Capítulo 2

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Após a reunião com Edgar, descemos para o restaurante almoçar

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Após a reunião com Edgar, descemos para o restaurante almoçar. Faz tempo que não almoço no estacionamento local; costumo pedir delivery na minha sala por causa do excesso de trabalho. Agora, como meu amigo Edgar vai cuidar de boa parte das tarefas, não preciso me preocupar tanto. Escolhemos uma mesa ao lado da vidraça, que nos oferece uma vista movimentada da rua, repleta de carros e pessoas apressadas. Edgar está radiante por ter conseguido a promoção, e eu fiz questão de pressioná-lo até o último minuto para que finalmente alcançasse o que tanto desejava.

Quando o garçom se aproxima para anotar os pedidos, opto por frango grelhado com aspargos e uma salada Caesar, pedindo também uma água com gás. Edgar escolhe batatas assadas ao molho branco e um vinho suave. Nossos pratos chegam rapidamente e começamos a comer em silêncio por alguns minutos, até que Edgar quebra a tranquilidade.

— Minha mulher ficou feliz em saber que vai passar o final de semana com a gente.

— Não costumo sair de casa — digo, enquanto saboreio um pedaço de aspargos.

— Você precisa se divertir um pouco — ele sorri.

— Concordo plenamente.

— Minha enteada será responsável por um dos pratos do almoço — Edgar toma um gole do vinho — aquela garota arrasa na cozinha, pena que não cozinhe tanto quanto poderia.

— Estão se dando bem? — mantenho os olhos na faca cortando o frango.

— Ela é uma boa garota, às vezes diz umas coisas estranhas, mas nada que eu leve muito a sério — ele leva uma batata à boca e saboreia.

— Hum — é tudo que consigo dizer.

— Nosso almoço está perfeito, mas vou precisar ir — Edgar limpa a boca com o guardanapo.

— E eu preciso voltar ao trabalho; tenho informações para passar à minha secretária — chamo o garçom e peço a conta.

— Deixa que eu pago — Edgar pega a carteira, insistindo.

— Obrigado! Te vejo no final de semana — me levanto e volto para meu escritório, que fica dois andares acima do restaurante.

— Senhor Almeida — chama minha secretária assim que entro — podemos começar?

— Por que tanta pressa? — fito a mulher, que apenas dá de ombros. Entramos na minha sala; gosto desse ambiente. Não sempre. O fato de ter trabalhado muito ultimamente tem me causado dores de cabeça. A secretária senta-se na cadeira à frente da minha mesa; tiro a parte de cima do meu terno e estendo-a sobre a mesa.

— Como foi o almoço? — ela pergunta enquanto mexe nos papéis.

— Nada demais — respondo, acomodando-me na minha cadeira de couro confortável.

— Tudo pro senhor não é nada demais — ela resmunga, fazendo-me franzir a testa.

— Isso é uma crítica?

— Talvez.

— Estou apenas cansado, Lilian. Já não sou tão jovem assim — afirmo.

— Ah, por favor! O senhor só tem cinquenta anos e fala como se tivesse oitenta! — ela revirou os olhos — precisa se divertir mais.

— Vocês jovens… — bufo em resposta.

— E pra ser mais exata, nem parece que o senhor tem essa idade toda! — ela comenta com um sorriso travesso.

— Esse é o poder da melanina negra, Lilian — acaricio meu rosto; apesar da idade, não há rugas alguma. — Estou conservado!

— O senhor é engraçado! — ela sorri genuinamente agora.

— Vamos trabalhar? — viro a tela do computador para ela ver os dados.

— Planilhas? — ela afunda na cadeira, fazendo um biquinho de desagrado.

— Sim, senhorita! — sorrio para ela.

Após terminar meu trabalho na Almeida's, pego meu carro e sigo para o meu apartamento. Edgar manda algumas mensagens e vídeos dele brindando a promoção com sua esposa, enquanto a enteada tenta fugir das câmeras. Sorrio e respondo com uma figurinha do meu avatar dando um joinha. Ao chegar no meu prédio, passo pelo saguão, pego as correspondências com o porteiro e sigo direto para o elevador. Meu apartamento fica no quinto andar.

Ao abrir a porta, o vazio e o silêncio me envolvem. Gosto dessa sensação de tranquilidade na minha vida. Nunca me casei e tampouco tive filhos; sempre fui um homem sem tempo para o amor. Apesar disso, sou um romântico nato quando estou apaixonado. Minha última namorada se mudou para o exterior por causa de uma promoção. Ela não quis escolher entre o emprego e eu, então optou pela carreira, e eu respeitei isso. Subo para meu quarto, tiro as roupas e vou tomar uma ducha quente para relaxar. Minha cama já espera por mim; coloco apenas uma cueca para ficar confortável e me deito entre as cobertas macias da kingsize.

Ligo a televisão para ver algo interessante em algum streaming; escolho uma comédia romântica afrocentrada. Acho engraçados esses filmes de romance; são todos clichês. Na minha época, os casais de referência eram brancos, mas hoje vejo mais filmes românticos com casais negros. Não que eu me importe; minha ex-namorada era branca. Acabo pegando no sono no meio do filme e, quando acordo, está passando um documentário sobre o reino animal. Desligo a televisão e pego meu celular ao lado da cama. Já é uma hora da madrugada; abro o aplicativo de mensagens e rolo pelos status. O primeiro é de Edgar; parece que ele se empolgou na comemoração.

Clico para assistir e me pego sorrindo com as fotos que ele postou com a esposa. No próximo vídeo, aparece uma garota negra de pele marrom-média, usando uma calça de moletom preta e um cropped branco. Seus cabelos estão presos em um penteado chamado afro puff, enquanto ela segura uma taça de vinho na mão e dança perfeitamente ao som de uma música da Beyoncé. Logo, a esposa de Edgar aparece dançando com ela (não tão perfeitamente quanto a garota). Os passos dela são aleatórios; na próxima foto, a mesma garota aparece sozinha na selfie com a legenda: “motivos pra beber plena segunda-feira: promoção de emprego do seu padrasto branco”. Sorrio daquilo e envio um avatar rindo.

Volto ao vídeo da garota dançando; ela realmente tem um talento incrível. Toda vez que a mãe dela tenta aparecer para interromper o vídeo, eu pauso e volto para começar do início novamente. Faço isso umas dez vezes antes de cair no sono novamente. Por causa dos pensamentos intrusivos, sonho com a garota dançando. Adoro sair para dançar; minha ex-namorada não era muito fã disso. Fazíamos mais coisas que ela gostava do que as que eu gostava. Normalmente, eu fazia as coisas que gostava sozinho. Não sei por que fiquei tão fascinado ao ver a enteada de Edgar dançando, mas acabo viciado nos movimentos dela.

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