Capítulo - 4

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Os olhos de Cassius não sabiam no que focar ao estar ao redor de tantos papeis com tantas coisas escritas. Era informação de mais para sua cabeça. Cassius preferiria muito mais aprender e compreender na prática mesmo, sendo assim muito mais divertido e prático o aprendizado. Cassius via seu irmão no meio daquele tornado de papeis e não entendia o que fazia ele continuar lá. "O que muda saber que tal cara fez tal coisa em tal local em tal data? Como isso importa?"

De repente, Cassius percebeu que Kairo parou de pegar papeis e apenas estava segurando o mesmo a quase 5 minutos.

- Cansou a visão? - Cassius pergunta inclinando o corpo para ver o conteúdo do papel especial.

Kairo não respondeu, mas logo Cassius entendeu a confusão do irmão. O papel estava todo riscado, menos uma frase no topo do papel que provavelmente era o titulo do arquivo.

- Bom... E agora? Eu duvido que a Lucídus vai te dizer se você for preguntar pra chefia.

- Eu sei, eu não sou tão burro assim. O que mais me incomoda na verdade é essa aura que ele tem, com certeza ele não deveria estar junto com essa papelada.

- Mas então por que é que ela tá toda rabiscada? Não teria razão para algo estar disponível ao público e estar todo rasurado.

Kairo olhou de canto de olho para a parede atras dele e então para as outras paredes.

-Cassius, haja naturalmente- Kairo sussurrava- Olhe discretamente, você consegue ver o papel no chão escrito: "Bases Fechadas em 1980"?

- Ahm...- Cassius falou incomodado enquanto esticava os ombros para tentar "agir naturalmente" - To vendo.

- Vai lá e estica os braços pra cima, fingindo estar se alongando.

- Por que?

- Só vai!

Cassius foi andando com desconforto e logo ao chegar perto da folha ele entendeu o que Kairo queria fazer. Havia uma câmera na parede, a única da sala, apontada diretamente para as costas de Kairo.

Cassius foi e fez o pedido.

-Pronto.

Da perspectiva dele, Cassius apenas viu Kairo fazer um movimento com o braço direito. Ele colocou algo no bolso interior da jaqueta laranja dele. Kairo virou a cabeça lentamente e os olhos dos dois se encontraram. Os dois assentiram e posteriormente saíram da sala em silencio.

Kairo olhou para todas as paredes do corredor após sair da sala, mas logo viu que não havia mais câmeras.

- O que a gente faz? - Kairo perguntou.

- Que?! Essa é a pergunta que eu ia fazer! O que você tá planejando fazer agora com essa folha estranha?

- Eu... Eu não sei.

- Então por que pegou?

- Eu não sei- Kairo falou com a voz falha - Eu só senti que eu não podia deixar ela lá pra ser arquivada e nunca mais a vermos. Tem tantas coisas que eu não entendo, coisas que não fazem sentido. Por que tá todo mundo indo atras dessa tal música? O que são esses tais "Amos"? Por que é que eles chamam as melodias de harmonias? Não faz sentido!

- Que? Não entendi essa ultima parte?

- É que harmonia são vários instrumentos tocando ao mesmo tempo e uma melodia é um sequencia de notas. O termo técnico correto para os pedaços de musica que a gente está indo atras é melodia, mas por algum motivo a Lúcidus categoriza essas missões como "Missões de Harmonia" O que não faz sentido algum.

- Bom, o nome técnico vai mudar alguma coisa na hora de pegar as músicas?

Kairo suspirou.

- Não.

- Então pronto.

- Mas você não quer respostas também?

- É claro que eu quero, mas olhar para um papel todo rabiscado não vai me dar as respostas. Então o que você vai fazer com isso?

- Bom, vou guardar até servir para alguma coisa

- Vamos na outra sala então? E se tiver mais folhas rabiscadas?

- É uma possibilidade- Kairo falou com uma cara estranha, olhando para o chão.

- O que foi?

- Nada, só vamos- ele começou a andar em direção da outra porta.

A segunda sala era bem menor que a anterior, mas havia muito mais decorações do que a outra, tipo quadros de paisagens e algumas plantas que estavam todas em decomposição.

- Por que tem plantas aqui? - Kairo perguntou- Nem tem janelas aqui.

- Talvez tenha tido um dia.

- Mas aqui é o andar 2. É no subsolo. Como teria janelas debaixo da terra?

- Vai saber.

Havia outra coisa que chamava atenção dos olhos além das plantas mortas. No meio da sala havia um pedestal com uma mascara, uma mascara de agente.

As mascaras são dadas aos agentes que se ofereceram para fazer algo de extremo perigo, algo que tem grandes chances de levar a morte. Todos os agentes do rank 1 tem uma, mas há agentes de outros ranks que também as tem. E um dos critérios para entrar no rank 1 é ter um mascara.

Quando alguém se alista na Lúcidus ela, primeiramente, tem que testemunhar como se tornou lucida, há duas maneiras até agora: sobrevivendo aos becos ou passando pelo 0.01. Depois, eles fazem uma prova escrita e uma prova pratica. E então é determinado o papel do agente na missão. Quase todos do rank 3 são levados para as missões de menos perigo, coisas simples. O rank 3 também é o único rank que não tem remuneração financeira, e também é o rank com mais agentes.

Os rank 2 são os de menor numero. Eles são os que mais vão para as missões. Todo o rank 2 é um grupo só que se ajuda mutuamente. O rank 2 é quase sempre enviado para missões de combate ou para missões para adquirir paginas da partitura. Atualmente, o rank 2 está no Rio Grande do Sul em uma missão numa escola onde havia um relato de ter 2 paginas sendo vendidas em um sistema de contrabando. O método para se tornar do rank 2 é pelas missões de nível 4.

As missões são categorizadas em níveis de 0 a 5. Missões de nível 0 são as que nem envolvem combate, como missões de harmonia. Missões de nível 1 envolve um mínimo de combate que geralmente um agente rank 3 conseguiria finalizar com facilidade, mas que seria um perigo médio para pessoas normais. Missões de nível 2 envolvem combates prolongados médios, que são ou muitos inimigos fáceis de finalizar ou um de grande porte, geralmente 3 agentes rank 3 são o suficiente, estes, pessoas comuns não conseguem enfrentar. Missões de nível 3 são mais do mesmo, porem mais perigoso. Missões de nível 4 são aquelas que a morte é inevitável. Se um agente morrer, independente do rank, a missão se torna nível 4 instantaneamente. Quase todas as missões que envolvem páginas da partitura são missões nível 4. As missões de nível 5 são as que somente o rank 1 tem habilidade o suficiente para enfrentar.

Os rank 1 são geralmente lobos solitários que vão em missões sozinhos, tirando as missões de resgate nos becos que é obrigatório ir em grupo. Os rank 1 são os que mais tem liberdade e são os que mais ganham financeiramente. Quase todos os rank 1 não batem bem da cabeça, o que é quase um critério para esse rank. Não é necessário ser do rank 2 para ir para o rank 1, mas os critérios são: ter um mascara e devoção sacrificial, o que significa não se importar em morrer.

A mascara é o símbolo de devoção, pois ela esconde o rosto e só mostra a identidade da Lúcidus, que é o objetivo do agente.

Quando um agente de mascará morre, uma copia da mascara é feita. A original tem o mesmo destino do corpo do agente. Se o corpo é enterrado, ela vai junto. Se o corpo for cremado, ela também vai junto. E a copia fica na Lúcidus em uma sala de homenagens aos agentes mais devotos.

Visconde ganhou a mascara dele depois dos eventos de 2034, quando sua esposa e um de seus filhos caíram nos becos. Visconde nem teve que dizer uma única palavra, pois estava escrito em seus olhos que nada mais importava para ele a não ser resgatar sua esposa e seu filho, mesmo se custasse sua vida.

- De quem será? - Cassius analisava a mascara no pedestal

- Talvez não tenha dono, como se fosse apenas um protótipo, por que não faria sentido ser de um agente e estar aqui.

- Será que um dia a gente ganha uma?

-Seria bom, seria bom...

Cassius então parou de andar ao redor do pedestal e tirou a mascara como se fosse um totem sagrado de Indiana Jones.

- Você acha que vai ter uma armadilha?

- Nunca se sabe- Cassius falou sorrindo e então colocou a mascara no rosto.

Kairo começou a sorrir quando viu o irmão de mascara.

- Sabe com que você está parecendo?

Cassius não falou nada, mas tirou a mascara instantaneamente. Ele não sabia discernir se acha aquilo um elogio ou não.

Kairo então pegou a mascara do chão e a vestiu.

- Nossa, pensei que seira mais abafada.

- É, até que é bem ventilada- Cassius falou se apoiando na parede.

- Mas é sério, Cassius, tirando a altura, se você for colocar a mascara do pai, não

daria pra diferenciar, ficou muito natural em você.

-Ok - Cassius falou sentindo se desconfortável.

Cassius estava bem confuso, e ao ver seu irmão com a mascará ele se sentiu estranho, uma sensação familiar. Ele sabia que não era verdade, mas ver a mascará em Kairo dava a impressão à Cassius que Kairo iria deixa-lo, que nem seu pai vazia ao por a mascara no rosto. Uma questão veio na mente: "O pai teve que me largar para procurar a verdade dele. Se eu quero a verdade... Se Kairo quer a verdade..."

- Você pode tirar a mascara, por favor? - Cassius falou com um tom de voz que Kairo nunca havia ouvido, era um puro desconforto, como se alguém estivesse apertando a garganta dele.

Kairo abriu a boca para falar algo, mas desiste no meio do caminho e apenas tira a mascara em silencio. Em seguida ele a coloca no pedestal novamente.

Cassius olhava para a mascara com olhos vazis. Ele via seu reflexo na mascara. Seu rosto distorcido, derretendo em uma escuridão negra. O que era isso? Seu destino? Largar tudo, largar Kairo para conseguir a verdade, era isso que ele queria?

Quando Cassius foi para a Lúcidus ha tantos anos atras, ele morreu para ver parte da verdade. Mas agora, o que ele deveria sacrificar para ver o total?

De repente, algo bloqueia a visão de Cassius da mascara.

- Ninguém precisa ver mais isso- Kairo surge cobrindo o pedestal todo com um pano que estava jogado no chão. A mascara dava formato para o pano que o cobria. Parecia um fantasma.

- Hei, - Kairo falou com a voz calma, ele põe a mão no ombro do irmão- Tá tudo bem.

Cassius não responde, apenas desvia o olhar e tira a mão do irmão do ombro. Então Cassius se dirigiu em silencio para fora da sala e Kairo apenas o seguiu confuso, pois não sabia mias o que o irmão estava sentindo.

Cassius se sentou no corredor e esticou a mão no bolso e fechou os olhos.

- Vou pra ultima sala, tá? - Kairo falou, mas Cassius não respondeu.

"Foi algo que eu falei? AI droga! Como eu sou tão burro, como eu não consigo ter uma conversa sem ferir ele! Eu sou um idiota"

Kairo andava de um lado para o outro enquanto se revoltava.

"Tá, uma coisa que eu posso fazer...", ele olha para a ultima porta, "vou acabar o armário do pai pra que a gente possa sair logo daqui"

Ele então se dirigiu até a ultima porta, e então teve um dejavi.

Um corredor mal iluminado. Varias portas. Ninguém ao seu lado. Um lugar estranhamente familiar.

Kairo congela, ele nem consegue estender a mão para abrir a porta.

"Por que estão sentindo isso? Eu pensei que eu já tinha superado."

Quando Visconde resgatou Kairo dos becos ele não estava com a cabeça boa. Ele mal falava. Odiava ficar sozinho em uma sala. Nesses 6 meses de reabilitação, Kairo ficou apenas na cama ou no sofá com Cassius ao seu lado, mas Cassius não sabia o que sentir sobre Kairo, então Kairo tentava conversar, mas Cassius não falava nada, era como conversar com uma pedra.

"É a mesma sensação de antes. Por que eu estou sentindo como se eu estivesse nos becos?".

Kairo fechou os olhos tentando parar a sensação.

De repente, ele sente algo, como um mini terremoto que durou um segundo. Seus ouvidos começaram a zunir. Um cheiro diferente surgiu, mofo. Seus pés não sentiam mais o concreto do corredor, era outra coisa agora, um carpete.

"Impossível!"

Kairo começou a ficar em pânico. Ele tentava abrir os olhos, mas era como se estivessem colados.

"Como eu estou aqui? Como pros Becos? Como cai aqui?"

Seus braços e pernas começaram a tremer.

"Por que não consigo me mover?"

Seus olhos começaram a arder, como se estivessem em chamas.

"O que está acontecendo?"

Seus pensamentos começaram a se mesclar em meio ao pânico.

"Como, eu não sei, vim pra, Cassius! Ajuda, Ajuda, Ajuda. Esquerda, e então direita. Devo sair daqui. Não olhe para a fogueira. Nome, mudar nome, Função. Uma quebra infinita. Sem gravidade. Todos os lugares. Socorro. Parque. Cama. Deitado. Sangue. Onde está minhas mãos! UM pilar, eu vejo um pilar! 5 Cadeiras. 5 Pessoas. Devo correr. Esconder. Fugir. Subir. Descer. Todas as direções ao mesmo tempo. AHHHHHHH! Não dá mais mãe. Por que você me deixou? Respira. O que é isso? UM mostro! Eu? Cassius? Por que estou tão sozinho? Estou caindo. Flutuando. Eu falei que era uma péssima ideia! EU não quero mais. Sobe logo! Temos que nos separar. Não devo me mover. Devo correr. Para onde vou?"

Seus olhos começam a se abrir lentamente, como um portão.

Ele via um carpete amarelo.

"Não, não, não, não, não, não, não, não, não, não, não!"

- Buti ifi iu clouse iór ais, dãs iti áumoust fils laique nófing tchanged éti ól- Cassius cantarolava de olhos fechados.

"Eu não quero te perder, Kairo"

'Tum!'

O chão tremeu um pouco, como se algo pesado tivesse caído ou como se alguém tivesse batido com força nele.

Cassius sentiu a vibração e abriu os olhos. Seus olhos encontraram as costas de Kairo parado na frente da porta.

- Kairo? – Cassius se levantou deixando seu celular no chão. - Tá tudo bem?

Kairo não respondera.

Cassius tenta virar ele, mas ele está congelado, como se fosse um estatua.

- Kairo? - Cassius se move para ver ele de frente- KAIRO?!

Seus olhos... A íris dos olhos de Kairo estavam amarelos, brilhando. Ele hiperventilava.

- KAIRO! - Cassius começou a balançar o corpo do irmão- O QUE TÁ ACONTECENDO?

Mesmo estando na frente de Kairo, os olhos de Kairo não pareciam se focar em Cassius, como se estivessem vendo outra coisa.

- Me perdoa! - Cassius respirou fundo e deu um tapão na cara de Kairo.

- AHHHHHHHHH! - Kairo começou a gritar.

- O QUE TA ACONTECENDO

- AHHHHHHHHHH!

- KAIRO!

Cassius não sabia o que fazer. Seus solhos começaram a se encher de lagrimas de desespero. Então, sem pensar, Cassius chegou mais perto e o abraçou, passando a mão nos cabelos do irmão.

- Eu tô aqui, Kairo, eu tô aqui- Cassius começou a se engasgar no choro- Irmão... eu to aqui. Tá tudo bem.

Kairo para de gritar, e então abraça Cassius de volta.

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