Capítulo 13

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– Por que não vai se deitar, Johnny?

– Porque estou sem sono – Jonathan respondeu, também em italiano, sem desviar o olhar da lua, ignorando a aproximação de seu padrinho.

– Deite que ele virá. Ficar de pé ao lado da janela não vai ajudar em nada se está insone.

– Sei disso – retrucou simplesmente, ainda sem se mover. Após alguns segundos de silêncio o padrinho palpitou:

– Será que não é fome?Não almoçou ou lanchou e durante a janta fora de hora, não comeu quase nada. O macarrão que deixei está praticamente intocado.

– Se estivesse com fome eu comeria – disse ainda olhando o vazio. Depois de um suspiro exasperado, Carlo diminuiu a distância entre eles e tocou-lhe o ombro.

– Não gosto de lhe ver assim... Por que não me conta o que o atormenta. Dou-lhe minha palavra de que não o julgarei ou criticarei se me disser que é por causa da moça, e...

– Não vamos voltar a esse assunto, por favor. – Jonathan fechou os olhos.

– Não quero que se aborreça – Carlo aquiesceu. – Então não é por causa da Srta. Green, mas tem que ter algum motivo para seu comportamento. Eu não enveredaria por suposições erradas se me dissesse a verdade.

– Por que não posso me aborrecer? – Jonathan perguntou ao encará-lo de modo súbito. Pego de surpresa com a pergunta fora do contexto, o tio piscou algumas vezes antes de dizer:

– Porque não há necessidade de nos alterarmos como aconteceu essa manhã.

– Tem certeza que é somente por isso? – inquiriu franzindo cenho, avaliando as expressões faciais do padrinho.

– E por que mais seria, Johnny? – Carlo devolveu com outra pergunta, impassível. Novamente fugindo do contexto que teria lógica para Carlo, Jonathan contou:

– Hoje senti vontade de bater em alguém.

– O quê?! – O padrinho engasgou, espantado. – Agrediu alguém?... Quem? Por quê? Jonathan, diga alguma coisa!

– Não disse que bati em alguém e, sim, que tive vontade – respondeu, cruzando os braços sobre o peito, encarando o padrinho que ainda se recuperava do susto.

– Certo. Mas me conte. Por que quis bater numa pessoa?... Quando foi isso? Agora à noite? Quando saiu?

– Sim. Tive uma... contrariedade e meu primeiro desejo foi resolvê-la com uma agressão.

A violência inédita o assustava, mas Jonathan via nela a oportunidade de conseguir respostas. O que o inquietava era descobrir que se estivesse trilhando o caminho correto, sua verdade perdida não condizia com sua atual personalidade. E o que era pior: Carlo não só lhe mentiu durante anos, como sabia que ele era verdadeiramente uma fraude.

– Jonathan... – seu tio murmurou em lamento, olhando-o como se não o conhecesse.

– Não me olhe assim – pediu. Talvez fosse ele a desconhecer o tio. – Já falei que não o fiz.

– Mas pensou em fazer. Vai me dizer o motivo?

– Não vem ao caso. É irrelevante diante da minha reação. E é por isso que estou sem sono... Queria entender de onde veio a animosidade que senti.

– Você é humano, apenas isso – o padrinho simplificou.

– Não... – teimou. – Nem todos os humanos reagem da mesma forma diante de determinada situação e a minha foi completamente contrária à minha índole e à minha posição. – Sem desviar os olhos dos do padrinho, disse: – Gostaria que me dissesse por que agi assim.

Enigma - Segredos & Mentiras [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora