Ontem à noite eu fui dormir esperando que um dia melhor viesse
Quando abri meus olhos, já estava chorando
Eu não sabia o porquê, mas eu sentia, a chuva chegou
Sempre tive medo de trovões
Minha mãe sempre me protegia
E hoje eu protejo minha filha
Mas naquele dia, eu descobri que haviam crianças que não poderiam mais ser protegidas
Que não iriam mais correr pra cama dos pais
Que não iriam mais para debaixo da coberta
A chuva que antes anunciava um dia de preguiça, filme e lazer
Naquele dia, destruiu qualquer vestigio de prazer que tínhamos por ela
Destruiu casas
Destruiu famílias
Destruiu vidas
Crianças perderam suas vidas por uma evento da natureza
Mães choraram mais do que pensavam ser capazes
Os bens materiais para elas já não eram nada
Já haviam perdido a coisa mais preciosa que possuíam
Pais dando suas vidas por suas esposas e filhos
Crianças de 5 anos vendo outras crianças sem vida
Pessoas que pararam na rua, em uma tempestade sem fim
Quem dera pudessem ter se preparado para o que estava chegando
Quem espera uma destruição que começou por um chuvisco?
Agora a cada gota que cai, é uma angústia a mais
Quem esperaria que suas cidades fossem devastadas ou que um estado tão grande entraria na calamidade mais avassaladora da história do País?
Ontem eu fui dormir esperando que um dia melhor viesse
Hoje quando acordei, o meu estado estava em alerta
Pessoas morriam
Pessoas desapareciam
E isso fez com que eu sentisse a dor de cada um
Sorte a nossa que o estado é grande
E o coração de muitas pessoas é maior ainda
Obrigado a todos que estão ajudando as regiões que estão em maior estrago
Por abrigarem a todos que perderam algo
Por acalmar as pessoas que perderam alguém
Obrigado a todos os profissionais da saúde que se empenharam para ajudar
Obrigado a todos os outros estados que nos apoiaram, que doaram, não só com dinheiro ou roupas, mas ao fazer equipes de buscas particulares para que pudessem salvar mais pessoas
O Rio Grande do Sul os agradece imensamente.
Falo por todos que infelizmente foram vítimas dessa tragédia
E diretamente do meu coração.
Att.
Soila Müller.
Obs: Essa é a história do meu estado, Rio Grande do Sul, que está atualmente sendo devastado pela maior enchente já registrada na história desde 1941. Porto Alegre, a capital do RS está completamente inundada, e muitas cidades ao redor foram atingidas de forma arrasadora, Eldorado do Sul está completamente submersa, outras cidades como Lajeado, Canoas, Cachoeirinha foram as cidades que mais apareceram nas notícias, pessoas perderam literalmente tudo, família, casa, a cidade em si, muitos animais e crianças(0 a 8 anos em média) morreram e muitos foram resgatados, as cidades continuam inundadas e muitas pessoas ainda aguardam resgate em cima do telhado de suas casas correndo riscos de deslizamentos, as equipes de busca não estão dando conta, pois é muita gente pra resgatar, muitas mortes, corpos na água, de bebês, adultos, crianças, animais, deques foram destruídos pelas correntezas devido a uma enorme quantidade de chuva que começou dia 29/04/2024 e que aparentemente cessou dia 05/05/2024, foi uma tragédia imensa, muito triste, e o estado ainda corre riscos de ser atingido por mais tempestades ao longo dessa semana. O Rio Grande do Sul está em luto por todas as pessoas que não sobreviveram a essa calamidade. O estado está recebendo apoio de outros estados e também até outros países para conseguir reconstruir e salvar as cidades vítimas da enchente assim que tudo isso passar.
Achei importante contar essa história, pois escrevi o texto baseado em todas as coisas que vi acontecer, e todas as pessoas que são vítimas diretas, uma parte da minha família que mora em Canoas também acabou sendo atingida e perderam tudo. O poema é para abrir os olhos das pessoas, para que tenham noção da extremidade que estamos passando, mas que também carrega a esperança de reconstruir tudo graças a União de todos os responsáveis por ajudar o RS nesse momento tão difícil.
Poetas não escrevem apenas sobre o amor, ou sobre a dor dele, poetas também tem vida fora dos livros, fora do papel, do computador. Foi muito difícil escrever esse poema tendo consciência de que tudo o que aconteceu foi historicamente grande e terrível, mas a poesia está em mim, está em tudo ao meu redor, e nem sempre ela vai ser bonita ou falar sobre amor.
Meu espírito é poeta, e poetas também perderam coisas nessa catástrofe.
Deixarei aqui, o relato de um homem que se voluntariou para fazer parte das equipes de busca:
"Haviam três crianças comigo em um barco, e uma delas me pediu para pegar uma bonequinha que estava boiando na água, e quando eu fui pegar, não era uma boneca, era o corpo de um bebê morto na água" - Ele disse em lágrimas, e era notável o desespero, o pavor, o choque na voz dele, trêmula, carregava medo, carregava dor, e esse é o tipo de tragédia que tem se visto nas cidades atingidas.
