Capítulo 7

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Sendo repostada, mas voltará a ser degustação em 03/2023

Enquanto seguiam para o banco que sempre era ocupado pela família do líder comunitário, Faith se deliciava com o visível embaraço do padre. Aquele era o troco por ele ter o poder de amolecer suas pernas sempre que o via. Ainda reprimia um sorriso vitorioso quando a mãe perguntou num sussurro:

– O que foi aquilo?

– Aquilo o quê? – Faith sussurrou de volta.

– Por que beijou a mão do padre?

– A senhora viu porque, não estou entendendo a pergunta... – retrucou inocentemente. – Acaso fiz algo errado?

– Fez! – a mãe sibilou. – Não há a necessidade de tocá-lo. Não percebeu que o deixou constrangido?

– Me desculpe, eu não sabia.

– Ah, tudo bem! Apenas não repita. – Após se acomodarem, Constance resmungou: – Você nunca participou de uma missa de bom grado. Fez a primeira comunhão por imposição de seu pai. Não sabe nem se comportar. Não vejo como possa ajudar, substituindo sua irmã.

– Festa é festa e eu vou apenas colocar em prática tudo que Nicole já determinou. Se eu fizer alguma coisa errada, ela me corrige. Não é mesmo, Nick?

– Claro que sim – a irmã firmou distraidamente enquanto olhava em volta.

– Vocês é quem sabem – replicou a mãe, dando de ombros. Esquecendo-se das implicâncias de Constance, Faith sussurrou ao ouvido da irmã:

– Ele não está aqui. Nem poderia, não é mesmo?

– Não sei do que você está falando – Nicole retrucou séria.

– Tudo bem, Nick! – Faith tomou a mão da irmã, apertou-a acolhedoramente e murmurou para que a mãe não ouvisse: – Eu também sinto saudade.

A irmã nada disse, apenas olhou para ela com os olhos lacrimejantes antes de fechá-los e deitar a cabeça em seu ombro.

– O que foi? – especulou a mãe, com as sobrancelhas unidas.

– Ela queria que Joe estivesse aqui – Faith explicou, passando o braço pelos ombros da irmã. Acreditando na mentira, Constance passou a conversar com a senhora Scott que acabava de se sentar no banco de trás com sua filha Maggie. A moça não se interessava por nenhuma delas, no momento a dor da irmã era a sua dor. Amar era uma droga, isso é que era. Principalmente quando não se podia ficar com que se ama.

Faith nutria verdadeira adoração pelo pai, mas considerava seu atraso cultural uma anomalia. Entendia seu conservadorismo; sua opção política que o fazia um republicano fervoroso, mas considerava praticamente inadmissível que em pleno século XXI ele fosse tão arcaico quanto às relações pessoais. Somente por acreditar que Joseph Wilson era um bom partido, praticamente obrigou a filha mais velha a assumir um noivado, quando este anunciou seu interesse. Submissa como toda boa senhorita do século XVII deve ter sido, Nicole não se opôs. Faith sabia que boa parte dessa aceitação resignada se dava ao fato de Peter Shaw ter se mudado da cidade.

E não mentira, sentia falta do rapaz. Ambos tinham a mesma idade e foram amigos desde que Faith poderia se lembrar. A amizade não era extensiva a Nicole. Com ela o interesse sempre foi outro, mesmo sendo quatro anos mais velha do que ele. Quando seu amigo mirrado finalmente a conquistou e iniciaram um namorico secreto, a família Shaw se mudou de Sin Bay. Peter sempre vinha à cidade, mas depois do noivado de Nicole as visitas ficaram espaçadas. Era ingenuidade de sua irmã acreditar que ele estivesse presente naquela missa.

Idiotices dos apaixonados, Faith pensou. Por isso se apaixonar não estava nos seus planos. Ao pensamento Faith ergueu os olhos e encontrou Jonathan no pulpito diante de si. Não ouviu o que ele dizia, apenas levantou com todos os outros e o seguiu fazendo o sinal da cruz. No mais, acompanhou seus gestos sem perder um único movimento, lutando para não permitir que seu queixo caísse sempre que o considerava irresistível naquelas vestes eclesiasticas.

Enigma - Segredos & Mentiras [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora