Capítulo 7

526 53 17
                                    

Lorena despertou lentamente, incomodada com a claridade do quarto. Mas quando se deu conta que já era de manhã, espantou o que restava do sono e virou-se na cama apressadamente, ansiosa por ver Raul, a fim de contar a ele sobre o sonho que havia tido. Porém, encontrou o outro lado da cama vazio.

— Raul — chamou-o enquanto se levantava e ia até o banheiro, mas lá também não havia ninguém.

Estranhou, pois era sábado e, aos sábados, ele nunca saía da cama antes das sete e ainda não passava das seis e meia da manhã.

Em todo caso, mesmo confusa, lavou o rosto e escovou os dentes, antes de sair do quarto e ir rumo ao quarto de Ícaro. Havia sonhado com ele, um sonho terrível, e apenas queria certificar-se de que tudo não havia passado de um sonho, ou melhor, um pesadelo.

Mas sentiu outra pontada de estranheza quando abriu a porta do quarto do filho e encontrou a cama vazia. Mais estranheza ainda sentiu quando viu seu pai se aproximar pelo corredor.

— Pai? O que o senhor está fazendo aqui?

O semblante de Cícero a fez desconfiar de que, talvez, não houvesse sido apenas um pesadelo, mas não quis acreditar a princípio.

— Aconteceu alguma coisa?

— Filha…

Ela olhou de relance para o quarto e observou a cama vazia outra vez, antes de voltar-se para o pai com um sorriso aflito.

— Eu sonhei, né?

O sorriso dela se fechou imediatamente, dando lugar ao mais puro desespero.

— Fala pra mim que eu sonhei, pai, por favor.

Mas, ao contrário do que ela esperava, Cícero apenas se aproximou melhor dela e a abraçou.

Por um instante, Lorena se deixou ser abraçada, enquanto processava a realidade inevitável, mas quando começou a cair em si, desvencilhou-se dos braços do pai e o empurrou com força, esbravejando:

— Não, você está enganado!

Lorena não deu tempo ao pai e foi na direção da escada, descendo para o primeiro andar praticamente correndo. Mas desacelerou os passos quando encontrou a sala cheia de parentes e amigos, alguns, inclusive que ela não via há tempos.

— O que é isso aqui?

No meio de toda aquela gente, ela viu sua mãe se aproximar e abraçá-la, mas ela recusou o abraço mais uma vez, terminando de descer as escadas, agora praticamente furiosa.

— O que esse povo todo tá fazendo aqui, mãe?

— Todos ficaram sabendo do que aconteceu, Lori, e quiseram vir te dar uma força.

— Eu não preciso de ninguém me dando força.

— Mas, minha filha…

— Como que a senhora enche minha casa de gente assim?

— Mas não fui eu, Lori. Quando elas ficaram sabendo…

— Sabendo do quê? Não aconteceu nada aqui pra elas ficarem sabendo. Agora a senhora se vira para mandar esse povo embora.

Lorena deu as costas à mãe e saiu apressadamente da sala, ignorando todo mundo que tentava confortá-la e tomando o rumo da escada mais uma vez, agora para isolar-se em seu quarto.

🦋

Raul desviou o olhar quando ergueram o caixão e o colocaram dentro do carro funerário. Quase no mesmo instante, sentiu o celular vibrando no bolso e o apanhou, vendo que Luís estava ligando.

Amor de Pai - Em AndamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora