Mil Vezes.

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Naquela noite, Ramiro teve vontade de chorar, tão feliz que parecia irreal.

Pela primeira vez na vida, Ramiro não estava perdendo um pedaço de si mesmo, não havia nenhum vazio, nenhum buraco em seu coração.

Então, naquela noite, Ramiro teve vontade de chorar, aliviado.

Não há palavras que possam explicar o quanto a leveza pode ser assustadora, especialmente para alguém que estava acostumado ao caos e à confusão eterna, Ramiro não estava habituado à paz.

Por isso, teve vontade de chorar, e assim o fez. De felicidade. Deitado no peito de Kelvin, sentindo sua respiração lenta e calma, dormindo em paz, seu coração batendo em um ritmo só deles, de amor.

De repente, ele relembrou todos os momentos felizes e tristes e confusos  que viveram nos últimos meses.

A casa está quase pronta, eles estão esperando o contrato do apartamento terminar e o sofá chegar na nova casa, apenas mais alguns dias, boa parte das coisas já estão em caixas.

Normalmente, Ramiro não se permitiria ficar deitado ali.

De uma forma muito figurada, ele sentia medo de abrir as costas e baixar a guarda, talvez mais por si mesmo do que por todo o resto, aquela coisa de ser forte o tempo todo.

Mas não naquela noite. Ele pediu para se deitar no peito de Kelvin, pediu por cuidado, por abrigo. Ramiro tinha grandes planos e sua mente era uma selva silenciosa.

Sentia-se tão feliz agora. Tão seguro.

Toda a sua vida ele procurou por isso, por essa paz de espírito, essa tranquilidade, a sensação de que merecia isso, o que parece ainda mais louco.

Ele podia sentir o cheiro de Kelvin em cada centímetro de sua alma agora, podia sentir a respiração dele junto com a sua, para sempre eles eram um só e uma parte de Ramiro se sentia grata por isso, de joelhos e curvado ao amor, e a oração eterna que seria sempre composta de agradecimentos.

Kelvin é o amor de sua vida e ele sabe disso, ele sabe disso com cada centímetro de seu ser. Ramiro já havia feito isso antes, a coisa toda do "quer se casar comigo".

Não terminou bem. Agora, ele está pronto para fazer isso novamente, nunca tão assustado, mas nunca tão aliviado por estar fazendo isso com a pessoa certa.

Então ele chorou. De emoção, alívio, alegria, descanso.

Você já sentiu que está exatamente onde deveria estar?

Ele não, até aquele momento.

Com as mãos de Kelvin acariciando sua barba e cabelo e mesmo sem saber se o loiro estava dormindo ou se havia acordado, Ramiro respirou fundo e soltou o ar, em paz como nunca antes.

Levantou a mão apenas o suficiente para encontrar a do outro, entrelaçando seus dedos, depositando beijos em cada um deles.

— Tá tudo bem? Cê tá chorando. — Kelvin sussurrou, ele estava ficando preocupado, mas ao mesmo tempo, não. Eles compartilham esse sentimento, eles sabem. —Sonho ruim?

— Chorei porque percebi que isso é tudo que eu sempre quis. Ocê é tudo o que eu sempre quis.

Normalmente, Ramiro não diria coisas como essas, ele falaria baixo, não exporia seus sentimentos ou deixaria suas palavras fluírem como estavam fazendo, mas naquela noite Ramiro tomou várias decisões em silêncio, uma delas era nunca mais esconder sentimentos.

Mas Kelvin também o fez, pela primeira vez na vida, sentindo-se forte o suficiente para ser o abrigo, o apoio. Ramiro estava um pouco emocionado naquele dia, ele o abraçava o tempo todo, beijava seu rosto a cada cinco minutos e segurava Cacau como um bebê o dia inteiro... Ele achava que era por causa da pequena viagem que fariam em algumas horas, mas agora parecia ser outra coisa.

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