— Cândida, por que me escondeu o fato de minha madrasta estar voltando?! Sabe muito bem que não quero aquela parasita por perto.
— Senhora, por favor...– Pedia a mulher.
— Eu não dou de vestir a Laura para isto, vá para o seu quarto antes que eu perca a cabeça!!
À medida que Isabel desferia seus insultos acalorados, Cândida, normalmente firme e dedicada, encontrava-se vulnerável diante da tempestade de palavras. As lágrimas começaram a deslizar por seu rosto, uma expressão de dor e surpresa perante a intensidade da raiva de Isabel.
Gonçalo, ao lado de Laura, observava a cena com uma expressão inexpressiva, incapaz de intervir diante da erupção emocional que se desenrolava na cozinha. A apreensão marcava o rosto de Laura, que não conseguia compreender totalmente o motivo por trás da explosão de raiva de Isabel.
Isabel, por sua vez, mantinha sua postura desafiadora, mas um momento de hesitação atravessou sua expressão enquanto encarava Cândida em lágrimas. A tensão no ambiente tornou-se palpável, como se o peso das palavras proferidas reverberasse além do seu intento original.
A cozinha, antes um refúgio familiar, transformou-se em um campo de batalha emocional, onde as feridas antigas e as frustrações latentes emergiam à superfície. O silêncio que se seguiu às palavras cortantes de Isabel era preenchido apenas pelo soluçar de Cândida e a respiração pesada dos presentes, cada um lidando com as repercussões do conflito de maneiras distintas.
A moça dos cabelos castanho-avermelhado subiu as escadas com passos pesados, o semblante ainda carregado de raiva. Laura a seguia com uma expressão de preocupação, tentando entender o que havia desencadeado toda aquela explosão emocional.
Enquanto isso, Gonçalo e Cândida ficaram sozinhos na cozinha, envolvidos no silêncio tenso que persistia após o confronto. Gonçalo, ainda sem expressão, aproximou-se de Cândida e pegou um copo, enchendo-o com água da jarra que estava na pia. Ele estendeu o copo para Cândida, cujas mãos tremiam enquanto ela o recebia.
Com um olhar de interesse, Gonçalo observou Cândida beber a água, sua expressão indicando uma mistura de compaixão e curiosidade, mas ofuscadas pela malícia. Era como se, naquele momento de vulnerabilidade, ele visse uma faceta de Cândida que raramente emergia na rotina da casa. O ambiente silencioso, interrompido apenas pelo som do líquido sendo consumido, criava um cenário de introspecção e reflexão, enquanto Gonçalo tentava decifrar as complexidades que envolviam sua dedicada empregada:
— Se estivesse comigo, mandaria nesta casa e enfrentaria Isabel como nunca, mas... enfim.
— Eu nunca vou cometer isto, por mim mesma e principalmente pelas suas duas esposas e por sua filha.
— Não sabe o que está perdendo. – Respondeu com as mãos no bolso e olhando para baixo, Cândida percebeu a mensagem e saiu imediatamente deixando o homem debochando daquela reação.
Isabel estava sentada em sua cama enquanto Laura ficou parada na frente do monumento de descanso da amiga, a moça dos cabelos loiros, lisos e cumpridos se sentou ao lado de Isabel que cessava seu ódio por toda aquela situação aos poucos. Laura se lembrava das palavras que Isabel dizia para sua tia, sobre a senhora se sujeitar a tais coisas em troca de seu sustento, ela se deparou com um momento ambíguo, entre apoiar sua amiga em um momento difícil ou apoiar alguém de seu sangue.
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Marionetes Do Poder
General Fiction"Marionetes do Poder" é uma narrativa envolvente que mergulha nos meandros da alta sociedade, centrada na protagonista Isabel, uma jovem ambiciosa determinada a conquistar o controle sobre a sua influente família Corrêa. Confrontada pela formidável...