Lone Wolf - YoonKook

Parte 3 - Fraqueza

O clima do mundo já não era mais o mesmo.

Lembrava-se vagamente de que antes, durante um conjunto de meses, o mundo e todo o cenário ao seu redor era transformado com o que se lembrava chamar "estações do ano"; que existia um padrão na forma como o sol brilhava e até mesmo um motivo para como as gotas de água se desprendiam das nuvens as quais estavam agarradas, lançando-se em uma queda-livre em direção ao chão, estilhaçando-se no impacto; havia um motivo para tudo ser como era e um motivo para que as coisas acontecessem da maneira que aconteciam.

Recordava-se de épocas frias em que se escondia embaixo de cobertas quentes enquanto a neve ao lado de fora caía lentamente do céu prateado, pintando todas as ruas em tons estéreis do mais puro branco já visto; dias amenos em que Yoongi costumava se encolher em casacos e enrolar-se em cachecóis enquanto sentia seus pés triturarem um punhado de folhas do enorme tapete que se estendia no chão, envolto pelos tons terrosos e tênues que caracterizavam aquela fase; temporadas em que sua visão era ofuscada pela explosão de cores vívidas provinda das flores que desabrochavam e das frondosas árvores que enfeitavam a cidade, sentindo-se quase sufocado com a vivacidade com que o mundo parecia pulsar naquele instante mágico, como se houvesse entrado em uma espécie de sonho confabulado; também existia aqueles meses em que se abrigava debaixo de alguma sombra com um picolé de frutas​ em mãos e apenas relaxava sobre a grama verde de algum parque da cidade, trajado de roupas leves e observando enquanto as pessoas riam e brincavam com seus entes queridos sob o brilhante astro que reinava no céu azulado.

Eram dias bons, dias em que as suas piores preocupações eram com suas notas ou mesmo se aquela garota do colégio que achava atraente – e da qual sequer lembrava mais o nome – finalmente notaria sua existência. Agora todos eram reféns de um clima bipolar e instável, a mercê de dias completamente imprevisíveis.

Naquela manhã cinzenta, Yoongi fora despertado por um forte tamborilar permeando o vento gélido e cortante que açoitava os escombros e entulhos que formavam o mundo ao lado de fora, seu olfato acariciado pelo familiar aroma úmido e terroso que preenchia todos os cantos vazios daquela caixa de concreto que era utilizada como quarto, envolvendo o jovem Min como a um casulo protetor que mantinha todas as coisas de origem negativa ao lado de fora, trazendo-lhe consigo uma quase esquecida sensação de paz. Era quase como se estivesse uma vez mais em seu confortável colchão na casa de seus pais durante um final-de-semana preguiçoso, o ambiente protegido da luz ao lado de fora graças as cortinas e o menino procrastinando para levantar ao que escutava os trovões explodindo no céu. O garoto quase se lembrara de como era sorrir nesse pequeno instante de ilusão, mesmo que não o houvesse feito, remexendo-se no colchão puído e apertando os trapos do que era o seu cobertor.

O "quarto" estava impregnado com o cheiro de solo revolvido, o ar pesado e frio com a umidade que pairava por todo o espaço.

Tinha cheiro de chuva da manhã.

Yoongi se remexeu com a névoa de torpor que lhe envolvia a mente e lhe impedia de despertar inteiramente, o rapaz ficando de barriga para cima e suspirando de forma pacífica graças a sensação nostálgica trazida por todos aqueles fatores que lhe recepcionaram quando planara delicadamente de volta para a consciência, as pálpebras parecendo pesar mais de dez quilos se apertando antes de que ele viesse lutar contra si mesmo para abrir os olhos para a claridade perolada de mais um dia no inferno que o mundo se tornara, sua mente trabalhando de forma lenta e ocasionando em um rapaz um tanto confuso sobre onde estava. Piscou duas vezes antes que seus olhos pudessem se focar no teto carbonizado por conta de algum curto-circuito que ocorrera no passado, seu cenho se franzindo ao não encontrar o imaculado branco do gesso que existia em seu quarto ou mesmo a lâmpada embutida que estaria apagada.