Capítulo 4: O corvo

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Acordava com uma batida tão forte na porta de seu apartamento que acreditava que era a porta de seu quarto pedindo socorro
Toc, toc, toc, TOC, TOC, TOC. À medida dos segundos as batidas vão ficando mais fortes e com menos espaços entre uma batida e outra, batidas tão fortes que antes de abrir os olhos, acreditava que eram na porta de seu quarto, mas percebe que se trata da porta da frente do seu apartamento.
Ao olhar para o despertador. Faltavam 5 minutos para o mesmo tocar. 5:24. Que porra alguem quer tão desesperado numa hora dessas? Se impressiona com seu pai ainda não ter acordado com esse caos e se aproxima da porta, querendo olhar pelo olho mágico. Rose. Por alguma razão estava tão bem arrumada como sempre numa hora dessas a poucos metros de você, não sabe se se assusta por ser Rose ou por ela estar desesperada, ao julgar pelo seu olhar. Aquilo não era medo, era pavor. Chorava e batia na porta na mesma proporção. Intensamente.
Até cogita ser atuação, "sei lá, uma parte dum plano maléfico de transformar minha vida num inferno" Pensa Alisson, mas ao julgar pela maquiagem borrada em seu rosto e pelos cabelos-perfeitos levemente despenteados. Aquilo era tão real quanto a ansiedade em Alisson.
Abre a porta para ver que ao Rose entrar no seu apartamento, não somente estava com uma faca ensanguentada em sua mão mas aparentava desesperada, abraça Alisson com toda força ( normalmente teria repulsa e se afastaria, mas foi tão repentino que permitiu que acontecesse ), perguntava a ela que porra estava acontecendo mas em sua voz só era possivel ser ouvida por conta dos soluços frenteticos.
Os soluços começaram a dar espaço para uma nova sonoridade, uma risada? Ou ela só não sabia chorar? Se afasta levemente para ver um sorriso medonho em sua afeição, sorria com os olhos imóveis e arregalados enquanto as lágrimas pretas por conta da maquiagem ainda escorreram de seu delicado rosto. Que porra é essa.
Alisson se treme a medida que a maquiagem de seu rosto lentamente começa a se descascar, deixando uma certa pelagem negra em seu rosto, cai para tras, não entendendo porra nenhuma, com o olhar complexado e com as pernas tão tremulas que era possivel ouvir "tic tic tic tic" de seus ossos tremendo.
De seu rosto descascando e lentamente rachando formando aquela pelagem esquisita, até que seu rosto não é mais seu rosto, aqueles olhos que abalavam até mesmo Alisson com sua beleza, não transmitiam isso, transmitiam medo. Apenas isso. Lentamente aquele belo rostinho se mostra numa cabeça de ave, provavelmente um corvo, relembra Alisson, Rose, ou melhor, o que sobra dela se aproxima, a garota sem reação permite isso, não tem forças nem para se distanciar.
Se aproxima, deixando o clima na sala de estar tenso, é só o tempo de Alisson perceber uma pontada que sentia em seu estômago e reparar uma lâmina, sendo segurada pela mão descascada e penosa dessa coisa e perfura a barriga de Alisson pela ponta, provavelmente metade da mesma já estava ali, fincada, firme e agora que via isso, sua vista treme, embaça e antes que pudesse revidar, ali, segurando a faca para que não perfurasse mais fundo em si mesma, ao escurecer de sua vista..
Acorda. Suando frio apesar de ser fim de inverno. Tremendo e com os olhos vidrados no teto, enquanto tenta parar para analisar toda a desgraça que acabara de lhe acontecer, mesmo em sonho era possível se traumatizar com isso a semana toda.
"TRRIIMMM, TRIIMMM TRIMMM", fazia seu despertador, tocando e mal sendo ouvido por Alisson, que pela cabeça estar a milhão, não consegue sequer dar atenção ao objeto.
Finalmente retoma algum tipo de consciência quando estranha a presença, ou melhor, ausência de seu pai, "normalmente chegaria vendo se não fugi de casa ( de novo )" é o que pensa, finalmente desliga o despertador e levemente desacordada segue para a cozinha, sentindo falta do seu velho, ainda coçando seus olhos remelados e cansados, pega um post-it amarelado que estava preso na sua porta.

"Primeiro dia de trabalho, me deseje sorte! Tem panqueca num prato em cima do balcão"

Dá um sorriso de alegria por seu pai, sabe o quão importante isso é para ele, vai até a cozinha, ainda atordoada, deveria já estar tomando seu banho mas opta por comer as panquecas (e guardar algumas para depois) enquanto ainda repensa todo o pesadelo. Ainda estavam quentes, seu pai saiu da li não faz muito tempo.
Finalmente toma banho e se arruma rapidamente, como roupa dessa vez escolhe a primeira roupa que lhe aparece, sua calça jeans escura com uma blusa cinza com estampa de caveira, ocultada brevemente por seu casaco, que optou por (pelo menos por enquanto) não fechar ele, põe seu capuz, pega sua mochila e segue para fora.
Sai correndo tendo em mente que ja estara atrasada, passa pela escada como um profissional em parkour, pulando de três em três degraus de vez, corre o que na visão de uma pessoa sedentária como Alisson, seriam facilmente duzentos metros, mas até o ônibus que já estava quase partindo, ou seja, correu o máximo que pôde e pelo incrível que pareça consegue alcançar.
O ônibus então para, o que permite que Alisson suba, passa pela leve multidão lá de dentro, procurando seu lugar favorito, perto de...perto de Andrew, porém encontra uma garota ao seu lado, nunca antes vira ela e provavelmente nem ele tinha visto "Quando ele se tornou tão popular com garotas?" pensa assim que chega ao lado da mesma, que ao ver Alisson, meio despenteada, com respiração ofegante e olhar de quem não dormiu nas últimas semanas, para a seu lado e olha nos olhos da garota com certo instinto assassino, é o suficiente para assustar a garota pelos próximos dias.
Senta ao lado de Andrew e então tenta acalmar todos os pensamentos e respirar direito agora, percebe uma grande dor em suas pernas após correr e pular tanto, seu corpo com certeza não foi feito para isso.

Assassinato no quarto 205Onde histórias criam vida. Descubra agora