Último Destino

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Pode parecer estanho ao início, mas quanto mais portais atravessas, mais natural te parece o fenómeno. É como cruzar o vão de uma porta.

Fwap.

Tap. Tap. Tap. Tap. 

Num momento estavas diante de um pequeno grupo de hipocampos que se querem despedir de ti, depois dos anos de convivência que partilhaste com eles na redoma subaquática a que chamam de casa. No outro, estás de mão dada com o teu único filho, depois de darem um passo em frente para adentrar uma divisão que te é familiar.

Znownn, zip!

As tábuas de cedro no chão mantêm o mesmo brilho encerado de outrora. As paredes continuam igualmente brancas e os móveis do costume estão na posição de sempre. A luz minguada de um candeeiro de apoio, empoleirado sobre uma estante de livros, alonga as sombras a teus pés, sendo a única fonte de claridade que te permite distinguir os obstáculos à tua volta.

Engoles um soluço que teima fazer-se presente. Sentes-te um querido leitor a retornar àquele livro de sempre, àquelas personagens que te reconfortam, ao enredo imutável que sabes de cor mas que, mesmo assim, desfrutas todas as vezes como se fossem a primeira. Tentaste inutilmente reencontrar a conexão com estas quatro paredes através das sensações nas tuas memórias, abrindo portais atrás de portais que te levaram a uma dezena de mundos e perigos, para desistires de tentar regressar quando te conformaste com a paz que encontraste com os hipocampos. E, de surpresa, surgiu-te a pessoa que mais querias ver no mundo, juntamente com a possibilidade de regressar a este lugar onde prometeste passar o resto da tua vida.

Os teus olhos recaem sobre a criança a teu lado, as suas feições escondidas do teu olhar pela sua juba de um magenta vivo.

Por todas as dezenas de mundos que cruzaste na última década e meia, talvez mais, atreveste-te a deixar pedaços de ti e desta mesma casa para trás, ao cuidado de quem consideraste digno da tarefa. Sempre que te sentavas a escrever as cartas que fariam companhia aos objetos a ser esquecidos, o teu coração tornava-se chumbo, caindo-te aos pés. Alimentavas esperanças de que as pistas que deixavas pelo caminho, 

        quais

                       migalhas

            nos

                       trilhos

           sinuosos

                             da

         floresta,

nunca encontrassem Lyoko.

Porém, enchias-te de medo na mesma medida, apavorada com a ideia de ter o teu menino no teu encalço, a enfrentar dificuldades e perigos dos quais não o conseguirias proteger.

Seria fácil para ele perder a noção do tempo, como tu a perdeste a dada altura. Seria fácil cruzar-se com sarilhos que colocariam a sua vida em perigo, como aqueles que quase levaram a tua. Seria fácil perder a lasca de madeira que ele guardou religiosamente no bolso interior da sua mochila, tal como tu ficaste sem bilhete de regresso para junto dos teus.

Felizmente, nada disso chegou a acontecer.

R e  s   p    i     r       a          s
f        u             n              d                o,
exalando alívio. 

Uma pontada de felicidade desabrocha timidamente em ti, ao te dares conta da semelhança que o espírito aventureiro e decidido do teu filho tem com o teu. Se não fosse por Lyoko, jamais terias conseguido regressar a este lar que tanta falta te fez todos estes anos.

Lyoko ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora