Capítulo 1

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— Nossa, essa lasanha tá uma bosta.

Ícaro se levantoue da mesa sob o olhar reprovador de sua mãe e foi preparar um sanduíche. Raul tentou impedir Lorena de dizer alguma coisa, mas foi em vão. Quando deu por si, ela já havia se levantado também e ido até o filho, a fim de fechar a geladeira de onde ele tirava uma porção de presunto e mussarela.

— Você vai voltar para aquela mesa e comer a lasanha que o Raul fez.

— Eu não! Tá horrível.

— Eu não te perguntei se está bom ou se está ruim. Eu mandei você voltar para aquela mesa e comer do que todo mundo está comendo. Você não é melhor que ninguém para querer comer alguma coisa diferente.

O garoto deu de ombros e murmurou com desprezo:

— Eu como o que eu quiser.

— Não, senhor. Você come o que eu mandar você comer. Então vai sentar naquela bendita mesa antes que eu perca o pouco de paciência que me resta.

Ícaro sustentou o olhar sobre a mãe por alguns instantes, disposto a desafiá-la. Mas, por fim, bufou e voltou à mesa, emburrado.

— Que saco!

— Se ele não quiser da lasanha, eu posso fazer outra coisa pra ele...

— Não, amor. Você não precisa fazer nada. Ele vai comer o que tem.

Lorena também voltou à mesa e empurrou o prato para o filho, mas o clima ruim já havia se instalado.

— Eu não vou comer essa porcaria.

— Então vai para o seu quarto.

Lorena saltou da cadeira e puxou Ícaro pelo braço, tentando fazê-lo se levantar também, mas não conseguiu. O garoto resistiu e, cruzando os braços, murmurou com revolta:

— Eu não vou pra lugar nenhum.

— Ícaro, pelo amor de Deus, não me provoca, porque eu não tô com paciência e, se você continuar enchendo o meu saco, eu juro...

Bruscamente, o garoto se levantou e saiu da sala de jantar a passos largos. A mesa, onde estavam sentados, balançou tão forte que os copos sobre ela tombaram, inundando a superfície de madeira maciça com suco.

Na tentativa de conter a impaciência, Lorena fechou os olhos e respirou fundo, enquanto recapitulava o passado, em busca das falhas cometidas na criação do filho. Quando abriu os olhos novamente, viu Raul se levantar e ir até a lavanderia, de onde voltou com um pano.

— Papai, eu quero mais.

Beatriz estendeu o prato vazio a Raul que enxugava a mesa.

— Espere aí, princesa. Eu já vou colocar pra você.

— Dá aqui. Eu coloco.

Lorena pediu o prato à filha, que entregou-lhe prontamente.

Quase no mesmo instante, Ícaro reapareceu na sala de jantar e cuspiu as palavras:

— Eu quero ir morar com o meu pai.

— Você o quê?

Lorena virou-se sem acreditar no que havia acabado de escutar.

O garoto olhou de relance para Raul, que continuava a limpar a mesa, como se não estivesse prestando atenção na discussão, e repetiu:

— Eu quero morar com o meu pai, porque eu odeio essa casa.

Instintivamente, Lorena riu, sentindo a animosidade crescer.

— E você acha mesmo que o seu pai te quer?

Amor de Pai - Em AndamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora