Um quase algo

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Beatrice adentrou o ginásio do time de futebol feminino, seu refúgio secreto, com os olhos marejados de lágrimas. O ambiente estava envolto em uma penumbra suave, a luz filtrada pelas cortinas fechadas criava sombras dançantes nas paredes caiadas de branco. O cheiro de grama recém-cortada misturava-se ao aroma metálico das barras de ferro e dos aparelhos de fitness espalhados pelo espaço amplo.

O chão de cerâmica fria ecoava o som dos passos apressados de Beatrice, seu coração pulsando descompassado em seu peito angustiado. Ela se escondeu atrás de um armário repleto de bolas de futebol, buscando um momento de solidão para liberar as emoções que transbordavam de seu ser. As lágrimas silenciosas escorriam por suas bochechas avermelhadas, criando rastros brilhantes em contraste com a sua pele morena.

As palavras de Oliver ecoavam em sua mente, como um punhal afiado perfurando sua alma sensível. A revelação de que ele não a via como algo além de uma amiga fiel e leal dilacerou o coração de Beatrice, fazendo-a duvidar de suas próprias emoções e esperanças. Ela sentia-se humilhada pela conversa ouvida entre Oliver e Erica, a líder de torcida que sempre a tratava com desdém desde os tempos de infância.

A sensação de vulnerabilidade e solidão tomou conta de Beatrice, envolvendo-a em um manto de tristeza e autocomiseração. Ela reconhecia que seu amor platônico por Oliver nunca seria correspondido, mas o golpe final de ouvir isso de seu próprio amigo a deixou dilacerada por dentro.

Enquanto as lágrimas teimavam em molhar suas bochechas, Beatrice foi surpreendida pela presença silenciosa de Agatha, a gótica de olhos verdes. A jovem de cabelos negros como a noite e piercings reluzentes nos lábios estava sentada em uma das cabines do ginásio, mergulhada em sua própria solidão. Ela percebeu a angústia de Beatrice e estendeu seu ombro para a garota chorar, oferecendo seus ouvidos atentos para ouvir as confissões doloridas que brotavam de seu coração partido.

Beatrice hesitou por um momento, mas a compaixão genuína nos olhos de Agatha a acalmou. Entre soluços e suspiros entrecortados, a garota despejou sua dor e suas esperanças não correspondidas, desabafando sobre seu amor platônico por Oliver e a sensação de inadequação e rejeição que a consumia por dentro. A presença de Agatha trouxe um conforto inesperado, uma sensação de solidariedade compartilhada que suavizou ligeiramente as arestas pontiagudas da dor de Beatrice.

Enquanto as horas passavam lentamente e as sombras se alongavam pelas paredes do ginásio, Beatrice encontrou um pequeno alívio em compartilhar seus sentimentos com Agatha. A gótica de olhos verdes escutou atentamente, sem julgamentos ou críticas, apenas oferecendo seu apoio silencioso e sua presença reconfortante. E naquele momento de vulnerabilidade e honestidade, Beatrice descobriu que, apesar das desilusões e dores do coração, a amizade verdadeira e a empatia sincera ainda tinham o poder de curar as feridas mais profundas da alma.

Depois de muito procurar Beatrice pela escola, Oliver desistiu e voltou para casa quando as aulas terminaram. No entanto, a lembrança do ocorrido não fugia de suas lembranças. Perturbado, observou o celular esperando uma resposta às suas mensagens e retorno de suas ligações. Sem sono ele se viu rendido. Precisava atravessa a cidade e olhar nos olhos de Beatrice e averiguar se tudo estava bem. Embora fosse a tivesse conhecido a pouco tempo ela já era uma peça vital em sua vida. Ele já tinha em sua mente que ela seria sua leal conselheira e confidente, seu porto seguro. Então, sem mais nem menos, ele bediu um carro lá elas três da madrugada. Este o legou à rua da casa de sua amiga.

As sombras da noite se estendiam sobre o tranquilo bairro residencial, envolvendo a rua de paralelepípedos e as casas silenciosas em um manto de mistério. Oliver caminhava com passos apressados, sua mente mergulhada em um turbilhão de sentimentos. Ele sentia o coração pesado ao lembrar da expressão triste nos olhos de Beatrice, e a dor que aquilo lhe causara era quase insuportável. O vento sussurrava entre as árvores, como se tentasse acalmar a tormenta que se agitava dentro de Oliver. Ele tinha que fazer algo, tinha que consertar as coisas com Beatrice antes que fosse tarde demais. Ele prezava por ela, e a ideia de perdê-la por causa de uma simples frase mal colocada era angustiante.

Ao chegar à casa de Beatrice, Oliver sentiu um frio percorrer sua espinha. Ele hesitou por um momento antes de jogar pedrinhas na janela do quarto do irmão da garota, Zack, por engano. O som das pedrinhas ecoou na noite tranquila, como um sinal indireto do que estava por vir. Minutos depois, Zack apareceu no quarto de Beatrice, acordando-a abruptamente com a notícia de que seu "namorado" estava jogando pedras na janela. Com o coração disparado, Beatrice desceu as escadas e abriu a porta da frente, encontrando Oliver parado no quintal, olhando-a com uma mistura de ansiedade e determinação.

O brilho da lua iluminava o rosto tenso de beatrice,  destacando a confusão nos olhos. Ela não sabia o que esperar daquela noite, mas uma sensação inexplicável a impelia a ouvir o que Oliver tinha a dizer. 

Oliver respirou fundo ao ver Beatrice e se aproximando dele no quintal. Seu coração batia forte e ele estava nervoso, mas sabia que precisava esclarecer as coisas entre eles. Ele olhou nos olhos dela e finalmente começou a falar.

-"Beatrice, eu sei que você ouviu o que eu disse mais cedo e eu preciso me explicar. Eu não quis te magoar, de verdade. Eu te considero uma amiga muito especial e eu não queria estragar essa amizade", ele começou, seu olhar suplicante.

Beatrice o encarou por um momento, sua expressão um misto de confusão e mágoa. "Oliver, eu entendo. Não precisa se explicar. Eu sei que somos apenas amigos", ela disse, tentando mascarar a dor que sentia.

Oliver a olhou nos olhos, tentando decifrar o que ela realmente estava sentindo. Será que ela estava apenas se resignando a ser sua amiga, ou será que havia algo mais ali?

-"Beatrice, eu preciso te dizer algo.", ele começou, sua voz falhando um pouco. "Eu nunca fui bom com sentimentos, mas eu preciso te falar a verdade. Eu me sinto... diferente, quando estou perto de você. Eu me sinto seguro, é a melhor sensação do mundo. Eu nunca tive alguém assim e não posso te machucar afirmando que é amor… eu nunca gostei de alguém e não sei como é gostar. Na verdade, minha criação foi aversa à qualquer tipo de afeto, então não os reconheço com facilidade. Não consigo nomear o que sinto por você. Eu sou mais familiar a tristeza e a solidão do que a qualquer sinônimo de amor e você sabe o motivo... - pausou com os olhos cheios de angústia se aproximando e segurando o rosto da garota - Não quero brincar com seus sentimentos, é você não merece lidar com a dor da minha indecisão. Não conseguiria retribuir se você sentisse...

- “Você é um garoto legal, Oliver…” - Beatrice começou - Eu sempre vou estar aqui para você. - ela força um sorriso e o abraça. Sua respiração fraca soa contra o peito do garoto enquanto a cabeça dele se inclina sobre a dela. A diferença de altura era acentuada. Eles ficam assim por um tempo então começa a chover e eles entraram até que Oliver chamou outro táxi para levá-lo à sua casa antes que os pais de Beatrice acordassem.

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