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Uma marcha de alguns poucos guardas guiava o grupo pela trilha na floresta, todos acorrentados uns nos outros, braços e pernas. Quem carregava o anel de Inventário Oculto era Ragnar, que o escondeu debaixo de sua língua, e estava amordaçado para evitar suspeitas.
— Então, o que tem de bom nesse forte dos orcs? — Giovanni estava deveras relaxado, apesar da situação toda.
Frustrado com o comentário do gnomo, um dos soldados repreende o mesmo:
— Se você acha que está indo lá para se divertir, te aconselho a levar mais a sério a tarefa que lhe foi dada. Não esquece que além da vida de vocês estarem em jogo lá dentro, a vida de todos os habitantes da cidade também — em seu tom de voz havia não apenas frustração, mas também preocupação.
— Caramba cara, tá bom, foi mal... Mas eu to fazendo uma pergunta séria, o que tem lá além de orcs e goblins? — Giovanni realmente estava curioso, só não sabia usar as palavras corretas.
O outro guarda mais a frente do grupo de escolta toma a frente na conversa, e com sua voz grave, ele disse:
— Sou eu quem normalmente trago os prisioneiros para cá, e do que eu sei eles vão te forçar a minerar qualquer recurso que eles julguem valioso ou necessário para algum tipo de plano que eles planejam — o guarda para, seguido de todo o resto do grupo parando também, e com um olhar sério ele vira para o grupo — Mas uma vez, eu já escutei um rugido de uma criatura que com toda certeza não era um orc.
Uma troca de olhares se iniciou entre o grupo e os outros guardas.
Seth parecia um pouco preocupado, mas não deixou de estar focado em seu objetivo. Giovanni agora já nem pensava mais em fazer comentários desnecessários, sentia um calafrio em todo seu corpo. Lich não havia aberto a boca desde que saíram da cidade, certamente ele não queria vacilar novamente com a equipe.
Já Ragnar, que estava amordaçado, era um homem de poucas palavras... Perdão, não podia perder essa.
A escolta continuou a andar, e não muito tempo depois, muros de madeira surgiram entre as árvores, e os barulhos de pássaros foram engolidos pelo soar de um berrante de guerra, fazendo as aves voarem para longe. Com o aviso da chegada dos soldados de Port Malan, os portões do forte orc se abriram, e de lá, saíram dois deles, supostamente os inspetores da carga. Eles carregavam pranchetas, enquanto desamassavam um papel com a listagem dos prisioneiros.
Provavelmente os papéis estavam amassados por conta da fuga anterior que havia acontecido.
— Não acredito que acharam os pedaços de shrakh! Bom pra vocês, o chefe Zûgor não ficou nada feliz sabendo que vocês perderam os escravos dessa leva — O primeiro orc com um pequeno óculos, que estava visivelmente sem lentes, debochava da cara dos guardas da cidade — Aí Krímp, a carga tá certa?
O outro orc era baixo e esguio, meio raquítico, quase como uma aberração aos olhos de quem vê. Mas ele, pelo menos, sabia contar.
— Não só tá certa, temos umas cabeças a mais aqui. Acho que eles queriam compensar a cagada que fizeram com o chefe.
Ambos os orcs riam histericamente enquanto batiam nas costas dos guardas, sabendo que eles não podiam fazer nada já que haviam outros orcs com arcos e flechas apontadas para todos no chão.
Os guardas estavam nervosos demais para sequer dizer uma palavra, apenas ficaram parados esperando eles levarem o grupo para dentro.
— Pra dentro pessoal, vocês tem trabalho a fazer — disse Krímp, batendo na bunda de Lich, que estava por último na fila.
— Seu...! — o feiticeiro pensou um pouco antes de falar, claramente irritado com a provocacão dos orcs.
Krímp, com a ameaça de Lich, recua um pouco, com medo de ser atingido.
O grupo anda para dentro do forte, olhando todos os lados. Em cada canto havia algum tipo de atrocidade como, animais mortos pendurados em varais extendidos e sendo limpados de dentro para fora, goblins brincando de esmagar os miolos de galinhas que corriam desesperadas, carcaças de prisioneiros que já não eram úteis para eles, ou que morreram na mina. Era tudo um pesadelo ali.
Enquanto eles eram guiados até a entrada da mina, um grupo de orcs estavam prendendo algumas espécies meio humanoides de lagartos acorrentadas e presas em jaulas.
Já dentro da caverna, os barulhos da escavação ecoavam por todo canto. Junto dos outros dois orcs, alguns goblins se juntaram a escolta:
— Podexá com a gente. Esses ai parecem bem fortes e saudáveis, já até sei onde botar eles — Um dos goblins disse.
Os orcs se encaram um pouco, e logo em seguida riram histéricamente de novo enquanto saiam de dentro da mina.
— Beleza então seus shrakh, me acompanhem, senão é vocês vão ter a honra de morrer pro grande Zuthi, o degolador — O goblin batia no peito com orgulho enquanto se exibia para o grupo.
Ninguém quis abrir a boca durante todo o trajeto. Chegando num setor de mineração isolado, os goblins soltaram as correntes de todos, e em seguida Zuthi passa algumas instruções:
— Seguinte seus cabeças de peixe, tem algumas picaretas por ai, minerem ai, de noite a gente vem buscar o carrinho com tudo que vocês conseguiram. Por enquanto esse setor aqui ta vazio, mas logo logo a gente enche ele com mais shrakh.
— Vamos ver até quando você mantém esse sorrisinho no seu rosto — Giovanni provoca o ser verde.
— Aha! O gnomo tem espírito! E além do mais é piadista! — seguido de uma risada histérica, acompanhada pelos outros goblins do grupo.
Enquanto os baixinhos se afastavam, Ragnar arrancou sua mordaça, podendo finalmente falar:
— Pelo amor de Os Três — ele cuspia enquanto falava — Não podia nem mesmo engolir minha saliva por causa do anel! Andem logo, peguem as coisas de vocês — puxando o anel de baixo de sua língua, ele continuou.
Ragnar foi o primeiro a começar se equipar, já que sua armadura era demorada e difícil de se vestir, seguido de seus companheiros, que ou não vestiam nada de especial, ou apenas armaduras de couro simples.
— Se apressem, temos que agir logo, aproveitar enquanto ainda temos energia — Seth instrui — Se gastarmos tempo aqui, eles virão nos cobrar para trabalhar, e ai nossa energia vai pro saco.
— Tem razão — Lich concorda.
— Vocês tem certeza que não querem agir de noite? Vai ter menos movimento, eles vão estar dormindo e tudo mais — Giovanni discorda.
— Acho que não, de noite é onde as fugas acontecem — Seth certamente tem algum conhecimento em infiltrar locais — Vão ter guardas vigiando cada centímetro desse lugar, é melhor agora de dia, enquanto eles estão despreparados — ele disse, terminando de colocar sua armadura.
— Beleza então — Ragnar puxa sua lança — Bora bota pra fude.
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Reinos Exilados - A terra de Varannar
FantasyO universo em que se passa essa história é baseado no jogo de RPG Exiled Kingdoms produzido e publicado pela 4 Dimensions Games em 2021, apenas algumas mudanças foram feitas, como a existência das Terras Distantes