Capítulo 15

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Helen bem que tentou demover a amiga de levar seu plano em frente uma vez que as chances de sair chamuscada, ou até mesmo ser consumida inteiramente por brincar com fogo santo, aumentaram. No entanto, Faith se mostrou irredutível. Uma vez que nomeara o que sentia e acreditava que, talvez, nunca sentisse nada igual, não via como retroceder. Não quando tudo caminhava para o desfecho satisfatório.

– E como ficam as noites de quinta? – Helen inquiriu. – Já que está apaixonada e decidida a conquistar o padre, já pensou o que ele pensará quando souber?

– Ele não tem por que saber – Faith ciciou secamente. – E uma coisa não tem nada a ver com a outra.

– Como não? Que Deus me perdoe pela falta de respeito, mas vamos supor que o padre corresponda e vocês mantenham um caso... Acha que ele vai aceitar numa boa que você fique se contorcendo pelada num palco?

– Certo! – Faith começava a se aborrecer. – Um assunto de cada vez... Eu ainda não estou com Jonathan. Apesar de tudo que te contei, não sabemos se eu vou conseguir nada além desses pequenos flertes quanto mais manter um caso... E não vou parar minha vida para fazer o tipo de garota certinha, que não sou, por algo que talvez nem aconteça. Jonathan não é nada meu e como você bem salientou, se um dia vier a ser, ele não pode me oferecer nada. Então não terá direito de opinar sobre minha vida.

– O padre e a stripper... – Helen murmurou numa mescla de pesar e mofa. – Isso daria um bom livro!

– Pois tem minha autorização para escrevê-lo, mas não de me perturbar com detalhes imutáveis do enredo – retrucou ácida.

– Tudo bem! – Helen ergueu as mãos em sinal de rendição. – Mas depois não diga que eu não avisei. Espero ter um bom final para essa história, se realmente acontecer. Porém o desfecho lógico é o padre Jonathan pedir perdão, público e formal, até ser recebido novamente pela igreja e, você, morrer afogada depois de se atirar do penhasco. O que me diz disso nova senhora Flinn?

– Digo que não é de minha natureza sofrer por antecipação e não vou começar agora... Conforme as situações forem aparecendo, eu vejo como as resolvo. Por ora – pediu, voltando os olhos para o mar e sentindo seu ânimo melhorar consideravelmente. – Vamos encerrar o assunto, pois meu pai e seu peixinho fedorento estão vindo bem ali.

Helen seguiu o olhar da moça, ansiosamente e, depois de avistar os barcos ainda distantes, atendeu ao pedido, refreando novos acréscimos. Sem desviar sua atenção das embarcações que se aproximavam já seguidas pelos mexilhões e gaivotas, Faith ignorou por completo a companhia inesperada e deixou que a saudade que sentia do pai e do irmão ganhasse força.

Quando o barco de Elliot Green estava próximo o suficiente para que seus tripulantes a vissem com clareza, acenou freneticamente. Helen permaneceu parada, com a mão no coração e os olhos rasos d'água.

– Venha.

Faith tomou a amiga pelo braço e fez com que corresse com ela, trilha abaixo, até o cais. Somente então a soltou e seguiu para o atracadouro de madeira destinado ao pesqueiro Free Soul 1. Outras mulheres esperavam seus maridos e filhos. Constance não estava entre elas, pois preferia ficar em casa cuidando para que tudo estivesse perfeito na ocasião da chegada de seu marido exausto, a se expor em demonstrações exacerbadas de afeto público.

– Como vão os preparativos para o piquenique? – Faith ouviu uma voz fina e arrastada ao seu lado. Policiando-se para não demonstrar sua antipatia pela recém-chegada, voltou-se com um sorriso morno no rosto frio até que seus olhos pousassem em Maggie.

– Muito bem, obrigada! E já que está interessada, quero saber se deseja me ajudar? – Certo, não gostava dela, mas a garota era habilidosa e tinha bom gosto para decorações.

Enigma - Segredos & Mentiras [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora