Capítulo 09

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Ferdinand Müller, um homem imponente, adentrou sua casa com passos decididos, seu olhar sério indicando a seriedade de seus propósitos. Alberto, o fiel empregado, estava ocupado em suas tarefas, mas a expressão inquisitiva de Ferdinand o fez interromper suas atividades:

- Alberto, preciso saber onde está Gustav. Parece distraído ultimamente, e preciso discutir alguns assuntos importantes com ele.

Alberto, demonstrando respeito, baixou a cabeça antes de responder:

- Senhor Müller, infelizmente não tenho informações sobre os passos do jovem Gustav. Ele tem estado mais reservado nos últimos dias.

A falta de informações não era algo que Ferdinand tolerasse facilmente. Seu rosto vincou em linhas de preocupação e conjecturas enquanto ele formava hipóteses sobre o paradeiro e o estado de espírito de seu filho. Gustav era o herdeiro de seu império, e qualquer comportamento fora do habitual gerava inquietação no patriarca Müller.

Decidido a dissipar as incertezas, Ferdinand tomou a iniciativa. Saindo de casa, dirigiu-se ao seu elegante automóvel estacionado à entrada. A máquina reluzia com um brilho polido, mas a mente do senhor Müller estava longe de apreciar seu próprio luxo naquele momento.

Enquanto dirigia pelas ruas de Vale Verde, sua mente continuava a trabalhar, criando narrativas possíveis que justificassem o comportamento de Gustav. O pai preocupado começou a se questionar sobre o que poderia levar seu filho a se afastar e se esconder nas sombras da própria cidade.

As ruas, normalmente tranquilas, começaram a ser percorridas por Ferdinand em busca de qualquer sinal de Gustav. Observando as poucas pessoas que se aventuravam nas calçadas, ele percebia um murmúrio sussurrante sobre o incidente envolvendo Isabel, a tragédia que agitava a cidade naquele dia.

O coração de Ferdinand batia acelerado, misturando-se à cadência dos pneus contra o asfalto. Em um momento de distração que estava corroendo sua mente, o senhor quase atropelou uma jovem que cruzava a rua. A freada brusca fez o carro ranger, e o rosto da moça tornou-se visível através do para-brisa.

Ao descer do veículo para verificar o estado da moça, Ferdinand viu seus traços. Era Laura, a jovem que estava no centro das fofocas sobre Isabel mais cedo. Ela estava caída no chão, e seu braço direito mostrava sinais de sangramentos leves:

- Meu Deus, moça, peço desculpas. Fui negligente e distraído. Está ferida? - Ferdinand indagou, genuinamente preocupado.

Laura, segurando o braço ralado, olhou para cima com uma expressão mista de surpresa e dor. O encontro inusitado, em meio a um dia tumultuado, parecia ter um toque de ironia:

- Estou bem, senhor. Foi só um susto e alguns arranhões. A culpa foi minha também, estava distraída. - Laura respondeu, tentando sorrir apesar da dor.

Ferdinand ajudou-a a se levantar, e a conversa, que começara como um incidente lamentável, transformou-se em uma oportunidade de se conhecerem. A noite, que começara cheia de incertezas e preocupações, tomava um rumo imprevisto para ambos, ligando duas histórias que, até então, corriam paralelas na trama dessa pequena cidade:

- Eu estou procurando meu filho, Gustav Machado, o conhece?

- Não, não o conheço.

- Isabel Corrêa?

- A Bel, sim, a conheço, aliás estava indo agora para a casa dela.

- Entendo e andei ouvindo algumas coisas sobre ela...

- Pelo amor de Deus, não acredite em nada do que estão dizendo, são todos idiotas. Minha amiga está sofrendo por motivos que nem eu mesma sei. - Mentiu a menina. - Bom, eu realmente preciso ir, com licença.

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