III. Valsa De Uma Cidade

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Tinha acordado junto com as galinhas hoje. Não conseguia parar de pensar no desfile, tinha que sair tudo perfeito.

A agência ia de vento em popa. Quiçá uma das melhores fases, de longe.

Me remexi tanto na cama durante a noite que preferi levantar logo e correr na praia antes de começar o dia. Sinto que se eu não descontar minha ansiedade em algo vou ter um siricutico.

Sentia o vento do mar no meu rosto. O sol queimar, e queimar. Pontualmente às 8h da manhã e a calçada cheia de gente. Os via passar, me viam passar. Olhe Rio de Janeiro, gosto de você, e gosto de quem gosta.

*

- Bom dia Alexandre. Fiquei bastante empolgada com este desfile, tenho três modelos e acho que você não vai discordar de nenhuma. Posso te garantir que são ótimas.

- Prossiga, quero saber quem você escolheu. - Apoiei minhas mãos em meu maxilar atento no que Marieta tinha a dizer.

- Alessandra, Vanessa e Giovanna. Elas têm o perfil ideal para isso. São lindas, cativantes, sedutoras, tenho certeza que não vão decepcionar. São as melhores.

- Certo. Você tem razão. Mas Giovanna não. Busque outra para colocar no lugar dela.

- Mas Alexandre..

- Sem mas. Tá decidido. Agora pode ir avisar Alessandra e Vanessa, preciso terminar de ler alguns documentos.

Eu bem sabia que devia tá feio para um homem que nem eu ter crise de ciúmes nesta idade. Mas aquela maldita tinha desatinado meus pensamentos. Só de imaginar ela desfilando para no mínimo 300 pessoas somente de lingerie fez meu sangue ferver.

Caminhei pela sala indo até o carrinho de bebidas. Acho que foi meu melhor investimento colocar um desse aqui. Whisky e duas pedras de gelo, sempre.
Finalizei a bebida em dois goles. Forte, fortíssimo. Sentia meu peito queimar e nem era pela bebida. Essa queimação toda tinha nome, sobrenome e endereço.

Conheci ela há duas semanas, mas tem algo na Giovanna que me atrai por inteiro. Não sei se cabia qualquer espaço de dúvida e sentimento ali. Mas, algo nela me chamava.

Um tempo depois me dirigi até o estúdio B. Queria ver como estava o ensaio para o desfile e quem Marieta tinha chamado no lugar de Giovanna.

Mas chegando lá dou de cara com ela, analisando o ensaio também. Cão, cão, cão.

- Resolveu vir ver como andam as coisas, chefinho? - Articulosa, sempre.

- Sempre. Tá fazendo o que aqui? Achei que tivesse ido embora já.

Mesmo estando a alguns passos dela, contra minha vontade, mas precisava manter os bons costumes na frente de todos. Ainda assim, conseguia sentir o cheiro inconfundível do perfume dela. A tentação é pesadíssima.

- Apesar da sua crise de ciúmes antecipada comigo, resolvi ficar para ver o ensaio, Ale. - Falou enquanto seu indicador erguia a ponta do meu queixo. Me olhava no fundo dos olhos, não sei se por raiva ou o que.

- Ciúmes? Você se garante muito, né Giovanna. - Espero que eu tenha conseguido fingir pelo menos um pouquinho. Não ia entregar de bandeja para ela.

Senti quando ela se aproximou de mim. A boca colada no meu ouvido. O frio na barriga. O arrepio na nuca. Tudo que ela podia causar em mim ela causava. E muito bem.

- Me garanto, com certeza. Mas eu lembro perfeitamente de você desnorteado na noite que passamos juntos. - Cada palavra sussurrada em meu ouvido.

- Fica mais bonito você admitir que não quer que me vejam de lingerie. Mas já adianto que tá pra nascer o homem que vai mandar em mim, bonitinho.

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