IV. Sinônimo de problema

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Suspeitava que seria apenas mais uma vítima de Heeseung, e teve a confirmação disso quando acordou na manhã seguinte e não o encontrou ao seu lado na cama. Sentou-se no colchão, encarando um ponto específico e se recordando do que havia acontecido.

Ficou levemente alterado pelo álcool e acabou transando com Lee Heeseung. Lembrar disso o fez esfregar as mãos no rosto, desacreditado com sua burrice de cair nos encantos dele. Jake se levantou para vestir suas peças de roupa espalhadas pelo chão do quarto e demorou para encontrar sua blusa, que estava debaixo da cadeira da cozinha.

O mais velho não estava em cômodo nenhum. Procurou e chamou por ele, mas não obteve nenhuma resposta. Ele era tão louco quanto o australiano, por deixar sua casa livre para ele, já que poderia pegar qualquer coisa e fugir, mas estava longe de ser assim.

Pegou o casaco pendurado no cabideiro e tateou os bolsos. Seu bloco-diário ainda estava ali, então não soube dizer se Heeseung havia lido e devolveu em seguida, ou se sequer lembrou da existência daquilo e de sua vontade de conhecer as palavras escritas.

Jake só sabia que estava frustrado, pois nem um bilhete ele deixou, avisando que sairia por qualquer motivo. Ele simplesmente foi embora. Aquilo o fez se sentir abandonado e odiava se sentir assim, pois já experimentou demais essa sensação, especialmente em sua casa. Algo pelo qual um garoto tão jovem não deveria passar.

Essa experiência o fez perceber que seus pais — em particular, sua mãe — não eram tão incríveis quanto ele achava que eram. Via-os como super-heróis da vida real quando era criança, mas essa ilusão esvaeceu conforme foi crescendo. Encarar a realidade com o passar dos anos foi muito triste.

Preferia ter continuado a ver seus pais, o mundo, a sociedade com os mesmos olhos. Porém, quando ele não estava escrevendo ou lendo e precisava enfrentar o mundo como ele era, percebia que nada era mil maravilhas como em sua mente, e ele também não era indestrutível como um protagonista de história de ação.

No fim do dia, continuava sendo apenas um garoto australiano que encontrava baratas e aranhas gigantes de vez em quando, era um fantasma dentro e fora de casa, tinha seus sonhos brutalmente assassinados por comentários que lhe causavam danos irreparáveis. Nada mudava.

A sensação do abandono lhe fez reviver novamente essas memórias que ele preferia manter enterradas, então achou melhor sair dali de uma vez. O frio lá fora não o impediu de ir até o Full Moon, que ainda não estava aberto, exceto pela porta que era permitida apenas para funcionários — mas a utilizava por influência de Heeseung, às vezes.

Ele adentrou o estabelecimento e encontrou um senhor com uma feição nada amigável, fazendo uma bagunça na sala que armazenava itens de limpeza. Ignorou os barulhos ocasionados pela queda de alguns objetos e agarrou uma vassoura, prestes a varrer o palco, quando deu de cara com Jake.

— Quem é você? — perguntou com a voz rouca, a mesma que chamava pelo guitarrista durante as conversas que tinha com ele — O que faz aqui?

Ele era meio corcunda, falava alto e firme e olhava para o australiano como se quisesse assassiná-lo por entrar em seu bar sem permissão, quando sua boina não cobria seus olhos.

— Estou procurando Lee Heeseung.

— Ele só vem aqui à noite, meu jovem.

— Não sabe onde ele pode estar?

— Não, e também não me interessa. — virou-se, começando a varrer o palco — Aquele miserável... me enche de dor de cabeça, mas pelo menos atrai clientes.

Ele começou a resmungar sozinho, como se o australiano nem estivesse ali. Isso o fez revirar os olhos e, mesmo que ainda estivesse bravo com o Lee, voltou a sentir pena dele e de Eunji por terem de suportar esse velhote rabugento e suas reclamações.

cartas e acordes • heejakeOnde histórias criam vida. Descubra agora