ℭ𝔞𝔭𝔦𝔱𝔲𝔩𝔬 𝔲𝔪

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Acordo imediatamente, sentindo todo o meu corpo arder e doer como se eu estivesse no inferno

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Acordo imediatamente, sentindo todo o meu corpo arder e doer como se eu estivesse no inferno. Cada parte do meu corpo parece ter sido desmembrada e fervida em um caldeirão. Minha cabeça dói para cacete, mas com um impulso rápido eu me levanto, tentando ver algo ao meu redor, mas tudo não passa de um grande borrão, atrapalhando completamente o meu entendimento do local, só consigo ver que estou na floresta, qual não sei. Começo a andar, tentando me lembrar de como vim parar aqui, mas nada me vem à mente, apenas uma escuridão imensa, então com a minha mente criativa começo a imaginar possíveis situações: talvez eu tenha tido algum tipo de sonambulismo, talvez eu tenha tido uma visão e tenha parado aqui por algum motivo, mas nada faz realmente sentido.

Minha visão começa a suavizar até que volta ao normal, e eu consigo perceber que estou realmente na floresta perto do meu coven, e sei exatamente como voltar para lá. Começo a correr apressadamente, rindo alegre, pronto para voltar a minha família, que provavelmente está muito preocupada comigo, já que não costumo sair de casa sem avisar. Quando percebo que estou perto da aldeia diminuo os passos, passando o olho pelo local.

As pessoas da minha aldeia se ajudam enquanto salvam as outras de escombros das barracas, totalmente sujas de sangue e as roupas rasgadas por conta do fogo e espada. Outras colocam panos brancos sobre corpos colocados alinhadamente no chão, chorando e soluçando, algumas até gritam de dor em meio ao choro. Tudo aqui está destruído e queimado. Tudo isso faz com que um déjà vu passe pela minha cabeça: andando pela floresta enquanto sangue derramava das árvores, andando em meio ao sangue daqueles que matei com um cerrar de mãos. Meus olhos tomavam um vermelho brilhante e o fogo escapava das minhas mãos, um fogo que saia de dentro de mim. Eu não destruí esse lugar. Mas eu matei milhares de pessoas.

Minhas pernas fraquejaram e eu caí no chão, as lágrimas já escapando dos meus olhos. As pessoas que nem prestavam atenção em mim há poucos segundos agora me encaram assustadas e preocupadas, lembro dos rostos de algumas delas das lembranças da noite passadas. Elas fugiam de mim ou se escondiam de mim. Elas têm medo de mim.

Eu era conhecido por ajudar as pessoas, por ser amado por elas, por elas quererem estar perto de mim para rir e serem ajudadas, mas agora... tudo que sentem por mim é... medo. E o pior de tudo é que eu também tenho medo de mim nesse momento.

Me levanto cambaleante, mas novamente caio, e quando olho para baixo vejo a lama sobre mim e o sangue encharcando a minha roupa e me lembro o porquê: caminhei sobre o sangue, fiz soldados explodirem, fiz cabeças rolarem. Tudo isso foi o culpado por eu ter de estar completamente sujo de sangue. Completamente encharcado e ter me tornado um assassino a sangue-frio.

Durante todo o momento as lágrimas não paravam de rolar pelo meu rosto, que agora percebo que está do mesmo estado do meu rosto. Coberto de sangue e de lama. E nesse momento percebo que tudo sobre os meus pés desabou.

Eu sou um assassino.

***

Meus pais colocam o cobertor sobre os meus ombros, e o calor imediatamente se estende pelas minhas costas. A xícara em minhas mãos queima sobre os meus dedos, mas a dor em meu coração e o turbilhão em minha mente faz com que eu a ignorei completamente, escuto as vozes dos meus pais e os anciãos conversando furiosos, tentando pensar com o que vai fazer comigo. Discutindo se vão me matar ou apenas me expulsar do coven. Eu não consigo escutar muito pela bagunça de memórias e dor que minha cabeça está, então apenas coloco a xícara de chá sobre a bancada e me deito no sofá, me enrolando no cobertor e fechando os olhos, mas no mesmo instante as memórias não estão apenas na minha cabeça, estão também assombrando os meus sonhos. Mas mesmo assim eu durmo.

Caminho pela floresta com a cesta na mão, sorrindo alegremente depois de ter passado um dia no rio, colhendo algumas plantas medicinais que a minha mãe me pediu, a curandeira e chefe do Conven Danvines, até que avisto um movimento estranho entre os arbustos e as árvores. Escuto os sussurros dos espíritos em meus ouvidos, me pedindo para correr e me esconder. Mas eu faço o contrário, continuo andando. Os espíritos, no entanto, agora gritam para que eu fuja, porém, eu preciso avisar aos meus pais o que está acontecendo. Meus pés começam a se movimentar mais rápido quando escuto algo se movimentar atrás de mim, e quando percebo que isso quer me fazer mal, eu me viro, já pronunciando o feitiço. O homem que se aproximava rapidamente de mim é jogado fortemente para trás, o que me dá tempo de correr, mas quando estou prestes a fazer isso um baque atinge a minha cabeça por trás, fazendo a minha visão ficar escura.

Mas nessa escuridão vejo algo se acender. Fogo, forte e brilhante. Esse fogo logo começa a se espalhar por toda a escuridão do meu subconsciente, tomando cada mínimo centímetro. Eu tento fugir, mas o meu corpo simplesmente não se mexe, sou obrigado a ficar vendo aquele fogo se aproximar cada vez mais de mim, até que chega. Mas ao invés de me queimar, ele faz algo dentro de mim se acender. Raiva. Ódio. Angústia. Dor. Eu fecho os olhos, tentando processar tudo o que está acontecendo dentro de mim. Esse fogo que agora me consome por dentro, faz com que todo o meu corpo revire. Enquanto estou tentando me soltar das amarras que me prendem ao fogo ardente e doloroso, vejo um corpo levemente apagado pela escuridão se aproximar, totalmente desfocado.

Quando a pessoa finalmente se aproxima vejo seus olhos de vampiro, com as veias estourando, a cor marrom fica mais forte e evidente com o vermelho sanguinário ao redor de suas orbes. Totalmente morto e antigo. Seus cabelos são pretos como a noite, e a sua pele é pálida de uma pessoa morta, literalmente. Mas o que mais me chama atenção nesse homem é a beleza dele. São diferentes de tudo o que já vi, diferente de todas as formas que já pensei que teria em um vampiro. Parece... morto, mas tão vivido. Tenho vontade de tocá-lo, de sentir o frio de sua pele, e quero sentir ele, no entanto, não consigo, não posso. Escuto a sua voz sussurrar, fria e cortante, fazendo algo se acender dentro de mim. Fazendo o fogo entrar dentro de mim.

"Salve eles"

É o que ele sussurra.

E de repente eu não me lembro de mais nada.

Minha respiração está irregular, meu coração bate desregulado, e a minha visão está embasada nos cantos, e por isso consigo ver os rostos preocupados dos meus pais e das minhas irmãs, também da anciã que mais se preocupa comigo, Amaranta. Coloco a mão sobre o meu peito, regulando a minha respiração, e finalmente posso ouvir o que o meu pai está falando.

— Ei, filho, está tudo bem? — Ele repete isso diversas vezes, alisando as minhas costas em uma tentativa falha de me acalmar. — O que aconteceu? — Ele também repete isso diversas vezes.

— Eu estou bem, só... preciso me acalmar. Está tudo bem. — Digo entre suspiros, colocando fios rebeldes dos meus cabelos. Meus olhos vão em direção a xícara de café sobre a mesa, e lembro que ela estava fumegante a poucos minutos, mas agora parece fria demais. — Por quanto tempo eu dormi? — Levo meus olhos até o meu pai, e percebo que ele me olha confuso por longos segundos, até que se afasta de mim, pondo uma feição séria, e no mesmo instante a mesma coisa acontece com todos que estão na sala. — O que foi?

— Essa não é a pergunta certa, a pergunta certa é: o que aconteceu enquanto você estava dormindo?

— O quê?

— Enquanto dormia, espíritos apareceram e sua irmã teve uma visão, tudo dizia que você era perigoso, mas... devíamos te proteger e você devia nos proteger. — Minha respiração fica irregular. Eu sou algo perigoso?

— Eu sou algo perigoso? — Levanto-me do sofá de couro, sentindo todo o meu corpo doer demais para continuar em pé, então sou obrigado a me sentar novamente, respirando pesado. — Por que todo o meu corpo dói? — Resmungo, normalizando a respiração. Olho para minha irmã Anissa, a única de nós que consegue ter visões mais frequentemente. — O que você viu? — Pergunto, e vejo ela engolir em seco, e desviou o olhar de mim, parando em qualquer lugar. — O que foi?

— Tinha um garoto. Um vampiro. Mas ele não parecia ser qualquer vampiro. — Ela cruza os braços em frente ao peito, e vejo uma sombra pairando sobre o seu rosto, fazendo meu coração ficar ainda mais apertado. — Não sei qual a diferença dos outros, mas ele é definitivamente diferente. E sei que ele tem alguma coisa com você. — Ela olha para mim, fixamente. — E quanto a você, eu vi o que você viu, Benjamim. Eu sei o que ela fez com você. — Eu me assusto, e olho para cada um que está perto de mim, esperando alguma explicação.

Ela? Quem é ela?

Entre Espinhos e FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora