Programa Fogo na Conversa - Quinto Bloco

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E voltamos para o penúltimo bloco do nosso programa, que está quente, pingando fogo! O Fogo na Conversa tem o oferecimento das Pastilhas Marajoara. Para hálito fresco e garganta irritada a solução é Marajoara! Magazine Paula, de móveis a eletrodomésticos, tudo que sua casa precisa! Vem na Paula que ela tem! E se seu problema é caspa? Calvície? Os fios brancos estão aparecendo antes da hora? Então a solução é Vitabellon! Este revolucionário tônico capilar promete acabar com seus problemas e recuperar sua confiança no trabalho, nas festas e na hora da paquera. Sua autoestima de volta com Vitabellon!
Nesse bloco temos muitas emoções e revelações de deixar o cabelo em pé! Para isso contamos agora com a participação da nossa última convidada. Mas não é só isso, porque no intervalo a produção me procurou e fui avisado que teremos uma participação surpresa ainda está noite, nem eu sei quem é, mas que pelo que vi promete e promete muito, o fogo chega a incendiar o nosso auditório!
Então eu chamo agora para a última participação individual do nosso programa a médium e líder espiritual Mirian da Glória!
Chega mais Mirian!
Ela vem sob aplausos desconfiados e olhares de curiosidade. Mas sorri e acena mesmo assim.
-Bom, antes de mais nada tem uma coisa que eu quero saber e o país todo também. O que é uma médium? Como é o seu trabalho?
- Bom Ciro, é um trabalho, é uma missão, é uma responsabilidade de muitas frentes. Eu recebi esse presente que também é uma dor de cabeça. No meu caso é voltado pra clarividência, para a cura e comunicação com os espíritos.
- Como assim você recebeu? Alguém apareceu e te deu esse dom?
- Mais ou menos isso. Na verdade desde criança eu sempre ouvia vozes de pessoas que não estavam lá e depois comecei a ver gente que não estava mais aqui, já tinha feito a passagem.
- Você está falando de fantasmas não é? Só para nosso público entender.
- Eu prefiro chamar de espíritos Ciro, mas sim, é isso mesmo.
- É impressionante! E você pode nos dizer como são essas pessoas que fizeram a passagem? Como você sabia que essa pessoa estava viva ou era um espírito?
- Primeiro porque eles agiam diferente das outras pessoas. Pareciam estar procurando algo e quando olhavam pra mim vinham levemente na minha direção de mão estendida. Depois eu perguntava por uma certa pessoa que eu via em casa ou em outro lugar e os adultos da minha família diziam que não conheciam ou não viram ninguém como eu dizia. Até o dia que eu descrevi uma mulher que meu disse ser minha tia avó. E ela estava morta anos antes de eu nascer. Depois o mesmo com um primo de segundo grau...
- Mas como você era criança, poderia ser qualquer coisa, inclusive a imaginação. A imagem podia ser de uma foto que você viu.
- Ciro, você não sabe quantas vezes eu já ouvi isso dos médicos e dos psicólogos. Só tem um problema, minha família era muito pobre naquela época e esses parentes mortos eram mais pobres ainda. Eles nunca saíram em nenhuma foto que a gente tinha em casa.
- E isso não era assustador?
- Olha Ciro, no exato momento em que me disseram do que se tratava eu morri de medo, eu tinha uns 10 anos. Depois quando eu fiquei mocinha e tudo ficou mais frequente e mais forte eu não queria aceitar, me assustava, ficava revoltada com todo mundo me chamando de louca, de mentirosa.
Ciro observou a plateia com olhos vidrados no relato daquela mulher e imaginou como o público estaria em casa.
- Eu fui pra igreja, busquei ajuda e me colocaram num convento. Os padres tentaram, só que nada melhorava. Aí conheci a irmã Odete. E ela me disse que era igual a mim, sabia o que eu estava passando. Que na verdade eu tinha um presente de Deus para cumprir uma missão. E ali eles só iriam me fazer negar esse dom como fizeram com ela. Ela me aconselhou a sair, aceitar meu presente e ajudar as pessoas.
- E essa irmã Odete? A senhora tem contato com ela?
- Ah essa era uma verdadeira santa, vc'não está mais entre nós, fez a passagem e está junto com Deus.
- E como a senhora pode ter certeza disso? Que ela está salva e nas graças de Deus?
A câmera faz questão de ficar Pastor Silvério soltando um sorriso.
- Bom, é porque ela não veio falar comigo ainda. Apenas dois tipos de espíritos me procuram, aqueles que precisam de ajuda para seguir em frente e os espíritos superiores que passam ensinamentos para evolução espiritual. Irmã Odete, seria um desses, mas se depois de tantos anos não se manifestou dessa forma, com certeza está na presença de Deus recebendo a graça.
Entendo. Então a senhora saiu do convento e foi procurar desenvolver seu dom?
- Foi o que eu fiz e depois de dez anos abri a Casa de Oração e Cura em Ubiratã.
- E Ubiratã fica pertinho do triângulo das luzes não é?
- Fica sim Ciro.
- Ah certo. E o quê exatamente se faz nesse lugar?
- Lá no Centro nós fazemos o trabalho de caridade e acolhimento de pessoas necessitadas, ensino de educação espiritual onde eu ajudo pessoas com a mediunidade aflorada, tem também os trabalhos de cura através do espírito
-  Ouvi dizer que formam multidões em frente ao Centro para te ver. Vem gente de todo país atrás das curas milagrosas.
- É verdade, nós atendemos tanta gente nos últimos anos que tivemos que solicitar ajuda da prefeitura para receber a todos! E é claro temos também o trabalho do espírito consolador, que acontece todas as sextas. Também atrai um grande público.
- Impressionante! Explica pro público o que seria esse dia do espírito consolador?
- Com certeza, deixa eu explicar. Para nós acreditamos que o Salvador é um espírito tão evoluído e tão amoroso, que não suporta a dor das famílias, das pessoas amadas, os órfãos e das pessoas enviuvadas. Então ele permite a visita e o contato entre aqueles que já partiram com aqueles que ficaram. É uma prova de amor, mas também uma prova da vida eterna, que continua em outro lugar.
- Mas isso é blasfêmia. Pior, é anátema! Resmungou Pastor Silvério longe do microfone é claro.
- E nós fazemos a comunicação com os entes queridos do outro lado.
- E o outro lado seria o além?
- O mundo além desse, para onde vão os espíritos que não podem mais habitar a carne. Mas podemos chamar de Além, pois é um lugar além do nosso alcance em vida.
Os olhos da plateia não saiam daquela mulher, suas, mãos iam até as bocas e sinais da cruz eram realizados
- Mas eu já aviso que não é como as pessoas pensam, a gente não invoca nenhum espírito, nenhuma entidade. Nada disso. Pra falar a verdade eu sou muito mais uma antena para o lado de lá do que um telefone que faz ligações. Eles, os espíritos só se comunicam quando querem ou quando têm autorização.
- Autorização de quem?
- Os espíritos superiores que eu falei, existem hierarquias no mundo espiritual.
- E quem seriam esses tais espíritos com autoridade? Seriam anjos? Seriam santos? Ou outra coisa?
- Olha Ciro, na verdade eles não se revelam assim. Eles não dão nomes, pois já tiveram muitos aí longo do ciclo de encarnação e desencarne.
- São é espíritos de trevas. Resmungou pastor Silvério agora incomodando os outros participantes.
- Entendo Mirian, mas como isso se relaciona com os eventos que estamos abordando hoje? Diga para a audiência o porquê da sua participação aqui no programa.
- Isso que é engraçado Ciro, eu tenho mais de 25 anos atuando nessa área. Mais de 40 anos que eu vejo, sinto e me comunico com inteligências que não estão nesse plano. E de uns dias pra cá venho me comunicando com alguém de fora daqui. Porém essa comunicação é diferente de tudo que já experimentei, a voz é diferente, as palavras são diferentes, o jeito de falar não é como dos espíritos. A vibração que eu senti era totalmente totalmente estranho até para mim. E esse alguém se.identificou como Zaron, líder de uma expedição pelo nosso sistema, habitante de um dos planetas próximo a da estrlela na Arcturus na constelação de Boieiro.
- Então não era um espírito?
- Não, era alguém que estava encarnado. Essa foi a primeira vez que algo assim me aconteceu. Eu já me comuniquei com seres aparentemente não humanos, eram indefinidos, mas nenhum assumiu ser de outro planeta.
- E que missão de resgate era essa? Você pode nos dizer?
- Posso! Na verdade eu devo, pois esse é o motivo de estar aqui, a minha missão. Mesmo antes de me convidar eu fui avisada que viria aqui. Zaron mandou dizer. para não termos medo das luzes, que essa é apenas uma missão de resgate na Terra. E que são nossos irmãos de outra esfera celeste. Eles são pacíficos e bondosos, só querem de volta seus irmãos mais jovens que se acidentaram ou foram atingidos por forças do nosso planeta. Eles são mais evoluídos em tecnologia e também no lado espiritual. Podemos aprender muitas coisas com eles e eles estão dispostos a nos ajudar com nossos problemas. Mas as autoridades têm que devolver seus companheiros. Eles já deram sinal que são bem obstinados para conseguir seu objetivo e podem demonstrar mais obstinação nos próximos dias
Nisso, Ferreirão, o diretor do programa aparece suando e fazendo sinal para Ciro cortar e ir para os comerciais. No começo eram gestos discretos, mas percebendo que o apresentador não o notava, colocou toda energia naquele corpo enorme para de fazer entender. Ciro o olhava com o canto dos olhos e ignorava pensando na audiência.
- Deixa eu ver se entendi. Esse ser, Zaron afirma que uma nave do seu povo caiu na Terra, no nosso país por acidente ou pela força aérea? Que agora nossas autoridades estão em posse desses seres e provavelmente de seu veículo? É isso?
- Exatamente Ciro, segundo ele...
Uma assistente de produção entra no palco fala ao ouvido de Ciro e entrega um bilhete. Ciro tira os óculos do bolso e lê atentamente. Depois levanta as sobrancelhas para o público com ar preocupado.
- Ok plateia, acabo de receber atualizações relevantes através da nossa produção. Vamos fazer um intervalo rapidinho e voltamos já para o último bloco do programa. Vamos trazer essa e outras informações ao vivo na volta dos comerciais. Até já!
Fora do ar Ciro vai direto até Ferreirão. Estava muito bravo e resmungando palavrões.
- Que merda é essa Ferreirão? A gente tá voando aqui e você corta o nosso barato?
- Ciro, você não entende...
- Entender o quê porra? Me explica.
- Foram ordens de cima, dos homens você entendeu?
- Ô Ferreira, deixa eu te explicar, a gente é a maior rede de televisão do país e esse é o programa mais assistido. A gente fala e o povo faz. Acha que abaixamos a cabeça pra meia dúzia de velhos de pijama?
- Olha Ciro, estou nesse negócio há tanto tempo quanto você e quando velhos de pijama não estão no asilo e sim mandando recados em cima de tanques eu tiro o meu da reta. Você devia fazer o mesmo. Você vai ser avô cara...
- Pra porra com isso! Estamos fazendo História ali.
- A gente fecha no próximo bloco e você pode fazer o que quiser depois. Inclusive ser levado de camburão!
- O que a gente faz então diretor?
- Vamos por esse povo pra falar, eles fazem o barraco deles. Deixa o homem que eles mandaram falar e fecha esse negócio. De jeito nenhum vamos mostrar o material que o outro doido trouxe.
- Mas eu prometi pro país inteiro...
- Enrola eles, diz que precisa de mais tempo pra mostrar em outro programa. Ou então não diz nada, deixa o homem lá falar e depois deixa eles brigarem até o tempo esgotar e o povo esquece. Você é bom nisso, você consegue.
- Vai se ferrar.
- Resolve esse problema ou então nós dois saímos presos daqui hoje.
- Eu duvido que eles teriam essa coragem.
- Você não atendeu o telefone Ciro, eu atendi!
- E o que eles disseram?
- Importante é que eles disseram nomes e endereços... Todos ligados a nós dois!
- Uns filhos de cadela!
- Fala baixo, já tem viatura ali na rua.
- Uns filhos da égua!
- E Ciro, volta pra lá sorrindo tá?
O apresentador saiu mostrando o dedo do meio.

A Noite que olhamos para o céu Onde histórias criam vida. Descubra agora