FATE

Cuide

Iná estava no hospital, ao lado de seu irmão, mesmo que ele insista que ela pode ir embora e deixar ele lá, enquanto Kelvin foi pra casa pegar roupas e comer.

Ela tem Ramiro deitado pertinho de si, um filme de animação fofo no notebook que ela levou para o preto não perder aula, e parece que o tempo não voou.

Agora ela é adulta, uma mulher e logo será médica.

Ramiro é ainda mais adulto, com seu apartamento alugado, sua faculdade, seu emprego e seu namorado.

E, no entanto, parece que eles ainda são jovens, pequenos até.

Quando chovia e Ramiro colocava um filme de princesa para eles assistirem, ele costumava deitar no colo dela e todas as vezes acabava dormindo e babando nela.

Mas agora Ramiro está acordado, embora ainda não assista ao filme, ele está ali, pertinho.

É um brilho diferente em seus olhos, algo... Mais.

Uma pitada de medo, talvez de antecipação, talvez de adrenalina, ou talvez Ramiro seja apenas muito burro.

Porque no dia de seu casamento, Iná foi a única a lhe dizer para não fazer isso, mas ele não a ouviu.

Na época, ele não tinha metade do brilho nos olhos que tem agora, é quase ofuscante.

E ela entende, porque viu o mesmo tom de amor nos olhos de Kelvin, tão brilhante, tão estelar, tão ofuscante.

Ela sabe agora que não é mais a única a cuidar de Ramiro, e nunca se sentiu tão honrada em compartilhar essa função.

Acrescentar outra pessoa à sua família.

Porque irmãs têm esse superpoder, elas sabem quando a pessoa certa cruza o caminho de seu irmão, e Kelvin é a pessoa mais certa que poderia ser.

Porque, se ela realmente pensar sobre isso, ficou muito claro que seu irmão era... Inevitavelmente fodido pelo amor toda vez que tentava.

Ela estava lá. Quando Sidney terminou com Ramiro antes mesmo de eles começarem a ser algo de fato, porque Ramiro não estava com os pés no chão.

Porque era muito fácil estar em outra cidade e segurar a mão de alguém de quem você diz gostar, onde ninguém o conhece e você provavelmente nunca mais os verá.

Ramiro, visto como um sonhador por querer ser mostrado em sua própria cidade, com o coração partido, ele entendia.

Porque Ramiro tinha estado lá.

E Iná? Ela nunca gostou de Sidney.

Na verdade, ela nunca gostou de ninguém com quem seu irmão tivesse estado, fosse homem ou mulher, antes do casamento e também depois, antes de se assumir e também depois.

Mas isso mudou.

—Eu gosto muito dele, o Kel é... Incrível, né? —A voz dela era muito suave, e mais parecia que ela estava lendo os pensamentos do irmão, e só de mencionar o loiro, Ramiro não pôde deixar de abrir um grande sorriso.

—É impossível não gostar dele... Ele é incrível. Amo tanto ele. Tanto.

Ramiro não se atreveria a esconder ou mentir para a irmã sobre isso, e ficou impressionado até mesmo com a facilidade com que Iná e Kelvin se deram bem, pois Iná costuma ser um pouco malcriada com seus parceiros.

—Nunca te vi tão feliz. Então, por que parece que cê tá repensando? — Porque irmãs sempre sabem.

—Não tô. Não, não é isso. Sei que ele é o amor da minha vida, entende? Você tem ideia de como é difícil olhar para alguém e saber que essa pessoa é o amor da sua vida???— Ramiro levantou-se do colo dela em um movimento dolorido, quase ofendido, ele precisava olhar nos olhos dela e precisava de alguém que ouvisse tudo o que ele tinha a dizer.