Manhã

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Lena sempre abominava a ideia de acordar acompanhada. Cada amanhecer após um encontro casual trazia um rastro de desconforto e desculpas esfarrapadas para despachar o intruso da noite. Mas essa manhã foi diferente. Ao acordar com o braço pesado e possessivo de Kara sobre seu corpo, ela sentiu uma onda de conforto ao invés do habitual impulso de fuga.

Era um cenário muito atípico; não havia sido uma noite de sexo, mas um refúgio compartilhado de perigos que espreitavam do lado de fora da sua casa.

Quando abriu os olhos, a luz ainda acesa picou suas retinas, obrigando-a a piscar até se acostumar. Um sorriso tímido e contente escapou enquanto se aconchegava mais perto de Kara, relutante em quebrar o laço que as unia.

Com uma delicadeza inesperada, Lena afastou uma mecha desalinhada do cabelo loiro que caía sobre aquele rosto tão tranquilo, permitindo-se contemplar a quietude.

— O que você fez comigo, hein? — sussurrou Lena, certa de que ela não podia ouvir.

Porém, ao perceber a pele anormalmente fria de Kara, a lembrança da perseguição caótica da noite anterior invadiu sua consciência. O medo se infiltrou rápido e profundo, gelando seu sangue.

— Kara, por favor, acorda! Kara! — A voz de Lena tremia de urgência. O terror de perder algo que só agora começava a valorizar apertou seu peito.

Finalmente, Kara mexeu-se com um bocejo prolongado, abrindo os olhos lentamente e sorrindo com uma leveza que desmentia a gravidade do momento.

— Calma, eu não morri. — Ela brincou, ainda meio adormecida.

O semblante preocupado de Lena rapidamente se transformou em irritação.

— Você... — Ela deu um empurrão forte em Kara. — Sua idiota. Eu pensei que...

— Ficou com medo de me perder?

— Não, eu só... só... Ah, quer saber... Cala a boca!

Kara esboçou um sorriso travesso.

— Mas eu não estou falando nada.

Lena, frustrada, tentou se levantar, mas foi puxada de volta para a cama.

— Aonde pensa que vai? Vamos sair juntas daqui. Não sabemos como ou quem está lá em cima.

O jeito autoritário que Kara exalava quando necessário acendia alguma chama em Lena; era irresistivelmente sexy esse contraste entre o rosto angelical e o comportamento protetor. Porém ela jamais admitiria isso.

Tentando mascarar seus sentimentos, Lena expressou sua perplexidade com a situação que enfrentavam:

— Até agora não entendi. Esse maníaco tenta roubar minha carga, invade minha fábrica, explode minhas mercadorias e agora quer me matar? Mas que inferno eu fiz para esse doente?

Kara inspirou profundamente, refletindo sobre os eventos recentes.

— Ele quer tomar o seu lugar.

— Como assim? — Lena franziu a testa, confusa.

— Você domina o mercado do ocidente. Se seu império cair, ele assume o controle.

Lena assentiu lentamente, tentando assimilar as informações.

— Já enfrentei ameaças antes, mas ninguém jamais conseguiu chegar tão perto. Muito menos saber onde eu moro.

Kara tomou outra respiração profunda antes de continuar.

— Desde o dia da explosão, seu carro está sendo rastreado.

Os olhos de Lena se arregalaram.

— Como assim? Esse desgraçado é mais astuto do que eu pensava.

As Criminosas - KarlenaOnde histórias criam vida. Descubra agora