— Nossa, essa lasanha tá uma bosta.
Ícaro se levantoue da mesa sob o olhar reprovador de sua mãe e foi preparar um sanduíche. Raul tentou impedir Lorena de dizer alguma coisa, mas foi em vão. Quando deu por si, ela já havia se levantado também e ido até o filho, a fim de fechar a geladeira de onde ele tirava uma porção de presunto e mussarela.
— Você vai voltar para aquela mesa e comer a lasanha que o Raul fez.
— Eu não! Tá horrível.
— Eu não te perguntei se está bom ou se está ruim. Eu mandei você voltar para aquela mesa e comer do que todo mundo está comendo. Você não é melhor que ninguém para querer comer alguma coisa diferente.
O garoto deu de ombros e murmurou com desprezo:
— Eu como o que eu quiser.
— Não, senhor. Você come o que eu mandar você comer. Então vai sentar naquela bendita mesa antes que eu perca o pouco de paciência que me resta.
Ícaro sustentou o olhar sobre a mãe por alguns instantes, disposto a desafiá-la. Mas, por fim, bufou e voltou à mesa, emburrado.
— Que saco!
— Se ele não quiser da lasanha, eu posso fazer outra coisa pra ele...
— Não, amor. Você não precisa fazer nada. Ele vai comer o que tem.
Lorena também voltou à mesa e empurrou o prato para o filho, mas o clima ruim já havia se instalado.
— Eu não vou comer essa porcaria.
— Então vai para o seu quarto.
Lorena saltou da cadeira e puxou Ícaro pelo braço, tentando fazê-lo se levantar também, mas não conseguiu. O garoto resistiu e, cruzando os braços, murmurou com revolta:
— Eu não vou pra lugar nenhum.
— Ícaro, pelo amor de Deus, não me provoca, porque eu não tô com paciência e, se você continuar enchendo o meu saco, eu juro...
Bruscamente, o garoto se levantou e saiu da sala de jantar a passos largos. A mesa, onde estavam sentados, balançou tão forte que os copos sobre ela tombaram, inundando a superfície de madeira maciça com suco.
Na tentativa de conter a impaciência, Lorena fechou os olhos e respirou fundo, enquanto recapitulava o passado, em busca das falhas cometidas na criação do filho. Quando abriu os olhos novamente, viu Raul se levantar e ir até a lavanderia, de onde voltou com um pano.
— Papai, eu quero mais.
Beatriz estendeu o prato vazio a Raul que enxugava a mesa.
— Espere aí, princesa. Eu já vou colocar pra você.
— Dá aqui. Eu coloco.
Lorena pediu o prato à filha, que entregou-lhe prontamente.
Quase no mesmo instante, Ícaro reapareceu na sala de jantar e cuspiu as palavras:
— Eu quero ir morar com o meu pai.
— Você o quê?
Lorena virou-se sem acreditar no que havia acabado de escutar.
O garoto olhou de relance para Raul, que continuava a limpar a mesa, como se não estivesse prestando atenção na discussão, e repetiu:
— Eu quero morar com o meu pai, porque eu odeio essa casa.
Instintivamente, Lorena riu, sentindo a animosidade crescer.
— E você acha mesmo que o seu pai te quer?
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Amor de Pai - Em Andamento
Spiritual[O MALABARISTA - PARTE 2] Raul deixou para trás a vida nas ruas e, agora, tem um lar para chamar de seu - um lar onde encontra as pessoas que mais ama. Enquanto seus sonhos começam a tomar forma, ele descobre que o caminho para realizá-los é cheio...