Capítulo 1: A nova garota de Milwaukee

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Numa manhã nublada de um dia conturbado, dentro de uma caminhonete cinza de um modelo provavelmente mais velho que a garota que se encontra em seu banco traseiro, Alisson, tão pálida quanto a nevasca mais forte e olhos azuis tão azuis quanto uma mina de lápis lazúli, cabelo curto recentemente cortado que descia até abaixo de sua orelha que carregava brincos de estrela e lua, vestida com uma calça jeans clara meio velha e rasgada (“trapos” segundo sua mãe) e uma camiseta preta com a estampa “Ac/Dc” em vermelho, coberta por uma jaqueta também jeans clara e então, o silêncio em que era quebrado pela música “highway to hell” em seus fones de ouvido de um MP3, em si é quebrado novamente, dessa vez pela voz de sua mãe, que geralmente é doce e suave, porém agora realça irritação, vindo pelo banco em sua frente, do lado, pilotando, seu pai dá um suspiro como se pudesse falar “de novo, isso?”.

—Alisson, você tá me ouvindo??

— Tô…mãe, o que foi?

— “O que foi” nada, mocinha, assim que chegarmos você vai separar sua mochila, entendeu? Amanhã você já tem escola!
— Certo.. certo - disse Alisson enquanto colocava os fones de volta, aumentando o volume ao máximo -

Tentava ignorar os pensamentos ansiosos que acompanhavam “amanhã você já tem escola!” De sua mãe, tentava pensar em algo que incomodava mais do que a ansiedade:
Saudades de sua cidade, não especificamente de Loungmount e dos dias de neve mas sim de uma pessoa que deixara para trás…precisaria urgentemente de um computador.
Após cerca de 20 minutos, a caminhonete para em frente à um prédio grande e de certa forma intimidante, apesar de não ser tão alto e com certeza, não um hotel luxuoso como por um segundo, Alisson teria sonhado numa utopia, sempre antes de dormir, tava mais pra um prédio aconchegantemente aceitável, lá está onde irá passar seu ensino médio e provavelmente grande parte de sua vida, prédio Webber.
Alisson desce, finalmente toma coragem após anos mentalmente processando sua nova vida partir de agora, toca seu all star preto no chão, pega sua mochila escolar e uma mochila de ginástica, onde guardava seus materiais de baseball, ela detestava mas seu pai insistia em dizer que ela era boa (era bom falar isso pra July Myers e seu nariz quebrado com uma bola no meio da cara)
Sente um leve tapa de apoio moral em seu ombro, vindo de seu pai, que logo se encaminha até a recepção, segue o mesmo, que ao chegar, está ele, um homem de cabelos escuros que disfarça bregamente sua recém deficiência capilar com uma boina azul turquesa, blusa de manga comprida quadriculada entre ciano e branco, enquanto ele debate várias burocracias sobre regras de moradia, restrições, reuniões de inquilinos e tantas outras porcarias que Alisson ouvia apenas como cochichos de adultos(ou seja, insuficientes para merecerem sua atenção) com a porteira, levemente mais velha que Alisson, cabelos cacheados e longos, olhos castanhos e levemente entediados, porém ainda assim conseguira ser calma e gentil mesmo com um homem confuso e meio “louco por regras” como seu pai, Alisson encara um pouco a jovem e sente uma chuva de memórias, ela lembra a Mari, começa a lembrar da pessoa que acabara de perder e de que nunca mais iria vê-la.
Até que todos desses pensamentos se sessam por uma voz.

— Olá, garotinha, é você da tal nova família de inquilinos, certo?

Alisson olha para trás com um certo arrepio na espinha, sinceramente é um porre apenas quando põe seu fone e presta atenção na música, que chamam sua atenção, “deixar para ouvir música quando estiver no meu quarto, TRANCADA” é o que passa em sua cabeça, porém lembra que tem que responder o homem.
Ela olha para trás porém não vê ninguém, então olha para baixo, era um idoso, sentado numa cadeira de rodas, um sorriso simpático que lutava contra as rugas para poder acontecer e seus braços cansados mas fortes o bastante para andar com sua cadeira por um corredor consideravelmente longo do condomínio.

—Oii, sou sim e o senhor, quem seria?

— Olha minha filha, pode me chamar de Velman, sou um inquilino antigooo do Webber, o próprio Webber me chama de veterano por conta apenas de morar aqui a décadas hahaha! Mas enfim, não vou puxar tanto do seu tempo, olha, toda sexta os jovens e as crianças do prédio visitam meu apartamento, o 113 e conto-lhes histórias do passado e comemos biscoitos que minha enfermeira me ajuda a fazer…você está convidada, obviamente, alguns pais também ficam presentes então sinta-se a vontade para chamar os seus também, certo?

Assassinato no quarto 205Onde histórias criam vida. Descubra agora