VI. A vítima e o vilão

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atenção: esse capítulo aborda temas sensíveis. caso se sinta desconfortável com assuntos relacionados a relacionamento abusivo e abuso sexual, por favor, não leia, ou leia com cuidado.

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Jake foi dormir pensando em tudo que aconteceu na última noite, desde o fato de Jay ter aproveitado seu intervalo para conversar com ele, ao invés de sair do bar e fazer qualquer outra coisa, até as coisas que Heeseung disse.

Nem sabia o motivo de ele ter surgido por lá e ter caçado encrenca, até porque eles não tinham nada sério e pararam de se ver há um tempo, quando o australiano decidiu parar de ser tão otário e se valorizar um pouco.

Não é bom em nenhum lugar, mas ter seu coração partido em um país estrangeiro parecia ser muito mais doloroso, especialmente porque estava sozinho, ou seja, ninguém o ajudaria a procurar os estilhaços de seu coração e amontoá-los novamente.

E, pelo visto, tudo estava tentando lhe alertar de que quebrar corações era o passatempo favorito de Heeseung, não podia se arriscar tanto assim. Também já tinha percebido que ele tinha certos problemas envolvendo controle de raiva, mas isso foi confirmado na noite passada.

Um arrepio atravessava seu corpo toda vez que imaginava o que poderia ter acontecido caso ele e Jay não tivessem entrado no bar às pressas. Ele parecia ser bom de briga, estava prestes a enfrentar Heeseung caso ele tentasse algo contra Jake, mas optou por fugir.

Se até mesmo Jay Park evitava se meter em conflito físico com Heeseung, por que Jake não deveria? Ele era um pouco menor e, apesar de o Lee ser mais magro, seus dedos quase sempre estavam machucados, com cortes cobertos por band-aids, mas ainda era possível ver as marcas avermelhadas ao redor, o que denunciava sua falta de misericórdia ao bater em alguém.

Ele não perguntou nada sobre as acusações feitas junto de diversas ofensas, mas não podia negar que ficou muito curioso, e só não mencionou aquilo outra vez porque não eram próximos, se conheciam muito recentemente. Parecia indelicado se meter tanto assim nos assuntos pessoais dele.

Contudo, a curiosidade estava lhe corroendo, então decidiu ignorar tudo que foi dito por Heeseung para voltar ao 2Dance na sexta-feira, apenas para ver Jay de novo e questionar, pois não fazia sentido ele ser chamado de babaca, quando foi uma das pessoas mais legais que conheceu desde que chegou na Coreia.

Talvez fosse um motivo insignificante, já que Heeseung se estressava com facilidade, o que o fazia ter intrigas com Deus e o mundo. Jake cogitou muitas hipóteses, mesmo sabendo que era incorreto, e deveria tentar fazer Jay confessar a verdade ao invés de ficar deduzindo o que não era da sua conta.

E claro, jamais deixava tudo isso passar batido, e anotava tudo em seu bloco-diário. Era uma forma de evitar — ou apenas adiar — seu enlouquecimento, já que ele só era bom em se expressar através da escrita, e se não usasse isso para botar para fora tudo que estava pensando e sentindo, certamente ocasionaria algo pior.

Jake guardava para si muito mais coisas do que realmente era capaz de suportar, e isso era perigoso. Era deprimente ter que desabafar tudo em um papel ou para as paredes durante as noites frias, mas ou era isso, ou ele se afundava em algo do qual não poderia sair sozinho. E ele estava.

[...]

Eram quase 21h de sexta-feira quando ele chegou no 2Dance, sabendo que era o mesmo horário do intervalo de Jay, pois não estava muito interessado na música, e sim no segredo que ele tinha com Heeseung. 

Era um pouco babaca da sua parte iniciar uma conversa para descobrir o que eles escondiam e ir embora em seguida, sem apoiar o trabalho do americano.

O mesmo demorou um instante para reconhecer seu rosto entre os diversos outros do recinto, mas não deixou de abrir um pequeno sorriso. Ele desceu do palco e foi em sua direção, mas não sentou na cadeira de imediato, e sim deu alguns tapinhas amigáveis no ombro do australiano.

cartas e acordes • heejakeOnde histórias criam vida. Descubra agora