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Subi as escadas devagar, apertando os punhos das mãos para tentar controlar o tremor que ainda percorria meu corpo. Em minha mente, as palavras do Rei iam e voltavam. Eu já havia perdido a conta de todas as vezes que havia sido ridicularizada por aquele homem, mas pela primeira vez, aquele esporro havia sido presenciado por dezenas de pessoas. Já era claro para muitos que o governante do País não ia com a minha cara.

A aquela altura do campeonato, não podia tentar esconder de mim mesma o quanto a presença do Rei me afetava. Precisava assumir o quanto tinha medo daquele homem. Todas as vezes em que o Rei me levantava a voz, algo em minha mente se encolhia. Talvez devido ao efeito sonoro rígido e cheio de bravura que entravam pelos meus ouvidos, ou porque vê-lo tão alto e forte a minha frente, me lembrava com clareza o quando sou pequena.

Outra coisa que não saía da minha cabeça eram as costas de Maxon. Se um homem conseguia tratar o próprio filho com tamanha baixeza, o que não teria coragem de fazer comigo?

Tomei o rumo de meu quarto, pensando que na verdade eu não queria mesmo ficar na festa. Era uma perca de tempo, principalmente depois que eu havia decidido usar dos meus dias no palácio para a missão de August e Geórgia. Eu precisava me mover, em poucos dias conheceria os franceses e todo o plano precisava seguir com perfeição.

Ao invés da esquerda, virei a direita em direção a biblioteca pública que havia próximo aos quartos do andar. Talvez um livro sobre costumes franceses pudesse ser de grande utilidade.
As luzes da biblioteca estavam acesas, e um burburinho alto se aproximava a cada vez que eu avançava um passo em direção ao cômodo.

— Você não consegue nem fingir, esse é o problema. Eu vi quando você se levantou com bravura ao escutar a forma como o Rei falou com ela. — Era Kriss, em um tom de voz extremamente bravo.

— Jamais vou conseguir agir naturalmente ao ver meu pai tratar com tamanho desrespeito uma garota. Minha atitude seria a mesma com qualquer uma que estivesse sofrendo em suas mãos, Kriss. — E a voz de Maxon. Meu coração gelou, aquilo era uma briga de casal que eu com certeza não deveria estar escutando.

— Esse é o tipo de mentira que anda contando para si mesmo para esconder o fato de que continua apaixonado por ela? Mesmo depois de onze meses longe, tudo que você tem feito é pensar em América! Eu sou a sua noiva, e me machuca pensar que irei casar com alguém que só tem olhos para outra pessoa.

— Isso é você quem diz. — Ele falou.

Houve um minuto inteiro de silêncio antes que Kriss voltasse a falar alguma coisa.

— Que você havia me escolhido apenas pela raiva que estava sentindo no calor do momento, bem, eu já desconfiava. Mas achei mesmo que antes daquilo tudo você nutrisse o mínimo de sentimento por mim.

— Você sempre vem com esses assuntos, Kriss. Minha cabeça está latejando! Tire suas próprias conclusões sem tirar meu sossego, por favor! — Maxon levantou a voz. Aquilo era rude, mais uma vez.

Dessa vez, dei um pulo ao escutar o som de vidro quebrando na biblioteca. Um ruído furioso saiu da garganta de alguém, e por intuição minha mente me dizia que Kriss estava surtando.

— Pois vou lhe dizer uma coisa: Se suas atitudes permanecem, tomarei as minhas próprias! Tenho tido uma boa relação com seu pai, e imagino o quanto ele ia amar saber que América manteve um caso com um soldado em baixo do nariz da monarquia durante o período da seleção!

Minhas pernas bambearam, segurei na parede para permanecer de pé. Aquilo era inadmissível.
Como impulso, entrei no cômodo, a tempo de ver Maxon se levantando de uma cadeira e avançando no rosto de Kriss. Suas mãos a pegaram pelas bochechas, fazendo com que seu maxilar travasse e seus olhos se arregalassem.

— Nunca mais repita isso, entendeu? — Seu olhar era rígido e triste. — É a mim que deve sua confiança, Kriss. Serei seu marido e você obedecerá a minha palavra. Se me ameaçar novamente, quem será indiciada por alta traição será você!

Kriss assentiu, cheia de medo.
Foi nesse momento que enxergou além da bravura do futuro marido e me viu na porta. Maxon percebeu seu espanto, e se virou, disfarçando. Quando percebeu que era eu quem estava ali, algo em seus olhos voltou a normalidade. Sem nem cumprimentar ou se explicar, ele saiu do cômodo batendo os pés.

A tensão triplicou quando eu e Kriss ficamos sozinhas. Por mais que dentro do meu corpo a vontade maior era a de iniciar uma briga devido a ameaça que ela havia me redigido, corri ao seu encontro para perguntar se ela havia se machucado.

— Você está bem? Deixe-me ver se as bochechas estão marcadas. — Falei me aproximando.

Foi nesse momento que senti, forte e de repente. Com raiva brotando em seu corpo, e força triplicada por toda a adrenalina que percorria em sua alma, Kriss me deu uma tapa no rosto.

Eu não podia me sentir mais idiota.

DEPOIS DE A ESCOLHA: DE VOLTA AO CASTELO.Onde histórias criam vida. Descubra agora