Lone Wolf - YoonKook

Parte 7 - Frio

Seu passado eram meros fragmentos de lembrança.

Por vezes, Yoongi sentava-se à beira da fogueira e ouvia os contos do passado de Jeon Jeongguk, sobre natais frios e presentes indesejados, treinos com colegas de pelotão e situações cotidianas que o faziam divagar sobre a simplicidade da vida no antes; imaginando a pessoa que seu hyung era e a vida que possuía antes de tudo ruir. Pelas suas histórias, Yoongi concluiu que o Jeon sempre fora uma pessoa essencialmente feliz, quem a vida sempre fora serena, a quem a desgraça vagava a uma distância respeitosa.

Durante esses momentos de contos do passado frente a fogueira, Yoongi sempre franzia o cenho com o desconforto por não possuir nada com que compartilhar. Por mais que se esforçasse para minerar sua mente na esperança de que tivesse maiores detalhes sobre como era sua vida, como eram seus dias sem as preocupações constantes quanto a provisões e água potável, não obtinha muito mais que cacos e retalhos. Quais eram as suas preocupações e sonhos? O que costumava fazer para se entreter quando tinha fartura e segurança?

Pedaços de sua vida pareciam ter se perdido pela estrada com o passar dos anos e tudo do qual se lembrava era de uma existência infernal.

Lembrava-se vagamente de um quarto branco. Prateleiras marrons com livros e... Lençois azul cobalto. Havia uma janela lateral por onde vinha a luz, cortinas azuis farfalhando com a brisa. E sua casa era grande... com luzes amarelas, persianas e calor familiar. O breve vislumbre dela fazia seu peito doer como uma ferida aberta que voltava a sangrar sempre que a tocava e, por isso, largava a memória assim que a iniciava.

Em um mundo onde a incerteza era a única certeza, as memórias ofereciam um senso de continuidade e um terreno plano sob os pés. Mas as dele não apenas carregavam uma dor lacerante que o impedia de explorá-las a fundo; estavam emaranhadas demais para que pudesse distinguir o que vivera do que havia perdido. Cada tentativa de resgatar esses pedaços do passado não apenas o trazia uma sensação de desamparo e frustração por não conseguir resgatar nem mesmo um traço, mas também um sofrimento que o sufocava, enquanto os fragmentos de sua história se dissolviam nos traumas recentes.

Memórias pareciam ser a âncora que permitia Jeon Jeongguk olhar para o futuro sem esquecer suas raízes, sem perder a essência de quem era. Sendo elas responsáveis pela formação do ser, o fato de Min Yoongi não se lembrar muito de seu passado o tornava incompleto? Perdido como um barco à deriva em alto mar?

Suspirou profundamente, dedos afastando a franja do cabelo dos seus olhos.

Os dias tornaram-se cinzentos, cinzas e poeira erguendo-se do chão com as rajadas de vento cortante.

Enquanto vagavam na estrada solitária, deixando para trás a velha cidade de arranha-céus e edifícios que se mantinham de pé com uma determinação torpe, avistaram um velho shopping afastado dos limites da mesma, que um dia fora o local de parada de viajantes que vinham passar pela ostentosa metrópole onde os magnatas se concentravam, desfrutando de um estilo de vida luxuoso.

Lembrava-se de que até o último momento, eles protestaram e se agarraram ao seu fútil estilo de vida, rechaçando cada proposta que fizesse uma mera alteração em seus estilos de vida. Exploraram as camadas mais baixas e sugaram até o último recurso de seu planeta para manter o conforto de suas vidas, indiferentes ao colapso iminente.

Yoongi frequentemente se perguntava como aqueles que viveram no topo da hierarquia estavam lidando com o mundo depois que tudo desmoronou. Será que sentiam que os anos de luxo e excessos em seus palácios de mármore haviam valido o preço cobrado? Teriam eles se preparado para o caos que se instalou, encontrado uma maneira de sobreviver aos climas extremos resultantes de sua ganância? Talvez tivessem criado algum refúgio em uma plataforma petrolífera, isolados do desastre, vivendo de frutos do mar e suprimentos não perecíveis, ainda agarrados à última sombra de suas vidas de opulência.