VII. Super-herói da realidade

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Pela primeira vez dentre todas as em que dormiram juntos, Jake encontrou Heeseung ao seu lado na cama. Seu peito subia e descia devagar e seus cabelos vermelhos estavam levemente bagunçados, mas ele continuava impecável.

Chegava a ser ridículo como Heeseung era bonito até mesmo quando não fazia esforço algum, tipo quando estava dormindo. Cada detalhe de seu rosto foi cuidadosamente planejado e esculpido pelas mãos mais espertas do mundo. Não estava exagerando, bastava apenas um olhar e pronto, você caía de amores por Lee Heeseung.

Só percebeu que estava o encarando quando ele abriu os olhos e o encarou de volta. Aquilo durou alguns segundos até ele esfregar as mãos no rosto, e Jake se acomodou ao lado dele novamente. Estava tão frio que ele desejou ficar sob as cobertas pelo resto do dia.

— Você está aqui. — o menor quebrou o silêncio.

Disse o óbvio, mas ainda estava impressionado por não ter sido abandonado em mais uma manhã fria. A sensação de ter um peso a mais no colchão da cama era diferente.

— Estou.

Heeseung colocou a mão atrás da cabeça e o fitou com um semblante neutro, porém, na verdade, estava orgulhoso de si. 

— Aliás, me desculpa por todas as vezes em que fui embora sem avisar. — sua voz soava rouca de uma maneira atraente — É que...

Ele respirou fundo e encarou o nada. Planejava contar aquilo alguma outra hora, em um momento mais adequado. Tinha acabado de acordar, então ainda estava meio perdido demais para ter uma conversa profunda, mas era a oportunidade perfeita de se desculpar e se explicar.

— Eu tenho tanto medo de que as pessoas me abandonem, que abandono elas primeiro.

Embora Jake ainda estivesse encarando fixamente o rosto alheio, Heeseung não ousou retribuir porque sabia que, quando seus olhos se encontrassem, ele começaria a chorar de novo.

Jake não abandonava ninguém a menos que existisse um motivo plausível, até porque infelizmente conhecia essa sensação e não queria fazer ninguém a conhecer também. Mesmo que destruíssem sua alma, ele sempre estava ali para qualquer um que precisasse.

— Eu sabia que, se você conhecesse o Heeseung, e não o guitarrista do Full Moon, você não iria querer ficar, então eu tentei usar a agressividade e o sexo 'pra isso.

— Você não precisa oferecer seu corpo para me manter em sua vida. — Jake foi contagiado pela tristeza alheia, mas tentou consolá-lo.

— Eu precisava no meu último relacionamento. — retomou o assunto da noite anterior — Agora acho que transar vai resolver qualquer problema e dar um motivo para a pessoa ficar.

O garoto que Heeseung teve o desprazer de chamar de namorado fez um estrago em sua mente e ocasionou danos irreversíveis. Ele só se comportava daquele jeito porque foi forçado a isso, e nem sua versão mais jovem, nem ninguém merecia experimentar um relacionamento abusivo.

— Você tem motivos de sobra para ir embora. — voltou a dizer — Por que continua aqui?

O australiano segurou as mãos dele e fez um leve carinho com os polegares, olhando-o até ele fazer o mesmo. Quando finalmente fizeram contato visual, ele disse.

— Porque me importo com você.

O canto dos lábios do mais velho se arqueou em um sorriso que ele não conseguiu esconder. Aquelas cinco palavras mudaram muita coisa dentro dele, silenciaram a barulheira de sua cabeça, amenizaram a dor de seu coração, e ele se sentiu seguro o bastante para entrelaçar seus dedos aos do mais novo.

Era nítido que Heeseung não tinha nada além de sua guitarra, e ninguém além de Jake. Ele era solitário, carregava coisas demais para uma única pessoa conseguir aguentar, agia de uma forma que, no fundo, nem queria, apenas para se proteger. Se ninguém permaneceu na vida dele, Jake estava disposto a ser o primeiro.

cartas e acordes • heejakeOnde histórias criam vida. Descubra agora