Barganha

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Alerta de gatilhos: menção a estupro, abuso sexual, psicológico, físico e infantil, pedofilia, sequestro, agressão, entre outros semelhantes.

××××

Griffin lentamente saiu de seu quarto, olhando para seus pés descalços enquanto ouvia o contraste do ranger da porta e dos passos apressados de seus pais correndo em sua direção.

A figura de sua mãe se pôs à frente da de seu pai e se ajoelhou para si para ficar à sua altura. No entanto, tudo que Griffin pôde ver era submissão.

Afinal, era assim que o Sequestrador lhe colocava para se sentir superior e para lhe obrigar a provar algo que ele nem imaginava que podia ser usado daquela forma.

Griffin levantou o rosto e enxergou sua mãe entre os fios de seu cabelo que incomodavam um pouco os olhos, sentindo-se, pela primeira vez em muito tempo, confiante.

— Oi, anjinho. - Sua mãe sussurrou, talvez por ter presenciado surtos demais para que não entendesse o que deveria ou não fazer. — Vamos comer, hm?

— Vance... - Griffin murmurou de volta.

Seus pais se entreolharam confusos, em dúvida sobre o que Griffin queria dizer ao citar o nome do garoto que havia lhe salvado.

Obviamente, os adultos eram gratíssimos a Vance Hopper; antes de Griffin acordar, eles só não abraçaram o garoto Hopper porque ele recusou o contato. Mas era só isso que pretendiam fazer, não queriam manter contato.

— Eu quero ver o Vance... Hopper... - Griffin desviou o olhar e tremeu.

— Mas filho... - Seu pai contestou e se agachou ao lado de sua mãe. — Não podemos te deixar sair assim tão cedo. Não é seguro.

Griffin também não queria sair; queria ficar em seu casulinho chamado quarto, onde ninguém poderia lhe alcançar, onde ninguém poderia lhe bater, tirar suas roupas, colocar-lhe para provar coisas que não queria, infringir-lhe dor mesmo quando implorava para que parasse.

Dentro de seu quarto, ninguém poderia abrir suas pernas e perguntar se gostava daquilo. E ninguém poderia lhe obrigar a falar que sim.

No entanto, Vance Hopper era uma luz, seus cachos louros eram brilhantes e pareciam auréolas de um anjo para alguém tão perdido na escuridão como Griffin, em que seus fios loiros eram opacos e desgastados.

— Mas...

— Além disso, temos que lhe levar na delegacia, hm? - Sua mãe concordou com seu pai. — Para que possamos... Hm...

— Possamos prender o cara mau. - Seu pai completou ao ver a mulher desnorteada sobre o que dizer ou não.

Griffin arregalou os olhos e balançou a cabeça negativamente, desesperado para não ir. Ele não queria ir à delegacia.

Talvez devesse se sentir aliviado e feliz por ser escutado e poder se vingar daquele que um dia foi seu dono, mas Griffin não queria se envolver, não queria falar sobre o que passou, não queria entrar em um local cheio de homens robustos, sérios e cautelosos, porque ele sabia que qualquer um deles poderia ser igual àquele que lhe tomou contra sua vontade.

— Não, por favor, não. - Ele implorou e cerrou os punhos.

— Meu filho, por favor... - Seu pai implorou de volta e se moveu para agarrar sua mão, mas foi recusado pelo tapa que Griffin deu nela. — É importante você ir, assim poderemos garantir sua segurança.

— Vocês disseram que não era seguro sair. - Griffin contestou, respirando fundo. — Eu não quero sair para falar sobre ele.

O garoto sentiu seu coração pesar, uma sombra tomar seus ombros e o desespero se alastrar entre seus braços, que agora tremiam na tentativa de se conterem para não arrancar seus cabelos como havia feito no hospital. O Sequestrador não gostava de marcas que não fossem as que ele mesmo havia implantado, então Griffin não podia se ferir fisicamente para esquecer aquela merda. No entanto, arrancar fios não causava marcas e doía em alta escala, então era seu método de fuga.

Dores SolitáriasOnde histórias criam vida. Descubra agora