Bogotá

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Nove ou Oito anos atrás

A primeira coisa que Lúcifer pensou ao ver Alastor foi:

"Como pode existir um homem tão lindo nesse planeta?"

A segunda: "Eu preciso tê-lo."

Com esses dois pensamentos e uma garrafa de vodka, ele conseguiu.

Alastor Hartfelt, vinte e oito anos, assassino profissional da Hell há seis. Alvo do dia: Mammon, cabeça da segunda maior máfia colombiana de Bogotá. Um dos maiores preços atuais do mercado de assassinatos, na bagatela de 850 mil dólares. É claro que o mandariam.

E, obviamente, a missão foi concluída com sucesso. Encurralou o velhaco no quarto de luxo no andar de cima de uma boate, fingiu ter interesse nele e cortou com precisão sua garganta. Rápido. Ninguém os ouviu e, quando perceberam o que ocorreu, Hartfelt estava a caminho do hotel.

Sem empecilhos. Sem preocupações. Teria alguns milhares de dólares na conta ao final do dia seguinte e voltaria para Los Angeles.

Ou isso que ele pensava. Quando chegou no hotel, havia dezenas de policiais averiguando o local a procura de estrangeiros solitários e suspeitos. Mammon devia ter oficiais sob o controle, não deixariam o assassino sair impune. Felizmente, entrou sem grandes problemas e pairou no bar, pedindo uma dose de licor para comemorar a missão bem sucedida.

"Mammon e uma outra vadia morreram." Comentou o barman enquanto servia a bebida. "A polícia está a procura de turistas viajando sozinhos."

Al sorriu educadamente, agradecendo o aviso. Os olhos rolaram ao redor do salão inundado pelos fardados fechando a entrada. Tolos. Jamais saberiam o verdadeiro autor. Bebericou o álcool, apreciou o líquido rasgar a garganta revendo mentalmente o corpo desfalecer na sua frente, contorcer no carpete vinho. Ele o chutou várias vezes no estômago, seguido de cortes na barriga, expondo os órgãos que guardava. Um cenário verdadeiramente delicioso. O gorfo de sangue, o atroz som que escapava na boca. Finalizou o licor e pediu mais uma dose.

Em meio à memórias pútridas e o álcool, o viu. Ele nunca esqueceria do instante que seus orbes amendoados enxergaram aquele homem de cabelos dourados, pele alva como as nuvens e bochechas rosadas. Céus. O estranho parecia um anjo. Uma baixa estrutura corporal, porém, torneado, aparentava estar na casa dos vinte e poucos. Vestia uma camisa de botões metade aberta florida em tons azulados e calça de linho. O rapaz fora abordado pelos policiais, sendo impedido de entrar. Perguntavam com quem ele estava em espanhol, posteriormente em um inglês carregado. O mais baixo, sereno, apático. Os encarava como se estivesse na frente de insetos.

Que expressão curiosa, pensou Alastor.

Com as vozes incriminadoras dos oficiais, o menor desviou a atenção para o moreno. Seus olhares se encontraram, enfim. Um par de globos carmin petrificaria qualquer idiota que ficasse o observando. Bom, Hartfelt era o idiota. Incapaz de tirar a visão daquele rosto de porcelana e ironicamente mortífero. De repente, apenas eles estavam ali. O estranho trazia um ar de desafio, como se sugerisse que o salvasse da situação.

Questionou-se quais outras facetas interessantes esse loiro poderia lhe oferecer. Resolveu acatar os apelos silenciosos dele.

"Ele está comigo." O maior anunciou para os fardados em um espanhol perfeito, que o encararam surpresos. Deixou a bebida no balcão e caminhou até o baixo, apreciando a diferença de altura entre eles. Repousou a mão ao redor da cintura do estrangeiro. Encaixava perfeitamente. "Te procurei em todo hotel, amor, onde estava?"

Sr&Sr. Morningstar || RadioappleOnde histórias criam vida. Descubra agora