Lorena despertou lentamente, incomodada com a claridade do quarto. Mas quando se deu conta que já era de manhã, espantou o que restava do sono e virou-se na cama apressadamente, ansiosa por ver Raul, a fim de contar a ele sobre o sonho que havia tido. Porém, encontrou o outro lado da cama vazio.
— Raul — chamou-o enquanto se levantava e ia até o banheiro, mas lá também não havia ninguém.
Estranhou, pois era sábado e, aos sábados, ele nunca saía da cama antes das sete e ainda não passava das seis e meia da manhã.
Em todo caso, mesmo confusa, lavou o rosto e escovou os dentes, antes de sair do quarto e ir rumo ao quarto de Ícaro. Havia sonhado com ele, um sonho terrível, e apenas queria certificar-se de que tudo não havia passado de um sonho, ou melhor, um pesadelo.
Mas sentiu outra pontada de estranheza quando abriu a porta do quarto do filho e encontrou a cama vazia. Mais estranheza ainda sentiu quando viu seu pai se aproximar pelo corredor.
— Pai? O que o senhor está fazendo aqui?
O semblante de Cícero a fez desconfiar de que, talvez, não houvesse sido apenas um pesadelo, mas não quis acreditar a princípio.
— Aconteceu alguma coisa?
— Filha…
Ela olhou de relance para o quarto e observou a cama vazia outra vez, antes de voltar-se para o pai com um sorriso aflito.
— Eu sonhei, né?
O sorriso dela se fechou imediatamente, dando lugar ao mais puro desespero.
— Fala pra mim que eu sonhei, pai, por favor.
Mas, ao contrário do que ela esperava, Cícero apenas se aproximou melhor dela e a abraçou.
Por um instante, Lorena se deixou ser abraçada, enquanto processava a realidade inevitável, mas quando começou a cair em si, desvencilhou-se dos braços do pai e o empurrou com força, esbravejando:
— Não, você está enganado!
Lorena não deu tempo ao pai e foi na direção da escada, descendo para o primeiro andar praticamente correndo. Mas desacelerou os passos quando encontrou a sala cheia de parentes e amigos, alguns, inclusive que ela não via há tempos.
— O que é isso aqui?
No meio de toda aquela gente, ela viu sua mãe se aproximar e abraçá-la, mas ela recusou o abraço mais uma vez, terminando de descer as escadas, agora praticamente furiosa.
— O que esse povo todo tá fazendo aqui, mãe?
— Todos ficaram sabendo do que aconteceu, Lori, e quiseram vir te dar uma força.
— Eu não preciso de ninguém me dando força.
— Mas, minha filha…
— Como que a senhora enche minha casa de gente assim?
— Mas não fui eu, Lori. Quando elas ficaram sabendo…
— Sabendo do quê? Não aconteceu nada aqui pra elas ficarem sabendo. Agora a senhora se vira para mandar esse povo embora.
Lorena deu as costas à mãe e saiu apressadamente da sala, ignorando todo mundo que tentava confortá-la e tomando o rumo da escada mais uma vez, agora para isolar-se em seu quarto.
🦋
Raul desviou o olhar quando ergueram o caixão e o colocaram dentro do carro funerário. Quase no mesmo instante, sentiu o celular vibrando no bolso e o apanhou, vendo que Luís estava ligando.
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Amor de Pai - Em Andamento
Spirituale[O MALABARISTA - PARTE 2] Raul deixou para trás a vida nas ruas e, agora, tem um lar para chamar de seu - um lar onde encontra as pessoas que mais ama. Enquanto seus sonhos começam a tomar forma, ele descobre que o caminho para realizá-los é cheio...