Capítulo 07

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Gonçalo Corrêa dirigia seu automóvel pela cidade ensolarada. Seus dedos apertavam o volante com firmeza, refletindo a tensão interna que o envolvia. O banco ao lado, onde Isabel costumava estar, agora estava vazio, uma ausência palpável que o deixava imerso em seus próprios pensamentos.


 

Enquanto a raiva pulsava por suas veias devido ao comportamento de Isabel durante o almoço, uma melancolia profunda também o envolvia. Seus olhos cansados refletiam a lembrança da primeira esposa, cujos traços eram a origem da beleza marcante de Isabel. A saudade dessa mulher, que havia partido cedo demais, ecoava em cada ruga no rosto de Gonçalo, um testemunho silencioso da passagem do tempo.

No silêncio do carro, os suspiros de Gonçalo revelavam a complexidade de suas emoções. A raiva pela rebeldia de Isabel se misturava à saudade da esposa que não estava mais presente. Ele se perguntava se a ausência materna teria contribuído para a personalidade forte e desafiadora de Isabel, uma jovem que herdara não apenas a beleza, mas também a tenacidade da mãe.

O olhar de Gonçalo se desviava para o banco vazio ao seu lado, onde Isabel costumava se sentar. Essa ausência física ressaltava a distância emocional que se aprofundava entre pai e filha. Seus pensamentos oscilavam entre a frustração pela rebeldia de Isabel e a compaixão por uma perda que ambos compartilhavam, mas que cada um enfrentava de maneira singular.

Enquanto os habitantes da cidade enfeitavam o centro com suas risadas e anúncios de vendas, Gonçalo dirigia em meio a um turbilhão de emoções conflitantes, procurando respostas para a dinâmica complicada entre ele e sua filha. O vazio ao seu lado era um lembrete constante de que, mesmo na riqueza da mansão e na elegância da sociedade, algumas feridas do passado continuavam a ecoar, influenciando o presente de maneiras imprevisíveis.

Isabel estava à beira da cachoeira, seu corpo irradiando calor não apenas pelo sol escaldante, mas também pela fúria que fervilhava em seu íntimo. As bochechas coradas, tingidas pela intensidade do sol tropical, pareciam ecoar a ira que pulsava dentro dela.

O vestido, outrora uma ferramenta sutil de sedução e manipulação, agora pendia como um símbolo inútil de uma estratégia que atingira seu ápice. Isabel, imersa na complexidade de suas emoções, não hesitou em descontar sua raiva na vestimenta que outrora fora cuidadosamente escolhida para envolver Gustav em sua teia.

Cada rasgo no tecido era um ato de desafio, um rompimento simbólico com as amarras do destino que ela mesma tecera. Os retalhos flutuavam na brisa, como os fragmentos de uma narrativa que se desfazia diante de seus olhos. Cada pedaço desprendido do vestido carregava consigo a ambiguidade das intenções de Isabel, revelando uma mulher determinada a desafiar as expectativas e reescrever seu próprio enredo.

A cachoeira, com suas águas tumultuadas, ecoava o tumulto emocional de Isabel. O som das águas, antes melódico e sereno, agora acompanhava o ruído dos rasgos, criando uma sinfonia dissonante que capturava a dualidade de sua natureza.

A raiva que impulsionava Isabel encontrava raízes profundas na figura de sua madrasta, Alda Amaral. O retorno inesperado dessa mulher ao cenário de sua vida provocava uma tempestade de emoções há muito tempo reprimidas. Cada rasgo no vestido era uma expressão tangível do ódio que Isabel nutria por aquela que representava não apenas uma presença indesejada, mas também uma sombra do passado que assombrava sua busca por poder e liberdade.

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