Doce Desvio

260 46 83
                                    




O frio do inverno penetrava o quarto através de uma janela entreaberta, criando um contraste notável com o aconchego das cobertas que envolviam Lena Luthor. A brisa trazia consigo um assobio sinistro, que a despertou subitamente. Ela se espreguiçou, tentando livrar-se da rigidez do sono, mas ao jogar as cobertas para longe, sentiu um arrepio gelado percorrer seu corpo, como se uma lâmina de gelo a tivesse atingido.

Ao se levantar, notou que a dor aguda em sua perna havia diminuído consideravelmente, permitindo que caminhasse sem a manqueira do dia anterior. Lena se aproximou da janela e, com certo esforço, conseguiu fechá-la, trazendo um silêncio acolhedor ao quarto.

Um olhar rápido ao relógio indicou que eram quase oito da manhã, horário comum para ela iniciar o dia. Logo, dirigiu-se ao banheiro, onde tomou um banho quente e revigorante, logo dando continuidade à sua rotina de higiene matinal.

De volta ao quarto, já sentada na cama, enrolou uma nova atadura em sua coxa. Seus pensamentos, inevitavelmente, se voltaram para Kara e, sem perceber, um sorriso bobo nasceu no seu rosto. Naquele momento de reflexão, ela compreendeu que o sentimento que havia brotado na noite anterior não parecia ser esporádico.

Após se vestir, desceu as escadas com mais agilidade do que no dia anterior. Sua fiel empregada já estava na cozinha, preparando o café da manhã.

— Bom dia, Eva — saudou Lena, inalando o aroma tentador do café recém-preparado.

— Bom dia, senhorita Luthor.

— Kara ainda não acordou?

— Quem? — Eva replicou rapidamente, um pouco confusa. Depois, com uma expressão de reconhecimento, acrescentou: — Ah, a moça loira de ontem?

— Sim, ela mesma.

— Ainda não a vi. Deve estar dormindo.

Checando o relógio de pulso, Lena percebeu que tinha muitas coisas para resolver e decidiu que o melhor seria acordar Kara.

— Hoje o café da manhã será para duas — instruiu Lena.

Em seguida, subiu as escadas, caminhando pelo corredor até chegar ao quarto que Kara ocupava. Bateu na porta. Não houve resposta. Novamente, bateu, um pouco mais alto desta vez.

— Kara?

Ao ouvir um resmungo abafado vindo de dentro, Lena sorriu, imaginando-a enrolada entre as cobertas. Lentamente, abriu a porta e espiou para dentro. O quarto estava escuro, com as cortinas fechadas, permitindo apenas uma fresta de luz matinal iluminar o ambiente, acompanhada pelo som do aquecedor.

Kara estava enroscada na coberta acolchoada, seus cabelos loiros espalhados no travesseiro. Ela parecia tão pacífica que Lena sentiu uma grande resistência em acordá-la.

— Ei, garota loira — chamou suavemente, aproximando-se da cama. — É hora de acordar.

Kara murmurou algo ininteligível, esfregando os olhos. Por um momento, houve um olhar confuso, depois reconhecimento, seguido por um sorriso sonolento.

— Estou viva — Kara brincou, sua voz rouca de sono.

— Boba! — Lena gargalhou. — Espero que tenha dormido bem. O café da manhã está pronto lá embaixo.

Kara assentiu, sentando-se.

— Ah, um café soa maravilhoso agora.

— Desça logo. Não quero que esfrie.

— Estarei lá em um minuto.

Lena saiu do quarto, fechando a porta atrás de si. Ao voltar para a cozinha, sentiu um calor reconfortante em seu peito. Havia algo sobre a presença de Kara que a fazia se sentir mais leve, mais viva. E enquanto a esperava, permitiu-se desfrutar um pouco daquele sentimento, mesmo que por um breve momento.

As Criminosas - KarlenaOnde histórias criam vida. Descubra agora