Capítulo 17 - E por falar em saudade...

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Os dias se passavam lentamente, as mudanças de estações aconteciam suavemente sobre os olhos carmim que aproveitavam a forma como as brisas de janeiro batiam sobre sua face de forma diferente a cada ano, seu rosto amadurecia e se torna mais  ríspido, e os traços aristocráticos que havia herdado de uma longa linhagem de alfas de uma família russa tradicional se manifestavam mais bruscamente. A beleza da juventude ainda adornava sua face com um toque suave sobre as expressões sérias de uma militar de carreira estabilizada e condecorada.

O corpo esquio se substituia pelas curvaturas dos músculos grossos e marcantes, que se sobressaltavam no uniforme preto. As mãos suaves e toque calmo se transformaram em palmas rudes e pesadas de toque quente e fervoroso calejadas pelos treinos longos e cansativos das forças especiais, divisão da qual havia sido destinada desde o início de seu serviço e criado uma imagem, uma carreira ilustre.

A alfa de vinte e quatro anos se sentava na cadeira de general do exército, faltando pouco para sua promoção para um cargo ainda mais alto. Scarlett havia atingido objetivos que eram buscados por todos os recrutas que algum dia atravessaram aqueles portões de ferro, havia recebido promoção antes do tempo por seu alto nível de eficiência, as missões que realizava em nome do SDT haviam sido concluídas com sucesso e sem empecilhos, seu nome passou a ser temido por muitos e o ódio e a inveja daqueles que combissavam suas conquistas passou a corroer seu caminho.

Scarlett tinha o gosto da solidão muito presente em sua boca, a desconfiança rondava suas relações, poucas amizades poderiam se manter no ambiente militar verdadeiramente, a ambição cegava quase todos e corrompia os ideias de pessoas fortes. Os dígitos significativos que caiam em suas contas bancárias no final do mês moviam as relações internas em busca unicamente de aumentar a quantidade de zeros em seus saldos.

O dinheiro corrompe o homem e o modifica inteiramente, mata sua moral e sua ética, consumindo sua alma com ganância.

Mas aqueles dígitos lhe proporcionavam enviar todas as semanas sem exceção presentes para seu pequeno ursinho e seus irmãos, desde coisas triviais como chocolates de uma marca renomada da capital até coisas caras como joias e roupas de grifes de últimas coleções renomadas.

Ela adorava mima-los como podia.

Scarlett observava atentamente o treinamento dos recrutas em meio a uma chuva intensa de primavera, sua sala no segundo andar do prédio cinzento tinha uma vista privilegiada do campo de treinamento. Seu corpo estava cansado, havia sido uma semana intensa para a resolução de um crime nacional que lhe arrancava dores de cabeça intensa. Naquele instante, sua mesa estava repleta de papéis e relatórios que deveriam ser entregues em menos de dez minutos, mas menos da metade estava preenchida.

A alfa havia apenas desistido e estava disposta a enfrentar as consequências negativas do seu ato, seu corpo repousava desajeitadamente sobre a cadeira de couro, enquanto uma caneta gravada com suas iniciais era rodada sobre seus dedos longos e usualmente gélidos, seu rosto estava virado para os vidros lisos que cobriam inteiramente a parede externa de sua sala.

— Com licença, general kwon – Um de seus soldados parava em frente a sua mesa batendo continência em sinal de respeito, a alfa mais velha e em um cargo superior. Scarlett pode apenas fazer um sinal com as mãos para que o garoto prosseguisse com o objetivo que possuía — Uma carta foi deixada pela sua mãe, ela me pediu para dizer que seu irmão mais novo Jimin solicitou que a carta seja lida com urgência por vossa senhoria.

Ao término de sua frase, um pequeno envelope foi deixado sobre sua mesa.

— Certo, obrigado por trazê-la até minha sala. Está dispensado – Em uma reverência curta, o garoto se retirou do ambiente com dificuldade pela temerança que vinha ao ter aqueles olhos presos em seus movimentos, e apenas quando o barulho da porta se fechando se fez presente a alfa tomou o objeto sobre suas mãos.

As cartas eram a única troca de informações que tinha com as crianças que deixava para trás a mais de seis anos, elas chegavam toda semana com as novidades da vida de cada um.

Cada um deles escrevia suas cartas, confidenciavam seus sentimentos e histórias mais profundas para a mulher que mantinha-se perto mesmo tão longe. Scarlett respondia atentamente cada uma delas fazendo questão de prestar atenção nos mínimos detalhes de cada uma delas.

A relação entre Jimin e ela, havia se construído dessa forma. Ela tentava do seu jeito ser a irmã mais velha dele, mesmo longe do pequeno ômega que havia alegrado a vida de seus pais e dos adolescentes que amavam o irmão intensamente.

As cartas eram a melhor opção para manter uma conexão, já que o celular era liberado apenas por trinta minutos durante ao dia aqueles que exerciam a profissões do ramos militar e acabaria por não ser uma opção viável a família que costumava falar de mais.

Scarlett estranhou a carta, normalmente elas lhe eram entregues apenas nas terças-feiras, entretanto o relógio apontava as duas da tarde de uma sexta-feira entediante.

A caligrafia inegável de seu irmão foi vislumbrada ao ler "Para noona Scarlett", rasgou o envelope atentamente tomando cuidado para não acabar caindo em alguma armadilha.

Não havia com o quê se preocupar e a alfa se julgou tola ao ver apenas o papel dobrado cuidadosamente, ao desdobrar Scarlett estranhou a forma como as letras estavam escritas apressadamente e logo seu coração se preocupou intensamente, pensando que algo poderia ter acontecido em sua casa, acontecido com seu Taehyung.

Jimin era seu confidente sobre tudo que acontecia com o alfa de agora de dessesete anos.

"Querida, noona.

Sei que não é o dia de te enviar as cartas, mas uma coisa aconteceu essa semana na escola com Taehyung e eu acho que apenas você pode resolver, já que isso te envolve.

Sabe o anel que presenteou o teteco da última vez em que se viram, ele usa todos os dias, acho que nunca vi ele sem. Acontece, que outro dia estávamos na escola durante uma aula vaga e um colega intrometido perguntou o por que ele usava uma aliança, perguntou se ele era casado ou se tinha um companheiro.

Mas acontece que tem umas meninas que não gostam da gente por algum motivo, e começaram a zuar o Tae no meio da sala. Como ele é meio tímido e não gosta de falar em público, ficou quietinho e não revidou, mas eu acabei me excedendo um pouco para defender ele, e acabei dizendo ou melhor gritando que ele tinha uma alfa, no caso você. Mas elas começaram a incomodar mais o Tae por que segundo elas, era difícil acreditar que alguém algum dia se casaria com ele e pediram para ver uma foto sua.

E eu não pensei muito e acabei mostrando aquela sua em que você está na academia na frente do espelho do seu Instagram (por favor, não conte pra mamãe e pro papai que eu fiz isso). Acontece que você tá toda gostosona naquela foto e elas ficaram surpresas, só que...

Em vez delas deixarem o Tae em paz, por que eu mostrei finalmente quem era a companheira misteriosa dele. Elas começaram a fazer da nossa vida um inferno, por que não conseguem acreditar que você é dele.

Sério, elas encurralam ele e começam a zuar a aparência dele, dizendo que é um alfa feio demais para uma alfa tão bonita.

Só estou enviando está carta pra você, por que hoje foi a gota d'água. Elas encurralaram Tae no vestiário e o agrediram, chegaram a quebrar o óculos dele e um dos caquinhos do vidro das lentes cortou o rosto dele. Ele tá muito mal, e só fica chorando no quarto.

Noona, por favor. Eu não sei o que fazer pra ajudar ele.

Por favor, venha socorrer o seu companheiro.

Obs: Por favor, não conte a mamãe e ao papai que eu estou arranjando briga na escola.

Obs2: Me manda mais daquele chocolate que você enviou no sábado passado, por favor.

Obs3: E manda um pouco daqueles biscoitos também.

Obs4: O papai comprou uma estátua de coelho escondido da mamãe, foi engraçado a reação dela. Te conto depois."

Scarlett riu com a última frase escrita pelo mais jovem, mas rapidamente foi inundada por um ódio descomunal amassando o papel entre seus dedos, haviam ferido seu menino por um motivo tão besta como aquele.

Ela se levantou da cadeira rapidamente, deixando sua sala com um único objetivo.

Talvez fosse a hora de adiantar sua volta.

Por Todas As PrimaverasOnde histórias criam vida. Descubra agora