Você é meu Lugar seguro

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Beatrice estava distraída enquanto caminhava pelos corredores da escola, absorta em seus pensamentos sobre a aula de matemática que havia acabado de ter. De repente, seus livros escorregaram de seus braços e caíram com um estrondo no chão. Ela olhou para baixo, um pouco envergonhada, e começou a recolher os livros quando uma mão se estendeu na sua direção.

-"Deixe-me te ajudar com isso", disse uma voz familiar. Beatrice olhou para cima e viu Oliver, o amigo que ela negava ter uma queda, sorrindo para ela. Ele rapidamente recolheu os livros e os segurou firmemente em seus braços.

-"Obrigada, Oliver", murmurou Beatrice, sentindo seu coração bater mais rápido com a proximidade dele. Imediatamente repreendeu a si mesma em pensamento.

-"Sem problemas, Beatrice. Você está bem? Parece meio distraído desde a aula de educação física" Ele perguntou, olhando-a nos olhos com preocupação.

-"Sim, estou bem", ela respondeu rapidamente, sem querer dar bandeira do que ela pensava realmente.

Mais tarde, durante uma aula juntos, Oliver mencionou casualmente uma garota chamada Nathalia, perguntando se Beatrice a conhecia. Ela sentiu uma pontada de ciúmes ao responder que não conhecia a tal Nathalia. Beatrice sempre soube que Oliver era popular entre as meninas,  mas a ideia de ele estar interessado em outra garota a deixava desconfortável.

Nos dias seguintes, Beatrice notou que Oliver estava trocando mensagens com alguém durante as aulas. Ela não conseguia evitar sentir-se triste e insegura, perguntando-se se ele estava realmente interessado nela ou se era apenas mais uma amiga.

Quando Oliver percebeu a mudança no comportamento de Beatrice, ele tentou abordar o assunto novamente. "Você está estranha. O que aconteceu?"

Beatrice respirou fundo, tentando disfarçar sua tristeza. "Está tudo ótimo, Oliver. Só estou um pouco cansada", mentiu. Ela teria que inventar uma desculpa melhor - “ A garota com quem jogamos, Agatha. Eu queria tentar fazer amizade com ela, mas tenho medo. Toda vez que me aproximei de alguém na escola essa pessoa foi um pé no saco. Me vejo na solidão dela. Aquele dia que jogamos foi tão bom. Nunca tive uma amiga mulher além da minha mãe.

-  Tenho certeza que qualquer um que não quiser ser seu amigo é um bobo. Tenta conversar com ela se é isso que você quer. Eu posso te ajudar nisso também.

-  Eu vou pensar mais nisso. - pausou - e você? Não para de mandar mensagens. Também está com uma amiga. Nathalia, né?

-  Não é bem isso. Mas depois eu te explico melhor, tá? - ela assente, vira o rosto e revira os olhos com um bico.

Mais tarde naquele dia, Beatrice foi ao banheiro e teve uma crise de ansiedade, questionando sua própria beleza e autoconfiança. Ela se perguntava se era bonita o suficiente para alguém como Oliver e se deveria arriscar abrir seu coração para ele. A resposta racional sempre era “não”. Mil vezes NÃO. 

Quando voltou para a última aula Oliver disse que precisava conversar com ela depois da escola. A convidou para ir em sua casa e ela aceitou. Eles foram juntos com o motorista dele. Chegando na casa ela percebeu que ele era muito mais rico do que ela tinha imaginado. Tinham trocado de casa depois da última festa. Essa tinha um estilo inglês muito chique comparada à antiga. Ela não pode deixar de comentar “O estrago foi tão grande que mudaram de casa”.

Já na casa eles foram até o quarto de Oliver. Ela estava com um frio na barriga, não sabia qual o assunto sério dessa conversa. Por outro lado, estava sozinha com um garoto, o que a deixava apreensiva.

Oliver entra e se senta em uma cadeira, com um olhar distante e uma expressão sombria no rosto. Beatrice, sua melhor amiga, olhava preocupada para ele, tentando entender o que se passava em sua mente.

-"Beatrice, eu preciso te contar algo que eu nunca contei para ninguém antes", disse Oliver, com a voz carregada de tristeza.

Beatrice se aproximou dele e segurou sua mão, acariciando timidamente e encorajando-o a falar através do gesto. Oliver respirou fundo e começou a relatar a história de sua infância traumática.

-"Meus pais são empresários de sucesso, sempre ocupados com seus negócios e viagens. Eles exigiam muito de mim, queriam que eu fosse o melhor em tudo. Mas, ao mesmo tempo, eram ausentes, nunca estavam presentes quando eu mais precisava deles. Eu me sentia sozinho, abandonado", disse Oliver, com a voz embargada.

Ele continuou contando como, aos poucos, foi entrando em um estado de tristeza profunda, sem conseguir encontrar uma saída. Foi assim que a depressão se instalou em sua vida, os dias pareciam intermináveis e a luz no fim do túnel parecia cada vez mais distante.

-"Eu só recebi o diagnóstico de depressão anos depois, quando já estava completamente perdido. Foi aí que meus pais finalmente perceberam que algo estava errado, que eu precisava de ajuda. Me deram atenção por uma semana esperando amenizar a situação... Mas, mesmo assim, eles continuaram distantes depois, ocupados demais com suas vidas para realmente se importarem comigo", desabafou Oliver, com lágrimas nos olhos.

Beatrice abraçou seu amigo, sentindo uma mistura de tristeza e raiva pela situação que ele havia passado. Ela se perguntava como pais tão bem-sucedidos podiam ser tão negligentes com o bem-estar de seus próprios filhos.

-"Oliver, eu estou aqui para você, sempre estarei. Você não está mais sozinho, eu prometo", disse Beatrice, com sincero carinho.

Oliver sorriu tristemente, agradecendo o apoio de sua amiga. Ele sabia que ainda havia um longo caminho a percorrer para se curar completamente e que os remédios eram sua maior salvação até aquele momento, mas agora tinha alguém ao seu lado para ajudá-lo a superar as marcas de um passado doloroso. E, aos poucos, ele começou a perceber que a verdadeira família não é aquela que compartilha o mesmo sangue, mas aquela que está ao seu lado. E em meio aquele abraço, ele se sentiu seguro e amado... Beatrice era especial, disso ele tinha certeza.

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