Jayden Christenson
As vezes eu sinto como se estivesse prestes a morrer a todos os instantes.
Sinto que minha pele está sempre desgrudando do meu corpo, e minha carne quebrando cada osso meu.
E as vezes eu sinto como se fosse feito de porcelana, que já está quebrada há muito tempo. A tanto tempo que eu nunca poderia contar nos dedos. Cada parte desse pequeno objeto está estilhaçada, espalhadas pelo chão, e o líquido que sai dela é sangue. Não o meu. O de todas as pessoas que eu já matei. E esse sangue mancha a peça.
Cada parte de mim é apenas uma fração da grande ilusão que criei. Da grande tortura que eu me mete, Um fração do inferno que eu criei para mim mesmo. Como a porra de um farsante, criando um teatro feito de vidro. Um teatro cuja peça que está sendo apresentada nunca pode parar, fazendo os pés do bailarino sangrarem, e a dor se infiltrar por todos os lados. A música feita de gritos o deixa surdo. E as lágrimas de sangue nunca param de escorrer. Esse é o preço do inferno, nunca pode ser destruído. E o fogo não pode ser apagado.
Mas o que mais destroi não é o fato de se estar preso. O que me doi mais é saber que não posso deixá-lo. Porque sei que se eu for embora, doesse nele como doeu em mim. Como doeu em todas as outras vezes. Não o culpo por me transformar no que sou agora, e ele definitivamente não é o culpado. O culpado sou eu, por ter destruído a minha própria vida tentando saciar a fome que não ia embora. Desligando a minha parte humana todas as vezes que ficava difícil.
Esse sou eu.
Apenas um medroso que se esconde atrás da pilha de cadáveres que eu mesmo montei.
Abri os olhos devagar, tentando fingir que o corte profundo que fiz em meu braço está doendo. Fingindo que todo o meu corpo tem um pingo de parte humana. Fingindo que todo o meu corpo não é apenas um cadáver ambulante. O sangue frio se espalha por todo o banheiro, se misturando com a água da banheira, que transborda pelas horas que estou aqui dentro. Continuo olhando a cena, do líquido escarlate se misturar com o líquido transparente, se tornando um vermelho fraco, até que sinto meus cortes começarem a se curar, fechando lentamente, por conta dos muitos ferimentos. Até que deixem de existir.
Um suspiro angustiado saiu de mim, e eu me levantei completamente pelado, me enrolando em uma toalha. Saio do banheiro, deixando a sujeira que fiz para trás. Coloco uma roupa completamente preta e saio do meu quarto, caminhando pelos corredores silenciosos da mansão, escuto tudo que acontece a um raio de dez quilômetros, os pássaros, o movimento do vento entre as árvores, o riacho que corre atrás da casa. E o seu coração. Batendo tão vívido quanto o de qualquer ser vivo nessa terra. Escuto o seu respirar, e o leve ronco que ele dá, e no mesmo instante escuto ele acordar desesperado.
"Porra." Ele sussurrou, e eu dei uma risada leve. Desde a nossa primeira vida eu achava engraçado a forma com que ele tinha a boca suja, sempre estava se metendo em alguma encrenca por causa disso, seus pais odiavam isso nele. Mas eu adorava. Era a única coisa que me fazia rir quando eu estava em um dia péssimo.
Caminho por mais alguns segundos até que entro no seu quarto. Encontro ele sentado na cama, vestindo apenas uma blusa minha, que eu acho que foi a única coisa que consegui encontrar ontem a noite. Meus olhos descem para as suas pernas peladas, com apenas os pés cobrindos pelo edredom, e rapidamente memórias das noites em que transamos em suas vidas anteriores aparecem em minha mente, fazendo com que o meu corpo reaja de uma forma negativa a isso. Meu pau querendo ficar duro.
Porra.
— O que você está olhando? E que porra de roupa é essa? Que escrota. — Ele quase grita, e esqueço que aflorei o sentido da audição, fazendo isso parecer dez vezes mais alto. Desvio o olhar rapidamente, pigarreando.
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Entre Espinhos e Fogo
Fantasy"Dito as palavras com afinco, e logo depois o sangue de um soldado se espalhou pelas árvores e pela relva. O poder está se espalhando por todo o meu corpo, saindo por cada fio de cabelo, pelas pontas do meu dedo, pelos meus poros. E a raiva se mistu...