V. A lua quer dizer alguma coisa

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Aparentemente, Jake tinha menos amor-próprio do que imaginava, pois aqueles encontros com Heeseung após as 23h tornaram-se frequentes, mesmo sabendo que não encontraria nada além de um espaço vazio ao seu lado na cama no dia seguinte.

Era sempre assim. Ele ia até a casa de Heeseung, eles transavam como dois amantes, o Lee ia embora, e no fim, agia como se nada tivesse acontecido quando o estrangeiro aparecia no bar outra vez. 

Apesar de conhecer como a história terminava, Jake não conseguia parar, como um maldito viciado nos toques do outro e em como ele lhe satisfazia. Como um bicho de estimação, retornava com o rabo abanando para pedir por mais daquilo que lhe era oferecido.

Sabia que era apenas mais um nome inserido na enorme lista de Heeseung, apenas mais um objeto de prazer para ele, o qual ele brincava bastante antes de descartar, porém, sempre reciclava. Ele sabia que Jake era imbecil o bastante para voltar todas as vezes.

Agora, além de ser assombrado pelas falas maldosas de sua mãe o tempo inteiro, também era pelos toques de Heeseung por cada centímetro de seu corpo. Ele tinha duas coisas para suportar antes de dormir e torcia para desaparecerem quando o sol nascesse, o que nunca acontecia.

Naquele dia, resolveu que faria diferente. Ele deixou a casa do guitarrista decidido a não aparecer no bar, assim como faria no dia seguinte, e no próximo, e no próximo. Pararia de frequentar completamente aquele local para evitar o rosto de Heeseung, pois sabia que não resistiria a ele, e assim preservaria o resquício quase inexistente de dignidade que ainda possuía.

Para chegar à sua própria casa, precisava fazer o caminho oposto, ou seja, passaria na frente do Full Moon. Tentou muito passar reto em passos ligeiros, porém a vontade de olhar para o lado foi mais forte. Como o esperado, o estabelecimento ainda não estava aberto, e ele parecia muito diferente durante o dia.

Forçou a visão para enxergar algo através dos vidros, mas chacoalhou a cabeça ao perceber que estava procurando quem não devia. Precisava superar seja lá o que tinha com Lee Heeseung e seguir em frente, até porque ficar sem sexo não lhe mataria. E ele tinha outra coisa com o que se preocupar em sua vida.

Praguejou-se por não ter seguido o conselho de Eunji. Ela estava certa quando disse que Heeseung é sinônimo de problema e se envolver com ele era a pior burrice que alguém poderia cometer. Jake precisava escutar mais o que as pessoas reais ao seu redor tinham a dizer, do que as vozes em sua cabeça, que lhe atormentavam a todos os instantes.

Era como se aqueles avisos fossem irrelevantes perto da forma como o guitarrista o fazia se sentir e gritar seu nome. Aquela foi uma sensação completamente inédita que ele adorou conhecer, mas sabia que não podia se permitir experimentar mais dela, pois ela não valia a sensação de abandono que vinha com o nascer do sol.

A quantidade de vezes que o nome de Heeseung foi escrito em seu bloco-diário era ridícula. Chegava a ser um pouco perturbador haver tantas anotações sobre as roupas que ele usava, as expressões que fazia. Jake capturava cada detalhe, não deixava passar nada.

Felizmente, o mais velho ainda não havia lido nada que estava escrito ali, além daquele pequeno parágrafo há semanas atrás, antes de dizer que o australiano era um poeta. Existia a possibilidade de ele ficar espantado ao ver que Jake anotava todas as informações que conseguia descobrir dele.

Apesar de querer seguir com seu plano de se afastar de Heeseung, não tinha coragem de arrancar aquelas páginas, então apenas ignorou cada uma para escrever coisas novas nas páginas em branco. Uma pena que Heeseung era seu único assunto. 

Então, ele decidiu que iria criar um novo, e isso aconteceu quando se lembrou das palavras de Jay, quando se esbarraram na rua. "Se tiver curiosidade, toco todas as quartas e sextas no bar 2Dance". Aquela era a oportunidade perfeita para conhecer pessoas novas.

cartas e acordes • heejakeOnde histórias criam vida. Descubra agora