu cresci no Palácio de Inverno junto de Antonia, vendo ela fugir com todos os seus amores para cá. Antes de Bucky, claro. Nossa adolescência foi um tanto quanto divertida. - Os olhos azuis se estreitaram para mim, de forma desconfiada. - Questione.

-Já trouxe alguém pra cá?

-Sendo sincera? Sim. Uma vez, mas eu fiquei muito constrangida e fingi estar convalescendo de dor. - A gargalhada rouca ecoou por todo o quarto, enquanto eu enrolava alguns dos fios negros pelos meus dedos.

-Eu queria te perguntar... O que acha? Do inferno?

-Não acredito em inferno.

-Não?

-Não... Eu e minha família somos ateus. Mas se alguém quiser comprovar a existência de um Deus, com fatos. Eu sou toda ouvidos. - Mais uma vez o brilho curioso em seus olhos, como toda vez ela fazia quando iríamos iniciar mais uma de nossas conversas interessantes.

-Mas... Se você acreditasse. Acha mesmo que ele nos condenaria?

-Por isso? Não. Acho que se um suposto Deus existir, ele teria mais pessoas de má índole para condenar, e situações mais preocupantes. Não uma mulher gentil, inteligente, dos olhos mais lindos que eu já vi. Teríamos o paraíso pra gente. Tanto na terra, quanto no céu.

-Só pra gente? - Seus dedos se enroscavam nos meus em uma dança quase ensaiada. Os olhos azuis encaravam o toque de forma tenra e cansada.

-Aceitaria dividir com alguns cachorros e talvez minha família, a sua.

-Acho que minha mãe não iria gostar da idéia de passar a eternidade ao seu lado. - A vergonha em sua voz era evidente. Eu já sabia que Eleanor Bishop não era a maior entusiasta sobre a minha pessoa, desde o dia em que ela me atendeu a porta. - Ela não gosta muito da sua presença. Acha que me torna mais rebelde e teimosa que o normal.

-Ela me culpa por coisas que são da sua própria natureza? - No momento em que ela apertou os olhos azuis para mim, me repreendendo, não pude conter a gargalhada. - Eleanor Bishop... Ela não me assusta. Passaria os dias da eternidade com ela.

-Os dias?

-Se as noites forem com você. Sim. Todos os dias. - Kate Bishop além de muito expressiva, tinha olhos que pareciam ter conexão direta com seus pensamentos. Era fácil os traduzir. Ela estava sem graça.

As bochechas coradas ajudavam a identificar isso. Admito. Mas os olhos de gato me encarando em comunhão do sorriso que ela insistia em prender. Katherine era poesia, não me contive em passar meus dedos pelo seu rosto, movimento esse fez ela se aninhar contra minha mão:

Tortured Poets DepartamentOnde histórias criam vida. Descubra agora