Capítulo 11

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Alerta gatilho: tentativa de suicídio, crise de ansiedade, menções de abuso sexual.









Capítulo 11

"estivesse morto por
dentro"










Andrew não estava assustado.

Os gritos e palavras desconexas não eram o suficiente para assusta-lo, mas o suficiente para o deixar em estado de inércia.

Ele não fazia a mínima ideia do que fazer e como reagir. Desde que deitou no colchonete, não fechou o olho uma única vez. Não achava que Neil poderia ser um perigo — até porque o garoto era mais perigoso para si mesmo do que para qualquer outra pessoa —, só que não podia confiar.

Então de olhos bem abertos e sono o suficiente para sedar até o mais forte dos animais, Andrew viu e ouviu Neil adormecer, e entrar no mundo dos sonhos, ou pesadelos que parecia ser o mundo em que o ruivo estava.

Neil não gritava muito alto, mas o loiro sabia que em algum momento ele faria, e acordaria a casa inteira. Andrew precisava sair daquele quarto o quanto antes, mas seu corpo não o obedecia.

Josten se debatia sobre a cama, e por um momento o Minyard pensou que alguém estava o ferindo de verdade, porque os sons de dor que escapavam de sua boca eram genuínos. Tudo parecia tão irreal, e desconexo da realidade, aquele não parecia ser o Neil que tinha passado a tarde inteira com ele.

Andrew fechou os olhos, as lembranças do dia o atingindo em cheio, fazendo o loiro questionar como as coisas tinham desandado tão rápido.


********************


Horas antes.

Neil torceu o nariz, tossindo com a quantidade fumaça que tomava suas narinas.

Apesar de tudo, o cheiro era reconfortante e cheio de nostalgia. O lembrava sua mãe, o corpo carbonizado, o fogo quase atingindo seus pés, e a cortina de fumaça depois que as cinzas de Mary Wesninsk se espalharam por Los Angeles.


Andrew observava Neil como uma criança observa um animal em um zoológico. A mínima reação não passava despercebida pelos olhos dourados.

Os olhos azuis estavam vidrados, qualquer pessoa que observasse Neil pensaria que ele estava olhando para a pista de skate, mas o que ele verdadeiramente via era o esplendor da Califórnia, com suas praias tão azuis quanto seus olhos. A diferença era que o mar era um azul vivo, e os grandes orbes de Neil era um azul tempestuoso, o tipo que você sabe que nunca vai conseguir dobrar.

Neil Josten não podia ser dobrado.

Em outro dia qualquer, Andrew estaria ajudando a espalhar toda aquela fumaça e nicotina, mas ele estava servindo de babá, então a cada vez que alguém passava e lançava um olhar sugestivo ao órfão idiota, Andrew não podia evitar uma pontada de vontade e desejo de incendiar toda aquela praça.

— Encarando. — Neil balbuciou, nos segundos em que sua atenção vacilou ao ouvir um skatista caindo no chão igual uma jaca dura.

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