Capítulo 18

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Depois daquela manhã o padre viu a moça todos os dias, mas era como se não a visse de fato. Ainda na noite de terça-feira, coincidiu de estar a conversar com Samuel Bailey num dos extremos da praça e avistar a pick up, vinda de Wells. Jonathan percebeu que um carro a seguia e, antes que chegassem até ele, buzinou duas vezes antes de tomar outro caminho. A moça retribuiu o cumprimento e prosseguiu até passar por eles – também buzinar em cumprimento – e desaparecer na rua que a levaria até sua casa. Ele não precisou ver para saber quem a seguia.

– Tyler nunca se cansa – Samuel comentou, pesaroso, depois de acenar para a pick up.

– Perdão? – Jonathan murmurou aéreo, ainda a olhar o final da rua.

– Cometei que Tyler nunca se cansa de seguir a caçula de Elliot.

– Essa não é a primeira vez que comentam essa perseguição – falou Jonathan, sem temer a indiscrição de comentar a vida alheia.

– Porque é notória e antiga – o moreno explicou ainda com pesar. – O garoto é caidinho por ela desde que o pai veio para a cidade. Ty devia ter uns quatro anos... É coisa de criança, sabe?

– Acho que sei – ruminou a resposta, ciente de que não havia nenhuma nota de infantilidade na forma como se tratavam agora.

– Pena que o tempo passou e ele não saiu dessa. Está claro que a menina é apenas sua amiga.

– Pobre rapaz. – Jonathan mascou as palavras com desagrado. Então uma questão lhe escapou: – O que ele faz da vida? Digo... Estuda? Trabalha?

– Até onde sei Tyler terminou o colegial ano passado, mas não foi aceito em nenhuma universidade. Ele vive de fazer bicos como mecânico para os moradores daqui e em uma oficina lá de Wells. Acho que lá ele só vai para poder voltar com ela – acrescentou, apontando o final da rua, indicando a moça.

– Entendo... E o pai dela não se opõe?

– Os pais são amigos e acho que não se deram conta que o interesse do rapaz é sincero. Ainda os veem como duas crianças.

Uma criança desenvolvida e hormonal que espreita a outra e a segura possessivamente em um dia para no outro abraçá-la como um homem abraça uma mulher. Não conhecia o pai de Tyler, mas o colocava na mesma conta de Elliot Green, ambos cegos. Capaz que considerassem uma brincadeira inofensiva caso flagrassem seus filhos aos beijos ou fornicando semidespidos num canto qualquer.

Azedo, repudiando a imagem que projetou em sua cabeça, Jonathan considerou que não deveria ter tido acesso a tanta informação. Alegando, uma dor de cabeça persistente que ganhava força, Jonathan se despediu de Samuel e partiu.

Naquela noite foi difícil conciliar o sono. Na manhã seguinte correu com a moça, contudo, tendo Mason entre eles a monopolizar a conversa. Não trocaram mais do que dez palavras, frustrando assim o desejo do padre de esclarecer algumas dúvidas levantadas após a conversa com o dono da casa de iscas.

Na esperança de vê-la à noite, vagou pela praça até encontrar alguém para conversar e esperar. Por volta das sete horas, como na noite anterior, a pick up surgiu, seguida pelo Windstar. Após as duas buzinadas, separaram-se. A ansiedade da vigília se transformou em despeito.

De nada adiantava esperar quando tudo que via era dois carros, não a ela. Faith não tinha tempo para procurá-lo, somente para seu amigo de infância. Assim como Samuel, a moça negara qualquer envolvimento, mas naquela noite Jonathan acreditou que mantinham um caso secreto. Nem ao menos conseguiu dormir.

Na quinta-feira pela manhã encontrou-a quando já estava de saída, com o irmão. Jonathan chegou à casa com o humor pior que o do padrinho. Os diálogos eram breves, educados e só. Irritava-o ter de ouvir confissões, aconselhar ou ter que olhar para alguém que não fosse ela.

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⏰ Última atualização: Jul 16, 2015 ⏰

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